Na era da comunicação, o trio desinformação, má informação e manipulação é o que mais tem circulado, inclusive por lugares antes inimagináveis. É de uma perplexidade enorme ver como a grande imprensa reagiu diante de questões que chegam a ser absurdas, como o fato de duas das mais renomadas revistas médicas do mundo – The Lancet e New England Journal of Medicine – terem publicado um estudo falso contra o uso da hidroxicloroquina no combate à covid-19.
Os dados falsos foram repercutidos à exaustão em todo o mundo, tendo inclusive, servido de base para que o diretor geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, suspendesse os estudos sobre o medicamento. Ainda não há um consenso sobre a eficácia da hidroxicloroquina contra o coronavírus, porém, publicar e tomar decisões apoiadas em informações que nem ao menos foram checadas é de uma irresponsabilidade ímpar.
Por outro lado, é interessante ver que os ricos e bem-informados não abrem mão da hidroxicloroquina quando o assunto é a sua própria saúde. Basta lembrar do caso do infectologista David Uip, estrategicamente afastado da função de coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo depois de ter vazado que “o medicamento do Bolsonaro” fez parte de seu tratamento pessoal contra a covid-19.
Enquanto isso, a população foi levada a crer que sair de casa significava caminhar para a morte. A não ser, claro, que essa saída fosse para se aglomerar no mercado, na farmácia ou nas feiras livres. Se bem que essa “verdade absoluta” – amplamente divulgada por mais de 75 dias e reforçada pela hashtag #fiqueemcasa – repentinamente saiu de cena dando espaço a outra ordem: vá para as ruas!
Curiosamente agora não só podemos como devemos sair de casa para participar das manifestações – devidamente aglomerados, sem necessidade de máscara e álcool gel – contra o fascismo, o racismo e as fake news. Mais uma das muitas hipocrisias do nosso tempo, pois se os tais “antifas” usassem a cabeça por 15 segundos e consultassem o Google em seus iPhones comprados na Amazon, saberiam que a definição de fascismo é “movimento político representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador”.
Onde está o tal ditador? Seria aquele que mandou invadir fábrica privada para confiscar máscaras? Ah, não... esse foi o João Dória, governador de São Paulo, muito “preocupado” com a saúde dos paulistanos. Tanto que está gastando R$ 18 milhões por mês em um hospital de campanha cheio de leitos vazios, segundo denúncias de um grupo de parlamentares. Ah, então deve ser aquele que colocou a polícia para “quebrar” qualquer um que se atravesse a desobedecê-lo saindo de casa. Não, também não... esse foi o Wilson Witzel, governador do Rio, em sua luta ferrenha “pela vida” dos cariocas. Ele está tão engajado que ainda não inaugurou seus hospitais de campanha, afinal, não dá para atender enquanto não houver a certeza de que serão os melhores do mundo, não é mesmo? Não há dúvida de que, numa próxima pandemia, as unidades de Witzel servirão de modelo para todas as nações.
E o que dizer de um movimento supostamente em prol da democracia que tenta a todo custo derrubar um governo eleito democraticamente? É como bem definiu o jornalista Luís Ernesto Lacombe em seu Twitter: “Fascistas contra o fascismo. Racistas contra o racismo. Cientistas contra a ciência. Produtor de ‘fake news’ contra as ‘fake news’... A lista de hipócritas, mentirosos e dissimuladores, egoístas e oportunistas é enorme.”
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog www.bolsablindada.com.br. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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