O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou nesta sexta-feira (20) que a presidente Dilma Rousseff parece "querer zombar" da inteligência dos brasileiros ao afirmar que, se tivesse sido investigado nos anos 1990, o esquema de corrupção na Petrobras não teria se propagado.
Dilma deu a declaração nesta sexta, no Palácio do Planalto, após cerimônia em que recebeu credenciais de embaixadores de cinco países. "Se em 1996 e 1997 tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante mais de 20 anos praticando atos de corrupção", afirmou a presidente durante entrevista.
Nos anos de 1996 e 1997, o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Depois da fala de Dilma, Aécio Neves concedeu entrevista coletiva no Senado, na qual contestou as declarações da presidente. Segundo ele, a presidente “reapareceu”, após dois meses de “conveniente silêncio” – período em que Dilma não fez declarações públicas.
“A presidente reaparece, parecendo querer zombar da inteligência dos brasileiros ao atribuir o maior escândalo de corrupção da nossa história, patrocinado pelo governo do PT, a um governo de 15 anos atrás. Na verdade, parece que a presidente volta a viver em um país da fantasia, que conduziu a sua campanha e que tanta decepção trouxe inclusive aos seus eleitores", disse.
Segundo ele, o partido não teme investigações. "O PSDB não tem qualquer receio de que se investigue o que quer que seja”, afirmou.
Para Aécio, a corrupção se deu de “forma institucionalizada” em benefício de um “projeto de poder”. Enquanto não houve “mea culpa” por parte da presidente, disse o senador, os brasileiros continuarão a se sentir “iludidos e lesados”.
“Era hora, de maneira muito franca, de a presidente da República fazer a sua ‘mea culpa’, olhar nos olhos dos brasileiros e dizer que o seu governo errou e errou muito. Errou na condução da economia, errou durante a campanha eleitoral ao pregar a mentira, o terrorismo como arma de campanha e errou, principalmente, no seu comportamento ético”, declarou.
Delatores apontaram
Um dos delatores da Operação Lava Jato, o executivo da Toyo Setal Augusto Mendonça, relatou em depoimento à Justiça Federal do Paraná que o "clube" de empreiteiras que dividia entre si obras da Petrobras passou a combinar resultados de licitações desde meados da década de 1990, quando o país era governado por Fernando Henrique Cardoso.
Aécio Neves criticou o fato de Dilma não ter mencionado o depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras que acusou a sigla de ter recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina oriunda de contratos da estatal. “Eu, como presidente do PSDB, acredito que ele fala a verdade, até porque, numa delação, tem que falar a verdade e comprovar”, afirmou o senador.
Durante depoimento em acordo de delação premiada, Barusco também falou sobre a existência do suposto esquema já na década de 90. Ele confessou que começou a receber propina da empresa holandesa SBM em 1997 ou 1998 e que os pagamentos se tornaram sistemáticos no ano 2000, ainda no governo FHC. Barusco disse que recebia, nessa época, de US$ 25 mil a US$ 50 mil por mês.
Aécio Neves afirmou que Barusco “recebeu uma propina individualmente” e “por iniciativa própria”. “Isso é triste, é lamentável e ele será punido por isso”, completou.
“Mas o que é grave é algo que jamais havia acontecido na nossa história é a institucionalização da corrupção em benefício de um projeto de poder e se o senhor Pedro Barusco tem credibilidade, segundo a presidente da República, para dizer o que fez em 1997, 1998, é preciso que o governo, a presidente da República dê credibilidade ao que ele diz que fez ao longo dos últimos 12 anos”, afirmou o senador.
Empreiteiras
Aécio também comentou reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, segundo a qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria recebido emissários de empreiteiras investigadas na Lava Jato. O tucano classificou os supostos encontros como algo "acintoso".
“Custo a crer que possa ser verdade, porque é algo tão acintoso à própria democracia num país onde as instituições são sólidas e funcionam de forma absolutamente autônoma e independente”, disse.
O senador classificou as reuniões como uma tentativa de manipular as investigações. “Cabe a nós, políticos, estarmos vigilantes para impedir que haja qualquer manipulação ou tentativa de politizar algo que deve continuar caminhando estritamente na esfera judicial e, obviamente, policial”, declarou.
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