A presidente afastada Dilma Rousseff divulgou nesta terça-feira (16), no Palácio da Alvorada, uma carta batizada de "Mensagem ao Senado e ao povo brasileiro" na qual ela diz ter acolhido com "humildade" críticas duras que ouviu nos últimos meses a erros cometidos e a políticas que não foram adotadas pelo seu governo. Na mensagem, ela também propõe a realização de um plebiscito para consultar o eleitorado sobre uma eventual antecipação das eleições presidenciais de 2018.
O manifesto de quatro páginas foi apresentado pela própria Dilma em uma entrevista coletiva realizada na residência oficial da Presidência da República e transmitida na página da petista no Facebook.
O principal objetivo da mensagem é tentar obter o apoio, no julgamento final do processo impeachment, de senadores que ainda estão indecisos. Ela começará a ser julgada no Senado em 25 de agosto. Dilma não esclareceu no texto quando seria realizado o plebiscito e nem se ela apoiaria a consulta caso o Senado confirme seu afastamento da Presidência.
"Na jornada para me defender do impeachment me aproximei mais do povo, tive oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a medidas e políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com humildade e determinação para que possamos construir um novo caminho", diz trecho da carta.
""Todos sabemos que há um impasse gerado pelo esgotamento do sistema político, seja pelo número excessivo de partidos, seja pelas práticas políticas questionáveis, a exigir uma profunda transformação nas regras vigentes. Estou convencida da necessidade e darei meu apoio irrestrito à convocação de um plebiscito, com o objetivo de consultar a população sobre a realização antecipada de eleições", escreveu a petista em outro trecho do manifesto.
Mais cedo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou em uma entrevista coletiva que fazer um plebiscito para consultar a opinião do eleitorado sobre eventual antecipação das eleições presidenciais "não é bom" para o país.
Em abril, no entanto, Renan havia afirmado a jornalistas que via "com bons olhos" a possibilidade de antecipar a eleição presidencial. Na ocasião, Dilma ainda não havia sido afastada temporariamente do comando do Palácio do Planalto por decisão do Senado, e Renan demonstrava ambiguidade em suas manifestações em relação ao impeachment.
'Golpe de estado' Ao longo do documento, Dilma reafirmou que há provas irrefutáveis que provam a sua inocência da acusação de crime de responsabilidade, destacou que a Constituição não prevê afastamento por "desconfiança" e ressaltou que, caso ela seja impedida de continuar seu mandato isso, na opinião dela, caracterizará um "golpe de estado". "Quem afasta o presidente pelo "conjunto da obra" é o povo e, só o povo, nas eleições. Por isso, afirmamos que, se consumado o impeachment sem crime de responsabilidade, teríamos um golpe de estado. O colégio eleitoral de 110 milhões de eleitores seria substituído, sem a devida sustentação constitucional, por um colégio eleitoral de 81 senadores. Seria um inequívoco golpe seguido de eleição indireta", enfatizou.
No encerramento da carta, a petista fez um apelo aos senadores para que não cometam o que ela classificou de uma "injustiça" ao condenar uma inocente.
A petista também comparou a atual situação política do país com o tempo em que foi presa pelo regime militar na década de 1970. Segundo a presidente afastada, ela teve que resistir "ao cárcere e à tortura", mas não gostaria de ter que resistir "à fraude e a mais infame injustiça".
"O que peço aos senadores e senadoras é que não se façam a injustiça de me condenar por um crime que não cometi. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente. A vida me ensinou o sentido mais profundo da esperança. Resisti ao cárcere e à tortura. Gostaria de não ter que resistir à fraude e à mais infame injustiça", declarou na mensagem dirigida ao Senado.
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