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72,4% das meninas acham que têm menos poder que meninos, diz estudo

G1

Uma pesquisa feita com 1.609 meninas brasileiras de 6 a 14 anos de idade revelou que 72,4% delas concordam que têm menos poder que os meninos que conhecem. Além disso, 24,1% só se acham “mais ou menos” bonitas, 15,7% delas gostariam de ter nascido com outra cor de pele se tivessem a chance de escolher e cerca de 20% delas conhecem alguma menina que já foi vítima de violência.

Realizada pela ONG Plan Brasil e pela empresa de pesquisas Socializare, a pesquisa "Por Ser Menina" entrevistou garotas em 21 municípios de cinco estados do país. O objetivo, segundo o levantamento, é descobrir as percepções e expectativas das próprias garotas em relação às dificuldades que sofrem pelo fato de ser do sexo feminino.

O relatório preliminar da pesquisa foi divulgado nesta sexta-feira (11), data em que se comemora o Dia Internacional da Menina e véspera do Dia das Crianças. A pesquisa foi feita entre julho e setembro de 2013 e os municípios que fazem parte da amostragem estão nos estados do Pará, Maranhão, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

Os organizadores da pesquisa destacaram que, apesar de 71% das meninas terem respondido “sim” quando perguntadas se achavam que eram bonitas, 24,1% delas afirmaram que só se consideram “mais ou menos” bonitas, ou que só “às vezes” se sentem bonitas. Além disso, 20,2% reconheceram que há tratamento diferenciado em sua escola para meninas de cor de pele diferente. Se tivessem escolha, 15,7% optariam por nascer com outra cor de pele ou raça, e 11,4% das garotas entrevistadas escolheriam ser brancas. De acordo com a pesquisa, 60,9% das entrevistadas não se declararam brancas.

Meninas x meninos

Além dos dados quantitativos, os pesquisadores coletaram depoimentos das meninas sobre como elas percebem o tratamento que recebem em comparação com o de meninos, como seus irmãos. Os números mostram que 28% delas acreditam que os garotos são mais inteligentes que as garotas, além de mais de 2/3 atestarem que não podem fazer tantas coisas quanto os meninos. O fato de se sentirem mais impotentes frente aos colegas do sexo masculino não as tornam partidárias de que essa situação deve ser mantida: 82,7% das meninas entrevistadas defendem que não há brincadeiras ou esportes de menino ou de menina, e que ambos os gêneros podem escolher do que brincar.

Em relação ao trabalho doméstico, as meninas afirmaram fazer muito mais do que seus irmãos nos cuidados com a casa e a família: 81,4% delas arrumam a cama, 76,8% lavam a louça, 65,6% limpam a casa e 41% das meninas cozinham. No caso dos irmãos, elas afirmam que só 11,6% arrumam a própria cama, 12,5% lavam a louça, 11,4% limpam a casa e 11,4% cozinham.

“Menina é como uma escrava, porque nós temos que cozinhar, passar, lavar, cuidar do irmão e irmã e tudo mais”, afirmou uma das participantes da pesquisa. A situação é recorrente, já que a mãe foi apontada como o ente familiar que mais se dedica aos cuidados das entrevistadas (76,3% citaram a mãe, e 26,8%, o pai; o formulário tem outras opções e permite a escolha de mais de uma). Os meninos só aparecem na frente quando se trata de trabalho infantil quando a tarefa acontece fora de casa (12,5% deles saem para trabalhar; no caso delas, essa porcentagem cai para 4,3%).

Mas, apesar de admitirem a posição desvantajosa em relação aos meninos, só 4,5% das garotas responderam que gostariam de ter nascido meninos. “Acho que meninos são mais respeitados”, explicou uma delas. “Algumas meninas, os pais não deixam sair por serem meninas, com a desconfiança de fazerem algo errado”, disse outra. “Vou dar um exemplo: na minha casa, alguns irmãos homens estudam e outros trabalham, e as meninas parecem ser obrigadas a fazer as coisas de casa”, comentou uma terceira.

Além do excesso de trabalho, a maioria das meninas entrevistadas (57,3%) acredita que as crianças do sexo feminino sofrem mais violência que as do sexo masculino porque nasceram mulheres. A pesquisa também mostrou que 34,8% das meninas admitiram que seus pais ou cuidadores batem nelas como forma de disciplina dentro de casa. Mas, segundo alertaram os pesquisadores, 61,1% dos formulários ficaram em branco nesta questão.

Metodologia

Segundo a Plan Brasil e a Socializare, a pesquisa tem confiança de 95% e a variância máxima é de 2,5%. De acordo com o relatório, as capitais dos cinco estados foram escolhidas “pela sua representatividade em suas respectivas regiões, com potencial de indicar as tendências regionais”. Os estados são os mesmos nos quais a ONG realiza projetos sociais.

As cidades do interior desses estados e as 58 escolas participantes da pesquisa foram selecionadas por sorteio, seguindo o método de amostra aleatória simples. As meninas de cada escola também foram sorteadas, e participaram preenchendo um formulário e concedendo uma entrevista individual (caso das meninas de 6 a 10 anos) e coletiva (com as garotas de 11 a 14 anos).

A pesquisa não mostra o perfil sócio-econômico das meninas, a assessoria de imprensa da Plan Brasil afirmou que a média da renda familiar das meninas entrevistadas varia entre dois e quatro salários-mínimos. Além disso, 44,1% delas afirmaram receber algum tipo de benefício social do governo, e 79,8% delas estão matriculadas em escolas públicas.

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