A segunda onda da pandemia de coronavírus trouxe, além do aumento no registro de infectados e de óbitos, a ocupação quase na totalidade de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para internação de pacientes em estado grave que precisam de suporte especializado. Junto disso, direções de hospitais revelam um cenário bastante crítico também para compor equipes multiprofissionais, que são necessárias para atendimento nessas Unidades.
Vagas para médicos, técnicos de enfermagem e enfermeiros, principalmente, são as que apresentam mais dificuldades para serem preenchidas.
Ou seja, além da falta de leitos, ainda faltam profissionais especializados para trabalhar neles. Profissionais esses que “não são formados da noite para o dia”, como alertaram alguns representantes de hospitais para a reportagem do Dourados News. Para atendimento em UTI, que exige especializações específicas, a situação é pior.
Um ano após o começo da pandemia, muitos profissionais que atuam na linha de frente da Covid-19 adoeceram infectados pelo próprio vírus ou acabaram afastados por outras doenças, muitas delas relacionadas à exaustão física e mental da rotina de plantões.
Na quarta-feira passada (24/3), o secretário interino municipal de saúde de Dourados, Edvan Marcelo Morais Marques, disse em entrevista ao Dourados News que as dificuldades em compor equipes multiprofissionais para atendimento em UTIs é uma realidade tanto na rede pública quando na privada da maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul, a exemplo do que acontece no país.
“É uma realidade de Dourados, do estado e do país a sobrecarga de trabalho dos profissionais da saúde, haja vista que estão há um ano na linha de frente. Muitos até sem férias, tanto do meio público quanto no privado, pelo quantitativo de profissionais que temos formados para prestar o serviço. Então há um ano estamos todos enfrentando essa pandemia, agora um pouco mais grave. Mas o médico, o enfermeiro, o técnico de enfermagem, o fisioterapeuta, biomédicos e bioquímicos estão todo esse tempo trabalhando diretamente em uma rotina exaustiva e hoje a situação está ainda mais delicada pela demanda de trabalho”, apontou o secretário municipal.
Em Dourados a Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde) abriu oficialmente no dia 17 deste mês um processo seletivo simplificado para formação de cadastro de reserva visando a contratação temporária de enfermeiros e técnicos de enfermagem.
A Fundação é responsável pela administração do Hospital da Vida, UPA e PAM. O processo, que está em etapa de convocação de aprovados, foi aberto justamente para suprir a necessidade de manter os serviços de atendimento em pleno funcionamento, conforme justificado pelo diretor presidente da fundação, Jairo José de Lima.
NA REDE PRIVADA, SITUAÇÃO TAMBÉM É CRÍTICA
Na rede privada, o Dourados News apurou a situação junto a direção das três unidades hospitalares que são referência na assistência a pacientes da Covid-19. O cenário também é bastante crítico nesses locais.
No Hospital da Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) a assessoria de comunicação informou que desde o começo da pandemia, no ano passado, 274 colaboradores precisaram ser afastados por infecção pela Covid-19. Os profissionais da enfermagem foram os mais afetados. Esse é o maior volume registrado nas unidades privadas. Em Dourados a Cassems disponibiliza atualmente 12 leitos de UTI e 11 leitos clínicos para pacientes da Covid-19.
Além disso, a assessoria destacou que as dificuldades em conseguir trabalhadores para atuarem na área se tornaram comuns e que o cenário atual é o momento mais crítico, pelo aumento nos números de contágio.
No dia 11 de março, em entrevista ao Dourados News, o presidente da Cassems, Ricardo Ayashe, já havia destacado os problemas envolvendo essa escassez de mão de obra.
“O problema hoje maior é que não existem equipes médicas disponíveis [para ampliar atendimento Covid]. Os profissionais de saúde estão absolutamente sobrecarregados e desgastados. Nós precisamos mais do que nunca do apoio da população na adoção de medidas de biossegurança para que consigamos diminuir a transmissibilidade, o número de casos novos e de casos que necessitam de UTI”, alertou Ayashe.
No Hospital Evangélico, também referência no atendimento da Covid-19, a situação é a mesma. Desde o início da pandemia, foram 35 funcionários afastados infectados pelo vírus, conforme informações da assessoria.
A unidade de saúde dispõe de 13 leitos de UTI exclusivos para Covid, sendo três para atendimento por convênio particular e 10 habilitados para atendimento via SUS (Sistema Único de Saúde).
No Hospital Santa Rita, apesar de confirmar que a situação também é bastante complicada para contratação de profissionais da saúde, até a publicação desta matéria, o Dourados News não teve retorno sobre dados ou números por parte da assessoria.
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