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Ameaçada pelo ex, Valéria ergueu muro da casa, mas nunca procurou a polícia

Vítima foi rendida ao chegar à residência, foi esfaqueada na frente da filha e morreu em hospital de Paranaíba

A 15ª na estatística do feminicídio, Valéria tinha 30 anos, trabalhava em supermercado e deixa dois filhos. (Foto: Reprodução\Facebook) A 15ª na estatística do feminicídio, Valéria tinha 30 anos, trabalhava em supermercado e deixa dois filhos. (Foto: Reprodução\Facebook)

Na estatística geral da violência contra a mulher, Valéria Ribeiro de Oliveira, 30 anos, é a 15ª vítima de feminicídio neste ano em Mato Grosso do Sul.

 Mas num olhar mais de perto, é uma mulher, mãe de dois filhos, que precisou erguer às pressas o muro de casa diante das ameaças do ex-namorado, que invadiu a residência há poucos dias.

Porém, Valéria nunca procurou a polícia para denunciar Sérgio da Silva Verginio, 31 anos, que lhe atacou a facadas na noite de ontem (dia 14), em frente da filha de 12 anos, no município de Paranaíba.

Não se trata aqui de culpar a vítima, mas manter o alerta para que crimes sejam sempre denunciados. De acordo com a titular da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), Eva Maira Cogo, Valéria e Sergio começaram a namorar em outubro do ano passado, mas, há dois meses, ela pôs fim ao relacionamento.

Inconformado, o homem ordenou que ela não o bloqueasse, ainda não se sabe se era em aplicativo de bate-papo ou redes sociais. Há poucos dias, pulou o muro da casa da vítima por volta das 18h e só foi embora perto de meia noite.

Ás pressas, Valéria mandou erguer o muro do imóvel para aumentar a segurança e também, há poucos dias, havia bloqueado Sergio. Ontem, Valéria foi rendida quando chegou em casa.

Armado, o homem efetuou disparos, mas a vítima consegui desarmá-lo. Na casa, também estavam seu filho de 4 anos e a adolescente de 12 anos. A filha recolheu a arma e jogou na calçada, fora do imóvel.

Mas o agressor foi até à cozinha, pegou uma faca com 20 centímetros de lâmina e atacou a ex-namorada. Os vizinhos chegaram a filmar o crime e também acionaram a PM (Polícia Militar).

No local, a filha conseguiu jogar a chave do portão para os policiais. Como a segurança do imóvel tinha sido reforçada com o muro alto, ninguém conseguiu entrar antes na residência.

Sergio pedia a todo tempo para ser morto e também se esfaqueou. A vítima foi levada pela viatura da PM , depois de 200 metros, foi transferida para viatura do Corpo de Bombeiros. Ela morreu durante procedimento cirúrgico no hospital.

Na sequência do socorro, a família da vítima foi ao local do crime e tentou agredir o autor, situação contida pelos policiais, inclusive com disparo para o alto. Preso em flagrante, Sergio está internado, mas consciente. Ele é técnico de instalação de ar-condicionado e disse ter depressão. Em 2011, outra mulher o denunciou por violência doméstica.

Valéria Ribeiro da Silva, que tinha completado 30 anos em abril, era funcionária de um supermercado. O crime deixou um rastro de comoção nas redes sociais.

“Há muita comoção quando os crimes acontecem, mas no dia a dia é preciso meter a colher. Não adianta comoção social e não fazer a sua parte. A proteção à mulher não é apenas da polícia, mas também da sociedade”, afirma a titular da Deam de Paranaíba.

No cargo desde 2014, Eva Maira Cogo afirma que nos feminicídios registrados neste período nenhuma vítima havia formalizado denúncia. O último caso na cidade tinha ocorrido em 5 outubro do ano passado. A delegada lembra que, caso a vítima não procure a polícia, amigos e familiares podem denunciar  pelo telefone 180 ou procurar a Deam.

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