Assessores da ala militar do presidente Jair Bolsonaro foram contra a elaboração do que chamam de "discurso de ódio" do presidente da República nesta terça-feira (24), sobre a crise do coronavírus. A ideia apoiada inicialmente por essa ala, segundo o blog apurou, era um "discurso conciliatório", de avaliação do cenário para dar uma perspectiva de respiro econômico.
A discussão a ser posta era a respeito do isolamento vertical ou horizontal — o que ocorre hoje, segundo determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de especialistas da saúde.
“Mas ele tem recebido muita coisa, de muita gente pelo WhatsApp: e aí fez aquele pronunciamento”, conta uma fonte ao blog.
"Aquele vídeo" é o pronunciamento transmitido em rede nacional, em que o presidente contraria orientações de autoridades de saúde e volta a minimizar o coronavírus. Nos bastidores do governo, à exceção do núcleo ideológico, o discurso foi classificado como "aloprado e transloucado".
E mais: enterrou, na visão de governistas, qualquer estreitamento de diálogo com governadores — expectativa também da ala militar com a série de encontros com governadores nesta semana.
A principal preocupação neste momento é com a região sudeste: João Doria (governador de São Paulo), segundo o blog apurou, após os ataques ontem do presidente no discurso, dizendo que alguns governadores erraram em suas medidas, com exagero, se irritou e pensou em não comparecer ao encontro virtual hoje com Bolsonaro. Houve um apelo do Planalto e ele confirmou. Wilson Witzel (governador do Rio de Janeiro) também confirmou presença virtual.
No Senado, Flavio Bolsonaro chegou a avisar aos colegas, durante conversa virtual ontem, para assistir ao pronunciamento do pai. A senadora Katia Abreu disse ao blog que achou que seria uma mensagem para acalmar a nação. “Ele vai na vibe do Trump, o que é aquilo? Me disseram que ele, Flavio, estava ao lado do pai na hora da gravação”.
Sobre o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, a senadora disse que a avisaram que ele explicaria o discurso do presidente. “Eu disse: não precisa explicar, não foi em grego ou latim, a gente entendeu”.
No Palácio do Planalto, sobre pressões de parlamentares para que Mandetta deixe o cargo após o discurso, assessores do presidente afirmam que ele fica no cargo, que não tem essa saída.
Para integrantes do seu partido, o DEM, o presidente acabou pedindo “indiretamente” sua saída quando fez o pronunciamento desautorizando tudo que os técnicos da área da saúde recomendam para o momento, como uma “desmoralização”.
Mas não acreditam em demissão do ministro, num momento em que a pasta está à frente — com protagonismo — da maior pandemia dos últimos tempos.
Acreditam que o ministro vai se “adequando” ao discurso do presidente para sobreviver politicamente no cargo.
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