Quase seis décadas após a comercialização da pílula anticoncepcional, em 1960, que abriu portas à revolução sexual feminina, um novo contraceptivo pode trazer avanços ao dividir a responsabilidade entre o casal. Só que, dessa vez, é direcionado aos homens. A promessa é que o "Vasalgel" esteja no mercado a partir de 2018, mas já vem levantado a curiosidade de muitos. Nos últimos dias, uma matéria do EXTRA de 2014, que explicava o anticoncepcional masculino, voltou a ser muito compartilhada nas redes sociais.
— Não chega a ser uma pílula masculina, funciona como uma vasectomia reversível. É uma ideia bem atraente, mas ainda é cedo para dizer, porque só foram feitos estudos em animais — explica Eduardo Bertero, chefe do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia.
O remédio, diferente da pílula, não leva hormônios e não exige que o homem faça uso diariamente: uma injeção única faria efeito por longo período. Comparado à vasectomia, o novo método parece ter a preferência dos homens: 87,3% disseram que prefeririam o Vasalgel, mesmo se o produto não fosse reversível, segundo uma pesquisa conduzida pela organização que investe na sua produção, a Parsemus Foundation.
— A vasectomia, embora 100% eficaz, é tabu, muitos homens têm medo de ficar impotente, embora isso não seja verdade — diz o médico.
Segundo a Parsemus, a indústria farmacêutica "não tem interesse em um medicamento com efeitos de longo prazo". Esse seria um dos motivos para que, mesmo com o avanço da ciência, até hoje ainda não se tenha criado um contraceptivo masculino. Eduardo destaca que os produtos testados até hoje falharam:
— O grande dilema da pílula masculina é que os medicamentos já testados interrompiam a fertilidade do homem, mesmo quando ele parava com o uso.
O Vasalgel é inspirado no Risug, tecnologia da Índia em fase de testes avançados que também utiliza gel injetado nos vasos deferentes, mas com outra fórmula. Há, ainda, mais contraceptivos para homens em fase de teste. Um deles é a gendarussa, planta que poderia interromper a fertilização impedindo que o espermatozoide libere uma enzima capaz de romper o óvulo.
Outro, menos avançado, é o "clean sheets pill" ("pílula dos lençóis limpos", em português), que impede que o homem ejacule na hora do orgasmo. Esse último, porém, é polêmico: 20% dos homens disseram, a uma pesquisa americana, que não usariam "de jeito nenhum" o método, por acreditarem que um orgasmo sem ejaculação não seria tão prazeroso. Outros 60% disseram que precisam saber mais sobre este contraceptivo.
Benefícios também para as mulheres
A psicóloga e sexóloga Priscila Junqueira afirma que a revolução do anticoncepcional masculino favoreceria até o relacionamento entre o casal.
— O homem poderia ir para a relação mais tranquilo e a mulher teria a liberdade de decidir não entupir seu corpo com hormônio — diz a especialista, que afirma que a responsabilidade recair só sobre a mulher é um resquício do machismo: — É muito fácil falarem que não querem ter o filho, mas não usam a camisinha e jogam a responsabilidade todinha na mulher.
O risco, segundo Tomás Accioly, chefe do serviço de Urologia do Hospital Federal da Lagoa, é que o homem abandone o uso do preservativo, aumentando os riscos de o contrair doenças sexualmente transmissíveis (DSTs):
— O perigo disso seria diminuir o uso da camisinha. A coisa já está complicada com a juventude achando que só acontece com os outros.
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