Setembro é o mês dedicado à conscientização e ao incentivo à doação de órgãos e o Dourados News traz um panorama das ações existentes na maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul neste âmbito. Em 2023, já foram registradas sete doações, número que já é maior que o registrado durante todo o ano de 2022, que chegou a cinco.
Apesar do aumento, as captações têm sido impactadas negativamente diante do serviço interrompido no Aeroporto Francisco de Matos Pereira, que está em obras desde 2021 e ainda esbarra em um número significativo de recusa familiar.
Conforme dados da assessoria de imprensa da prefeitura de Dourados cedidos ao Dourados News, em 2022, o total de procedimentos que não aconteceram devido a recusa familiar foi de 11 e esse ano já chega a 13.
Conforme a enfermeira e coordenadora do Cihdott (Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) Jaqueline Foppa, campanhas educativas buscam tratar a temática com a população, mas a abertura para esse tipo de assunto ainda é um empecilho.
“Temos uma barreira que é a família não ter interesse em abordar esse tipo de assunto, nós que precisamos ir atrás, divulgar, é muito difícil falar sobre essa questão de morte, mas seguimos trabalhando na conscientização”, destaca.
Quando ocorre o diagnóstico de morte encefálica, a família deve ser consultada e orientada sobre o processo de doação de órgãos e tecidos. A retirada de órgãos só pode ser realizada após a autorização familiar. Mesmo que uma pessoa tenha dito em vida que gostaria de ser doador, ela só acontece se a família autorizar, em todo o país.
A coordenadora do Cihdott cita que a equipe da comissão busca trabalhar a questão com a família de forma afetuosa para que se tenha sucesso no processo, quando se tem o registro das condições favoráveis a captação.
“Desde que nota-se certa gravidade quando o paciente dá entrada, a família já é acolhida, buscamos entender tudo o que aconteceu com esse paciente, pois no fim do processo, se constatada realmente a gravidade do paciente e ele evolui para óbito, se essa família não foi acolhida corretamente lá na entrada, a chance dessa família recusar a doação é muito forte, se você acolhe com amor, com as orientações devida, explica todo o processo, a chance da autorização acontecer é muito maior”, destaca.
Durante o “Setembro Verde”, os profissionais da comissão tem acentuado as divulgações sobre o assunto em Dourados, no entanto, por conta de condições financeiras, neste ano, as ações vão se concentrar mais de forma interna.
“A gente tem um certo número de pacientes com potencialidades para doação de coração, pulmão, pâncreas, só que o problema é que a vitalidade desses órgãos é muito curta fora do corpo. O coração precisa ser retirado “agora” por exemplo e, com quatro horas ele precisa estar dentro de uma outra cavidade humana e nós não temos o transporte aéreo aqui, então não tem condições de sair daqui e ir para Ponta Porã e daí então ir para a cidade definida” explica.
AVANÇANDO
Dourados busca avançar para se tornar uma OPO (Organização de Procura de Órgãos). As tratativas neste sentido tem avançado junto aos órgãos competentes, como explica a coordenação da comissão.
Para Jaqueline Foppa, a medida possibilitará um importante avanço para interior do Mato Grosso do Sul quando for concretizada.
“Com isso vamos ficar na fiscalização dos municípios que a gente atende, Naviraí, Ponta Porã, Ivinhema, e a OPO daqui vai captar órgãos nestes municípios também”, detalha.
EXPRESSAR O DESEJO DE DOAÇÃO
Ainda que o assunto seja sensível, a profissional frisa que as pessoas precisam falar sobre o mesmo em vida, para que diante disso, a relutância dos familiares seja trabalhada em casos aptos a doação.
“A família precisa estar ciente do desejo do familiar em ser doador, quem quer ser, precisa manifestar isso em vida, pois depois, muitas vezes a gente vai entrevistar a família quando a pessoa morre e ouvimos “ele nunca falou” e não há mesmo o costume de se sentar numa roda de família e conversar sobre morte, vai se falar sobre outros assuntos e isso as vezes pesa para esses trâmites depois. Aí questionamos como era em vida, se era solidário, se doava sangue, por exemplo, tentando conhecer mais pela família, se gostava de ajudar as pessoas, aí questionamos se talvez não vale a pena dar um sentido novo para todo essa tristeza, mesmo sendo difícil absorver esse tipo de informação em um momento de luto”, ressalta.
Comentários