Muito antes da existência das máquinas de fMRI, sigla em inglês para ressonância magnética funcional, os cientistas se valiam de uma ferramenta singularmente poderosa para entender a conexão entre mente e corpo: a hipnose, prática que inspirou desde cientistas a vendedores de óleo de cobra por séculos, até cair na descrença. Mas até hoje pouco se sabe sobre o assunto, que recentemente voltou a despertar a atenção do mundo acadêmico.
Mais de um cientista tentou pensar na hipnose em termos de efeito placebo, já que as duas técnicas utilizam processos cerebrais complexos, baseados em expectativas que não são completamente compreendidas. Mas enquanto nos últimos anos o efeito placebo passou a se aproximar da aceitação, a hipnose ainda enfrenta grandes barreiras e parece ter um caminho mais longo pela frente.
Em trabalho recente, os professores especialistas em hipnose David R. Patterson e Mark P. Jensen, da Universidade de Washington, fizeram consideráveis avanços examinando os fundamentos neurais de um transe hipnótico. Jensen usou eletroencefalografia, ou EEG, que mede a eletricidade no cérebro.
Os professores explicam que nossos neurônios individuais estão constantemente gerando pulsos elétricos, da mesma forma como eles transmitem informações do corpo para o cérebro e em torno do próprio cérebro. Ocasionalmente, grandes grupos de neurônios irão coordenar esses pulsos em uma espécie de padrão rítmico.
Em ritmo desacelerado
Quando os cientistas analisaram vários pontos diferentes do cérebro, uma imagem neurológica da hipnose começou a surgir. De acordo com o estudo, na meditação, momento em que muitas partes do cérebro participam, a atividade é mensuravelmente mais lenta do que durante atividades cotidianas. E durante a hipnose o cérebro torna-se ainda mais lento, de forma que a única maneira de obter ritmos cerebrais ainda mais lentos seria durante o estado de coma.
De acordo com a Scientific American Magazine, no cérebro humano as ondas alfa (que pulsam de 8 a 12 hertz, ou 8 a 12 vezes por segundo) prevalecem quando estamos relaxados ou fechando os olhos. As theta (de 4 a 8 hertz) geralmente surgem quando estamos sonolentos ou perdidos em pensamentos, e ondas delta (0 a 4 hertz) quando estamos dormindo ou em coma.
O trabalho de Jensen sugere que as ondas theta e alfa podem ser fundamentais para o alívio da dor. Durante as atividades diárias, por exemplo, o cérebro geralmente usa as ondas beta e gama muito mais rápidas (até 100 pulsos por segundo), próximas de quando estamos com dor, ansiosos ou estressados. Com isso, se a hipnose pode desencadear ondas cerebrais mais lentas, essas ondas podem substituir os padrões mais rápidos e assim substituir a percepção da dor.
Esse foi o pensamento que levou Jensen a um estudo em que ele olhou para os cérebros de 20 pacientes antes e após cada um eles experimentarem algum alívio de dor com uso de hipnose ou meditação.
As pessoas que apresentavam atividade elétrica naturalmente mais relaxada e lenta experienciaram alívio considerável da dor com uso da hipnose. Enquanto isso, as pessoas com mentes ocupadas e hiperativas se beneficiaram mais com a meditação.
O estudo de Patterson e Jensen defende que a hipnose não possui o mesmo efeito para todas as pessoas, sendo algumas muito mais "hipnotizáveis", ou sugestionáveis, que outras e volta a discutir o que o mundo científico suspeitou por muitos anos: a hipnose pode ser um estado cerebral exótico que acessa diretamente a expectativa e a percepção, algo como desligar todo o software do computador e acessar a codificação básica.
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