ARTIGO

A pandemia e o pandemônio

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Que a pandemia do vírus chinês é grave, não há dúvidas. Mas parece que, enquanto o vírus faz a pandemia, o ser humano faz o pandemônio. Vamos aos fatos.

Tivemos recentemente um período de campanhas políticas, com aglomerações aqui e acolá, ocasionando o respectivo aumento de casos de infecção da COVID-19, como não poderia ser diferente. Mesmo assim, durante as campanhas, as notícias televisivas estranhamente deixaram de alardear a evolução do vírus no Brasil, limitando-se a falar apenas da tal segunda onda em outros países. Aqui parecia que tudo estava mais ou menos normalizado, inclusive com o afrouxamento geral das restrições por parte dos governos e municípios. Os políticos não mais falavam de coronavírus. A doença tirou uma folga no período eleitoral? Eleições encerradas e (coincidentemente?) temos decretado um novo pico de contágio, com "lockdowns" (fechamento total do comércio?) e outras restrições novamente sendo colocadas em debate. Realmente, diante dessas e outras incoerências, as decisões políticas e a grande mídia só ficam cada vez mais desacreditadas.

De outro lado, parte da população também está contribuindo para o pandemônio, promovendo aglomerações clandestinas, baladas, festas, eventos, perambulando para lá e para cá sem nenhuma necessidade e sem nenhum tipo de medida preventiva. A impressão que me passa é a de que todos saíram de um extremo para outro: antes, exageradamente preocupados e temerosos; hoje, excessivamente inconsequentes. Despreocuparam-se de qualquer risco e, provavelmente, revoltaram-se por ficarem tanto tempo trancafiados em suas casas, sentindo-se enganados, precisando agora ir a desforra e extravasar o máximo possível. Explica, mas não justifica.

Sabemos que o povo brasileiro é um povo alegre e festivo, faz parte da nossa cultura o abraço, o calor humano, o ajuntamento de pessoas. Sempre ouvi falar, por exemplo, que festa boa é festa cheia de gente. Quanta mais aglomerada, melhor a festa. Quando ninguém consegue andar direito e todos se espremem na boate, aí sim, a balada está "bombando", dizem. Talvez algumas pessoas devam estar numa espécie de "abstinência aglomerativa". Brasileiro gosta de "muvuca". É tanto ajuntamento que muitos, talvez, nem gostem mesmo de ficar no próprio lar, na própria companhia, ou apenas em torno de um pequeno e seleto grupo de familiares e amigos mais próximos. Sem querer fazer julgamentos, cada um que leve a vida como achar melhor. Mas será que, pelo menos por um tempo, não dá para pegar mais leve? Tudo neste país tem que ser sempre um grande carnaval? 

Se os políticos estão em descrédito (para variar) e parte da população está incontrolável e enlouquecida (o que também não é novidade), mais necessário ainda se faz uma postura de bom senso. Como dizem, o caminho do meio é quase sempre o mais acertado. A pandemia é grave sim, devendo ser considerada na nossa rotina, mas a vida tem que continuar, com todos os cuidados possíveis (máscara, álcool, distanciamento etc), mas também com o máximo de otimismo possível. Pesquisando sobre as possibilidades existentes de tratamento, podemos confirmar que, mesmo ainda sem a vacina, a ciência médica já evoluiu em algum controle da doença, apesar de continuar sendo recomendável e necessário seguirmos todas as medidas preventivas, ou seja, o ideal é ainda evitar pegar a doença, claro. Mas, em caso de contaminação, se ela for identificada, monitorada e tratada logo no seu início, as chances de uma recuperação bem sucedida são muito grandes. 

Segundo o Dr. Paulo Porto, neurocirurgião, apesar do vírus ser temeroso por sua capacidade de causar até mesmo problemas neuronais, o quadro é reversível: "Nós, médicos brasileiros, sabemos tratar a doença. Temos tratamentos para as fases precoce, intermediária e avançada. Até 1/3 dos pacientes infectados pela COVID-19 terão sintomas neurológicos, sendo eles, por exemplo, dores de cabeça, alterações no olfato ou paladar, dores musculares, ou seja, sintomas totalmente reversíveis. No entanto, a possibilidade de alguns pacientes desenvolverem, por exemplo, um Acidente Vascular Cerebral (AVC), não é excluída. A gravidade do sintoma neurológico acompanha a gravidade do quadro de COVID-19 e isso ressalta a importância do diagnóstico precoce”.

Juntamente com o Dr Paulo, há uma grande comunidade de médicos, que trabalham na linha de frente com grande sucesso no tratamento de milhares de pessoas infectadas, as quais foram diagnosticadas, medicadas e curadas, mas por que isso não é divulgado na grande imprensa? Se estamos em uma situação crítica, por que o tratamento precoce ainda não é considerado uma tentativa válida, por que ele ainda não é mais amplamente utilizado, sobretudo no sistema público de saúde? Por que ainda fico sabendo de pessoas infectadas que procuraram os postos e hospitais públicos e foram mandadas para a casa, sem nenhum tipo de monitoramento ou tratamento? Se cientistas e médicos renomados estão confirmando clinicamente um tratamento inicial, por que ainda a resistência em utilizá-lo? Não é verdade que o respirador é a única alternativa, mas sim, a última alternativa, pois ele não é garantia de salvação, mas apenas uma tentativa final!

Vale ressaltar, mais uma vez, não estamos aqui dizendo que a doença é tranquila de ser tratada ou que a cura por remédios está 100% comprovada, ao contrário, ninguém está minimizando a gravidade da pandemia e a necessidade de adoção de medidas higiênicas e sanitárias preventivas, mas por que não trazer nas políticas públicas e nas notícias algumas luzes de esperança, proporcionando mais alternativas de solução para o problema? Por que só falar de mortes, de fechamentos, de isolamentos, por que não investigar também como muitas vidas estão sendo salvas? Desta forma, não é difícil chegar a conclusão que parte da mídia também tem a sua culpa no pandemônio que foi criado, muitas vezes produzindo um pânico generalizado, devendo, portanto, ter mais responsabilidade na transmissão das notícias com vistas ao bom enfrentamento da doença, considerando também a necessidade de preservação da saúde mental das pessoas, que vem se agravando desde o começo da pandemia.

São milhares que estão dominados pelo medo e pela ansiedade. A "coronofobia" é o termo que está sendo utilizado para as pessoas que estão com "o medo, a preocupação e a ansiedade de contrair o COVID-19, referindo-se também ao impacto psicológico e aos prejuízos funcionais provocados nas pessoas por esta doença", explica a psiquiatra, Paula Benevenuto Hartmann. "Os quadros associados são de pânico e ansiedade generalizada, depressão, angústia, comportamentos obsessivos, acumulação, paranóia, reações de evitação, sensação de desesperança, ideação suicida e atos consumados de suicídio. Como consequência é possível observar o impacto sobre a procura por tratamentos psiquiátricos e o aumento da prescrição de psicofármacos." Então, muita calma nessa hora! Respira fundo, que não é o fim do mundo, nem perto disso. Foco na esperança! Vida que segue!

Não devemos esquecer, por fim, a origem da pandemia e do pandemônio: China. Segundo o jornalista investigativo, Bruno Garattoni, da revista Super Interessante, "durante o mês de janeiro, o governo chinês omitiu informações cruciais para o combate à pandemia de Sars-CoV-2, como o código genético do vírus, os números de infectados e mortos em Wuhan, e o fato de que o vírus pode ser transmitido entre pessoas. Essas são algumas das revelações de uma longa reportagem da agência Associated Press – a mais tradicional do mundo, fundada em 1846 e com jornalistas em 106 países." Vale lembrar que o COVID-19 é também conhecido como o "novo coronavírus", ou seja, ele já existia, mas surgiu uma nova versão em 2019, com uma gravidade maior. E se ano que vem surgir o COVID-21? A doença, semelhante ao SARS, marchou implacavelmente para fora da cidade de Wuhan, diante da omissão das autoridades chinesas, infectando e matando pessoas no mundo todo, para só tardiamente ser considerada a grave pandemia que é hoje. Silenciaram médicos e outros profissionais por levantarem bandeiras vermelhas. Minimizaram os perigos para o público, deixando os milhões de habitantes da cidade inconscientes de que deveriam se proteger. Poderiam ter tomado providências no início e, talvez, evitado a pandemia, mas permitiram que o vírus se espalhasse e ganhasse o planeta. 

É preciso fazer essas considerações, ainda que desconfortáveis, não para nos revoltarmos, mas para que nós, políticos, autoridades, jornalistas e cidadãos, possamos aprender com os erros cometidos em toda essa situação que foi gerada pela natureza (ou por nós mesmos?) para, quem sabe, evitarmos nova pandemia -ou pandemônio- futuros. O mínimo que se espera é que possamos sair de toda essa crise (que, mais cedo ou mais tarde, vai passar) um pouco mais maduros e conscientes dos nossos deveres e responsabilidades. Quando tudo é muito confuso, entre verdades e mentiras, entre a pandemia e o pandemônio, fiquemos com o caminho do meio, do equilíbrio, do bom senso, da serenidade, fazendo a nossa parte, com fé, coragem, cautela, vigilância e confiança, seguindo em frente, sempre!

*O autor é especialista em Direito Público

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