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As feras que ainda habitam em nós

Ao verificarmos os avanços nos mais variados campos do conhecimento humano, concluímos que tudo não foi suficiente para transformarmos o mundo em um mundo de paz. Tantas descobertas não foram suficientes para lidarmos com as forças da nossa natureza íntima. Não foram suficientes para vir à tona todos os valores da nossa própria alma. O homem se vê tão provido de conhecimentos e de valores, mas por outro lado, percebemos que existe uma grande carência moral. Metaforicamente podemos dizer que o homem trilha ao mesmo tempo entre as feras e os deuses. É o que dirá Plotino, um filósofo que viveu 270 anos depois de Cristo: "A humanidade equilibra-se a meio caminho entre os deuses e as feras". Se por um lado fazemos grandes descobertas científicas, por outro lado, acompanhamos através de noticiários, as feras que ainda habitam em nós.

A violência campeia em nossos dias, em nossas cidades, em nosso país, em nosso mundo. Neste caso, chegamos a conclusão que devemos, ainda domar as feras que moram em nosso mundo íntimo. Ainda temos muito que avançar na escala evolutiva. No entanto, não sabemos ao certo domar essas feras que dominam nossos instintos. Mesmo assim, sabemos que não devemos nos deter no estado atual que nos encontramos, temos que seguir adiante.

O nosso destino é mais elevado do que podemos supor e quando sintonizamos com os ensinamentos da Doutrina Espírita fica muito mais fácil compreendermos, porque nada obstante que tenhamos vindo das feras, nas mais diversas eras, temos um destino de luz para cumprir.

Somos ainda egocêntricos, o que pode ser resumido da seguinte forma: PRIMEIRO EU, DEPOIS EU TAMBÉM, DEPOIS OS MEUS, e se sobrar alguma coisa AINDA VOU LUTAR PARA QUE SEJA MEU!.Tudo para satisfazer o meu EGO, pois esse ser primitivo ainda não tem a noção da solidariedade!

É certo que já conseguimos um avanço enorme, mas ainda há muito a avançar contra esse egocentrismo que domina nossa essência interior. Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, tem uma frase muito interessante. Ele diz o seguinte: "Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro".

Psicologicamente, ainda somos presos a esses pensamentos egocêntricos, pois não damos um passo além da nossa própria estrutura. Não olhamos ao redor para perceber que existe um movimento coletivo que devemos estar atentos, caso contrário, é o que vemos atualmente, as guerras entre as nações. Países que se bombardeiam levando apenas em consideração o poder econômico. Que nome daríamos a essa atitude se não fosse o egocentrismo?

Evoluímos, mas continuamos caminhando. Criamos a medicina para diminuir nossas dores, nossos males, mas o homem continua doente. Mesmo que ele investigue as doenças, novas doenças surgirão. Esse homem que detém a mais alta tecnologia ainda não consegue dominar a natureza. Hoje vemos nações poderosas sob o julgo da natureza feroz, como os tsunamis, vulcões ou terremotos.

Devemos respeitar e entender esse processo da natureza e aproveitar essas catástrofes para nos questionamos internamente: aonde eu sou invadido por uma grande onda? Em que local do meu íntimo essa onda ainda me afoga? Onde meus instintos e minhas emoções sacodem como um terremoto? Para onde eu devo avançar além do pensamento arcaico, que me faz permanecer estagnado?

A maioria de nós "leva a vida do jeito que Deus quer", adotando uma linguagem popular, ou seja, sem uma maior consciência, mas que permanece "dormindo", sem refletir em torno do Ser que habita em sua essência. Muitas pessoas passam uma vida inteira "dormindo", só acordam depois que desencarnam, mas daí já é tarde.

O homem atual, Joanna de Ângelis chama de homo noéticos, que será aquele que administrará e perceberá em maior profundidade os arcanos do próprio universo porque conhecerá mais a sí mesmo. Não há como fugir do processo de autoconhecimento. Se desejamos caminhar numa escala evolutiva temos que nos conhecer, conhecer nossos defeitos, nossas sombras, nossos medos, nossos automatismos. Ela diz que temos que nos observar e aprender com nossos erros, nossas dores, desapontamentos e frustrações e, assim, criarmos pensamento lógico. Diante de qualquer frustração do nosso Ego devemos parar e perguntar: Qual é a atitude que meu Eu Superior irá tomar neste instante? Será que preciso sofrer por isso? Será que devo gastar minhas energias por causa dessa dor?

Estamos no meio do caminho "entre as feras e os deuses". Podemos nos questionar: Qual é o tipo de comportamento que podemos escolher hoje? Podemos permanecer com as feras que nos habitam, com o lobo interior que nos faz tomar decisões precipitadas, impulsivas, violentas ou seguir na escala evolutiva? Devemos nos questionar a respeito de nossos avanços, não somente os avanços do Ego e as conquistas de fora, mas se temos avançado na escala moral da vida. Recentemente, ao fazer esse curso que integra a Série Psicológica de Joanna de Angelis, o expositor-terapeuta Cláudio Sinoti se questionou a respeito do homem primitivo que ainda domina seu Ser interior, ao relatar suas impressões. Eu também lembrei de um fato que me ocorreu há poucas semanas e que me deixou furiosa.

Sim, coisas corriqueiras do dia-a-dia, mas que de certa forma me tirou do eixo. Daí pensei: A raiva é um sentimento que todo ser encarnado tem e eu também tenho o direito de ter! Mas pensei também que de certa forma ainda guardo resquícios do ser das cavernas, daquela mulher antiga, primata. Ela faz parte da minha herança psicológica, guardada nos porões do meu inconsciente e que de vez em quando reaparece dominando o meu Ego, o meu ser consciente.

E me questionei de novo: E onde está o anjo que habita em mim para domar essa fera? É preciso transformar as minhas energias que se encontram neste caos primitivo e colocá-las a serviço do conhecimento interior para que um dia venha compreender os grandes arcanos do universo! (Artigo inspirado no curso sobre Evolução da Consciência, da Série Psicológica de Joanna de Ângelis)

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