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Brasil pode conquistar Oscar em animação

Dourados Agora

Enquanto os olhos dos cinéfilos brasileiros se voltavam para a campanha de “O Som ao Redor”, de Kléber Mendonça Filho, agora fora da corrida por uma vaga entre os cinco finalistas ao Oscar de melhor filme estrangeiro, outro longa nacional corria por fora, amealhando críticas positivas na imprensa americana e ampliando suas chances de quebrar um tabu histórico na maior premiação do cinema mundial.

Em 16 de janeiro, quando as indicações da Academia de Hollywood forem anunciadas, “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, pode tornar-se o primeiro desenho animado do país a competir pela estatueta de melhor longa de animação.

A afirmação não se baseia em patriotismos. A animação de Bolognesi, mais conhecido pelos roteiros de “Bicho de Sete Cabeças” (2001) e Chega de Saudade (2007), ambos dirigidos por sua mulher, Laís Bodanzky, está na lista dos 19 semifinalistas da categoria divulgada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas no início de novembro – já deu, portanto, um passo além de “O Som ao Redor”, que não ficou entre os 19 escolhidos.

Conforme o site da revista Veja, a inclusão nesta lista exclusivíssima que nunca recebeu uma produção totalmente brasileira – não esquecendo que “Rio” (2011), apesar de dirigido pelo carioca Carlos Saldanha, é uma superprodução americana – já é um feito comparável ao da chegada de Gustavo Kuerten às semifinais de Roland Garros.

Afinal, o Brasil não tem tradição alguma na animação e as poucas produções do gênero no país costumam aparecer e sumir do mapa sem que o público tome nota.

Mas o desenho, que tomou nove anos da vida de Bolognesi, ganhou forma em três cidades diferentes (Águas de Lindoia, Santos e São Paulo) devido à contenção de custos (o orçamento, baixo para uma animação de qualidade, girou em torno de R$ 4,5 milhões de reais) e empregou cerca de 30 jovens animadores, pode chegar longe.

No fim de novembro, “Rio 2096: A Story of Love and Fury” estreou em um cinema de Los Angeles para que, de acordo com as regras do Oscar, se tornasse elegível à premiação. O título internacional espertamente destaca o seu lado ficção científica, caro aos americanos, indicando um Rio de Janeiro futurista que, como os cenários de muitas sagas distópicas hoje em alta, vive dias sombrios. A cidade é dominada por um político corrupto e evangélico e por uma corporação cruel chamada Aquabrás.

O site da revista Variety, bíblia do mercado cinematográfico americano, acredita que a animação brasileira pode surpreender no Oscar e a coloca como forte concorrente ao lado de “The Wind Rises”, de Hayao Miyazaki, ganhador da estatueta em 2003 por “A Viagem de Chihiro”.

A revista ressalta a queda criativa da Pixar, que tem “Aviões” e “Universidade Monstros” na disputa, nenhum dos dois com a recepção favorável de longas como “Up: Altas Aventuras” (2009) e “Toy Story 3” (2010), com que a Pixar, ao lado da Disney, fez história.

Lançada em abril em 65 salas, “Uma História de Amor e Fúria” foi bem recebida pela crítica, mas naufragou nas bilheterias, acumulando apenas 30 000 espectadores. “Esperava algo em torno de 50 000 pagantes. Admito que entrei em depressão com esses números”, diz Bolognesi. “Mas o mal-estar acabou dois meses depois, quando ganhamos Annecy. Hoje, depois de percorrer tantos festivais, ter o filme lançado em DVD e contrato de exibição assinado com a HBO, já batemos os 100 000 espectadores, 70% deles fora do Brasil.”

Se a animação ficar entre os cinco (ou menos) finalistas do Oscar 2014, Bolognesi acredita que a visibilidade aumentará no Brasil, mas não vê possibilidade de outro lançamento no cinema.

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