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1ª combatente florestal de MS, Anna entrou no curso para fazer história

Anna Brites, de 28 anos, emocionada durante uma das etapas do curso de especialização. (Foto: Arquivo pessoal) Anna Brites, de 28 anos, emocionada durante uma das etapas do curso de especialização. (Foto: Arquivo pessoal)

Comportamento

Bombeira militar enfrentou diversos desafios, mas não desistiu para inspirar mais mulheres na profissão

Desde o começo do curso de formação do CBMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul), Anna Luiza Brites da Costa, de 28 anos, sabia que enfrentaria incontáveis desafios na profissão. Ela aceitou mais um ao ingressar no Curso de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais e terminou a etapa fazendo história como a primeira mulher combatente florestal do Estado.

Entre testes físicos e psicológicos, Anna vivenciou na pele o curso que é considerado um dos mais difíceis do CBMS. A bombeira militar comenta que ao decidir fazer a especialização sabia que estava entrando para a história da corporação.

“Desde o começo eu sabia que nenhuma outra (mulher) havia tentado. Eu estava ingressando mesmo para fazer história. Houveram aqueles que não queriam ‘deixar’ isso acontecer. Mas não cabe a ninguém deixar ou não deixar. Eu deveria, como diz no nosso meio militar, ‘pagar minha etapa’ e enfrentar todos os mesmos desafios que qualquer outro militar. Então, realizei as mesmas atividades e mostrei que nós mulheres somos capazes”, afirma.

O curso, segundo ela, testa a capacidade de quem participa a todo instante. Nesse processo, ela revela que considerou desistir durante uma prova. “O momento específico que esse pensamento veio à tona foi em uma marcha longa que tivemos no início e cogitei que não daria conta. A verdade é que mais do que o esforço físico, por não saber quanto tempo essa marcha levaria, quantos quilômetros a mais marcharíamos, era um desafio psicológico”, frisa.

Anna ressalta que tirou forças do apoio dos familiares. Além disso, a militar diz que pensava nas outras mulheres que representava. “Eu pensava a todo instante que eu não estava ali só por mim. Meu fracasso representaria o fracasso das mulheres, reforçaria o pensamento machista de que aquilo não é pra gente”, comenta.

Neste mês, ela e outros colegas concluíram o curso de especialização. Por ser a primeira combatente florestal, Anna tem sido procurada para falar sobre a experiência que sente orgulho em compartilhar. Contudo, ela confessa que não esperava receber tanta atenção. “Eu não esperava a repercussão toda de agora. Muita gente falando sobre, dando entrevistas, ‘ficando famosa’, mas eu acho importante mesmo falar disso. Foi difícil sim e eu não posso menosprezar”, destaca.

O começo na carreira militar - Embora não cogitasse ser bombeira na infância, o interesse em ser combatente florestal partiu de memórias que ela guarda desse período. Anna fala sobre o ambiente onde brincava com o pai e que hoje é seu local de trabalho.

“O que me atraiu também para esta área são as memórias que me remetem ao meu falecido pai. Ele faleceu quando eu tinha 14 anos. Ele sempre gostou do mato e me levava em pescarias, me incentivava a brincar nas árvores, subir barrancos, nadar, andar a cavalo e eu me divertia ajudando ele nas atividades da chácara”, conta.

Em 2020, Anna entrou para o curso de formação do CBMS e se tornou soldado em março de 2021. Já em 2022, ela deu os primeiros passos rumo à especialização concluída neste mês.

Ela explica a importância de ter essa experiência em prevenção e combate a incêndio florestal. “No âmbito corporativo essa área é uma das mais importantes. Cada ano os incêndios florestais no Pantanal têm ganhado maior visibilidade e nossa atuação para reduzir os efeitos deles é imprescindível”, declara.

No meio militar em que atua, ela comenta que as mulheres ainda são a minoria. “A verdade é que não somos muitas. Nós mulheres ainda não atingimos 10% de todo o efetivo”, afirma. Aos poucos, ela acredita que esse espaço será cada vez mais preenchido por mulheres que também irão representar o CBMS.

No fim da entrevista, Anna destaca que espera ser exemplo para as próximas bombeiras militares e combatentes florestais que virão.

“Esses tempos uma menininha que caminhava pela rua com a mãe ao me ver fardada, gritou chamando a atenção: “Olha mãe, uma bombeira mulher’. Isso só mostra que ainda somos novidade para muitas. Enquanto criança nunca cogitei ser bombeira por nunca ter visto mulheres bombeiras e não ter esse exemplo para me inspirar, mas não porque não existiam e sim porque eram poucas mesmo. Com certeza sirvo de inspiração e quero continuar servindo”, conclui.

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