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ALÉM DOS OLHOS - A nós, o nosso. Ao outro, o dele

Não é fácil, mas quando a gente consegue enxergar o mundo sem tropeçar em preconceitos, acaba encontrando valor até onde se menos espera que o valor esteja. Dia desses, liguei a televisão bem na hora em que a reprise de uma novela era exibida. A grande vilã da trama, responsável por assassinatos e ações que prejudicavam os demais personagens, olhava para o espelho e enaltecia a própria inteligência, a própria beleza. Isso foi suficiente para despertar em mim uma profunda reflexão. Ela sabia como poucos alimentar a autoestima. Estou querendo provocar em você o mesmo pensamento que eu tive, ou seja, que mesmo as pessoas "más" podem nos ensinar, na ficção e na realidade com atitudes que também precisamos exercitar. Poderia dar o mesmo exemplo usando a cena da Rainha Má da "Branca de Neve".

Ela vê a beleza refletida e pergunta: Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? É claro que todo exagero é nocivo. Não somos e não devemos achar que somos os mais bonitos do mundo e nem prejudicar terceiros para manter a nossa autonomia, mas, precisamos sim, ser capazes de reconhecer os nossos próprios valores. Temos defeitos, mas estamos repletos de qualidades. Temos a nossa própria beleza, a nossa inteligência, a nossa forma de sentir afeto, o nosso olhar para o mundo.

É justamente quando somos capazes de reconhecer os valores que existem em nós, que conseguimos manter um equilíbrio maior em relação ao ambiente que nos circunda. Nos tornamos, como consequência, menos suscetíveis ao desequilíbrio do outro. Vou dar um exemplo corriqueiro: Você está num dia bom, com um sorriso no rosto, desenvolvendo suas atividades em paz. Aí, vem alguém com uma sintonia diferente da sua e começa a reclamar de tudo, falar mal das pessoas, ou até mesmo de você, direta ou indiretamente.

Quando você consegue entender melhor o seu processo de funcionamento, reconhecer seus defeitos e qualidades, é capaz de se blindar em relação ao desequilíbrio externo. Paradoxalmente, se o seu "estar bem" é apenas superficial, vai acabar facilmente embarcando na energia ruim do outro. É claro, que eventualmente você vai se sentir mais ou menos vulnerável, mas a vulnerabilidade não pode ser a regra. Se podemos ser influenciados pela energia dos que estão encarnados, não seríamos também pelos desencarnados? Seríamos, sim, e muito. O Livro dos Espíritos dedica uma série de questões para tratar do assunto. Vale a pena a leitura. Na questão 466, a indagação é por que permite Deus que os espíritos nos incitem ao mal? E vem a resposta: "Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito, e é por isso que passas pelas provas do mal para chegar ao bem. Nossa missão é a de colocar-te no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, és tu que as chamas..."

Por isso, é tão importante que sejamos capazes de nos manter equilibrados. Precisamos conseguir tirar lições positivas até mesmo onde impera o negativo. Se uma pessoa encarnada chega distribuindo chispas de ódio pelo mundo, se volte para dentro. Trabalhe sua mente, seu espírito, tente não corresponder com a mesma energia. O mesmo vale quando pensamentos menos nobres surgem dentro de nós. Somos influenciados o tempo todo pelo mundo visível e invisível. É importante que tentemos neutralizar o que sabemos que não nos é saudável.

E aí, pra terminar esse artigo, eu volto a tratar da reflexão que propus no início, a de que mesmo os vilões da história podem ser exímios mestres. Eles costumam ter grande capacidade persuasiva e como não foram capazes de direcionar suas tendências, sucumbem ao erro. Eles nos ensinam muito e não são só personagens de novelas e histórias infantis. Estão na nossa vida o tempo todo. Aprenda com eles. Mesmo que seja pra chegar a conclusão de que eles são o que você não quer ser. Veja sua beleza integral, fique bem com você, mas use seus atributos em benefício da sua evolução. É fácil? Que nada...mas sempre é tempo de começar, ou recomeçar...

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