Parte da indignação que os brasileiros estão levando para as ruas está na desproporcional relação entre tudo que se paga de impostos e o pouco que se recebe. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o Brasil não tem a maior carga tributária do mundo, mas oferece o pior retorno em serviços para a população.
O país, onde 36,02% do Produto Interno Bruto (PIB) são impostos, tem um Índice de Retorno de Bem Estar à Sociedade (Irbes) de 135,63 pontos. É a menor taxa entre os 30 países com a maior carga tributária do mundo. “O estudo mostra que está na hora de cobrar melhor aplicação dos impostos. O volume de recurso é grande. Neste ano, o país já arrecadou R$ 736,85 bilhões. O problema é o retorno, que é pior do que em países como Argentina e Uruguai, que têm cargas menores, mas oferecem melhores serviços”, destaca o presidente do IBPT, João Eloi Olenike. “Esse problema tem tudo a ver com as manifestações. Se o cidadão paga caro de impostos, ele tem direito a educação, segurança, saúde, habitação e boas estradas sem pagar pedágio”, destaca.
Na avaliação da presidente do Instituto de Formação de Líderes (IFL), Carolina Antunes, a indignação vem da insatisfação. “Além dos impostos pagos em todos os produtos, a população ainda tem que pagar pelos serviços. E paga impostos de um país desenvolvido para receberem serviços de um país subdesenvolvido”, afirma Carolina.
“Nos Estados Unidos e na Austrália, a carga tributária é alta, mas o retorno é muito bom”, compara Carolina. Pelo estudo do IBPT, esses dois países tem carga tributária próxima de 25% do PIB, mas oferecem um Irbes muito maior do que o do Brasil: de 164,5 e 165,7 pontos, respectivamente.
De acordo com o professor de economia da Fumec, Valter Victoriano, o maior problema está na gestão dos recursos. “Dinheiro não falta. Para se ter uma ideia, 36,02% do PIB dá R$ 1,59 trilhão. Mesmo com tantos recursos, o governo não consegue oferecer boas condições de saúde, educação e infraestrutura”, destaca.
“Tudo isso que estamos vendo nas ruas é reflexo do dinheiro mal usado. A carga tributária tinha que ser mais justa e os serviços mais eficientes”, ressalta Victoriano.
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