ARTIGO

Fortalecidos pelo sofrimento

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Como dizer a uma pessoa ou a uma família que enfrenta o maior problema de sua vida, que deve confiar em Deus e que, de uma forma ou de outra, tudo ficará bem? Mesmo que ela tenha que conviver com o problema por toda vida e que encontrará os meios para amenizar e suportar o pesado fardo com amor e alegria?

Não é fácil! mas são esperanças verdadeiras, que absolutamente todos nós testemunhamos esses verdadeiros milagres acontecerem na vida de crianças, jovens e adultos, todos os dias. Afinal, o sofrimento, as provações, atingem todos nós, independente de situação religiosa, econômica, social, geográfica. Assim como a fé e a esperança, que também fazem parte do Plano de Deus.

Digo isso pois esta semana não apenas eu, mas toda uma plateia na Câmara Municipal de Campo Grande pudemos conhecer e testemunhar um milagre alcançado pela fé e perseverança de uma mãe de uma criança autista que conseguiu derrubar obstáculos, paradigmas e até conhecimentos (errôneos) da medicina sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Convidada pela Casa de Leis para palestrar na Audiência Pública que tratou de políticas públicas para os portadores de TEA, Anita Brito, mestre em Dialogismo e Literatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e licenciada em Língua e Literatura Inglesa e Norte-Americana pela PUC-SP e doutorando pela USP São Paulo para estudos sobre o TEA, contou que sua vida mudou há 19 anos, depois do nascimento de seu filho autista Nicolas Brito Sales.

Depois de narrar detalhes sobre os primeiros oito anos do pequeno Nicolas, cuja rotina era se voltar de frente para a parede, sentado ao chão e se balançar, com olhos e mentes voltados para “outro mundo”, Anita contou que não se conformou e correu atrás de informações sobre o problema. Não contente com o que encontrou no Brasil, buscou artigos e pesquisas científicas estrangeiras (ela é poliglota autodidata, aprendeu sozinha 5 línguas) onde passou a acumular conhecimentos que foram aliados às suas próprias experiências que adquiria a cada dia na luta para ajudar o pequeno Nicolas.

Foram anos de estudos e pesquisas que a conduziram inclusive ao doutorando pela USP São Paulo, sobre o TEA, e muita fé em Deus, paciência e amor. O marido, Alexsander Sales, que hoje também percorre o Brasil, ao lado da esposa e do filho, promovendo palestras (gratuitas) sobre o TEA, também foi um alicerce para as conquistas que todos tiveram como família.

Quem viu o jovem Nicolas Brito Sales discursar depois da mãe no plenário da Câmara Municipal, não acreditou que aquele belo, forte e inteligente jovem já teve o mais o mais elevado e grave grau de autismo conhecido da medicina. A perseverança da família resultou no estágio que hoje vivem: todos são muito felizes e excepcionalmente unidos como nunca. O autismo não tem cura, mas a família conseguiu um verdadeiro milagre que transformou Nicolas num membro participativo e útil da sociedade.

Nicolas é brilhante! É fotógrafo de profissão e escritor. Junto com sua mãe escreveu o livro “TUDO O QUE EU POSO SER”, em 2017.

Ao se auto apresentar nessa edição, Nicolas escreveu: “Olá, meu nome é Nicolas Brito Sales. Mas deixa eu me apresentar diferente: meu nome é Nicolas, eu sou inteligente, alto, bonito (pelo menos é o que minha mãe diz!), eu tenho autismo, tenho muitos amigos e trabalho como fotógrafo e escritor. Eu também dou palestras pelo Brasil inteiro e, em 2016 eu finalizei meus estudos no Ensino Médio. E pena que vocês não podem ouvir, mas eu dei um grito de alegria agora!”

O livro é um banquete de amor e emoção. Recomendo a todos a conhecerem, por intermédio das linhas ali escritas por mãe e filho essa grande lição de vida.

Não tenho dúvida da utilidade dessas linhas para toda família que tenha autistas entre seus membros. As experiências ali narradas, por ambos, são riquíssimas para munir novas famílias a conhecer e lidar com o TEA. Isso, por si só, já justificaria a aquisição do livro e outros títulos, sobre o mesmo assunto, já publicados também pela doutoranda em autismo, Anita Brito.

Então, pulando para o capítulo final desse último livro, Anita escreve: “Sabe, filho, em nossa religião, não cremos em reencarnação, mas respeitamos as crenças de todos. Eu penso que se não há reencarnação, então Deus me deu tudo o que eu poderia desejar para ser feliz. Só essa encarnação já valeu por mil, pois pude experimentar tantos sentimentos complexos e díspares, que não seria necessário mais nenhuma vida. Porém, se houver reencarnação, quero voltar com você quantas vezes forem necessárias, pois terei a certeza de que serei feliz em todas elas!”

Nicolas, por sua vez, escreve: “E uma coisa muito importante que quero dizer a vocês é que eu entendo que pessoas procuram por essa cura (do autismo). Lembra que eu falei que eu conheço muitos autistas diferentes? Então, muitos já me falaram com suas próprias palavras que eles detestam ser assim, porque deixa a vida deles mais difícil. E eu já vi muitas mães e pais chorando porque não conseguem ajudar seus filhos. Às vezes, eles não conseguem por falta de entendimento. Mas, na maioria das vezes, é por causa de dinheiro”. E conclui: “E lembrem-se: hoje eu não sou nem metade de tudo o que eu posso ser!"

Sei que é difícil e que pode parecer dolorosamente estranho dizer que podemos sempre tirar algo de bom de uma tragédia, de um sofrimento pessoal e como podem parecer inconsistentes as palavras “para seu bem!”, mas é isso que o Plano de Deus nos revela por intermédio das Escrituras Sagradas e isso nos conforta e nos consola, pois podemos tirar sim, das adversidades, nossos maiores triunfos.

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