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Começou o Ano Novo!?

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Já estamos no ano novo. Pelo menos é isso que diz o calendário. Como foi o seu "réveillon"? Esta palavra, que virou sinônimo de festa da virada, na verdade, é uma derivação do verbo francês "réveiller", que significa "despertar". Por um lado, é muito bom pensar o início de ano assim: um novo despertar, um recomeçar, um renascer! Por outro lado, para despertar de verdade, não bastam fogos de artifícios e música alta. "Adeus ano velho, feliz ano novo"? Essa é uma das músicas mais cantadas. Tudo bem, talvez você cantou e comemorou, com todos os cuidados que o momento exige. Mas e agora? Cadê o ano novo? Será novo mesmo? Ou vai ser mais uma repetição do ano velho? 

Tem um texto que sempre circula muito na internet nesta época, que diz o seguinte: “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente."

"Ano novo, vida nova", dizemos! E brindamos! E comemoramos! "Daqui pra frente, tudo vai ser diferente", diz uma outra canção. No entanto, nós sabemos que, fora o número do calendário, não há nada de diferente, nada de novo. Os dias que virão serão absolutamente iguais aos dias que passaram. O sol nasce e se põe do mesmo jeito. Os dias seguem normalmente, de segunda a domingo, quente ou frio, chuvoso ou seco, com as mesmas vinte e quatro horas para todos. 

O calendário, de janeiro a dezembro, é o gregoriano, uma herança dos povos romanos. Nele ficou estabelecido o "Ano Novo" para o dia 1º de janeiro, em homenagem a Jano, o "deus dos portões". Tal divindade é representada com duas faces, uma virada para frente e outra para trás, o que é muito simbólico. Pois devemos olhar para frente, com esperança, em relação ao ano que está por vir. Mas também olhar para trás, para o ano que passou, com gratidão, buscando aprender com tudo que vivemos nele. Agradecer por que chegamos até aqui e refletir o que podemos aprender com tudo que passou? No entanto, de nada vai adiantar aprender com o passado e namorar o futuro - se não houver comprometimento no presente.

É preciso muito mais do que simplesmente acreditar em dias melhores. Queremos melhorar, queremos mudar!? Mudanças ocorrerão? Claro, mas é a gente que muda, o ano não tem nada a ver com isso. Ou tem? É certo que nem tudo depende de nós, mas a maior parte depende, com certeza, da iniciativa ou omissão de cada um! Tudo que somos e temos não vem do que os anos nos fazem de mal ou de bom, mas sim do que nós fazemos, como nós agimos e reagimos diante dos acontecimentos e das oportunidades! Ano novo só pode vir com atitudes novas! Vamos mudar? Gabriel Pensador canta que "quando a gente muda o mundo muda com a gente! O mundo vai mudando na mudança da mente! E quando a mente muda o mundo anda pra frente! Na mudança de atitude não há mal que não se mude, nem doença sem cura! Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro!"

Tivemos um 2020 com muitos desafios locais e globais. Tem muita gente desejando um 2021 diferente. Que este ano possa trazer mais saúde, dinheiro, amor, esperança, fé, união etc. Só que o ano não é uma transportadora para trazer isso ou aquilo! Somos nós que faremos ou não a diferença. Mas há coisas que não estão no nosso controle? Sim. Mas sempre é possível mudar o olhar, a maneira de enxergar. Tudo tem um lado bom, o famoso 'lado cheio do copo", como dizem. Isso não é só um clichê, na verdade, isso pode ser uma ótima filosofia de vida! Tivemos a pandemia, uma tragédia, uma catástrofe, uma confusão? Vamos olhar por outro lado? Obrigados a ficar mais em casa? Mais tempo para refletir na própria vida, uma grande oportunidade de valorizar e fortalecer ainda mais o lar e a família. Desemprego? Novas oportunidades também surgiram, muitos setores cresceram, muitas pessoas se reinventaram. Oportunidade de sermos menos consumistas, mais previdentes e melhores administradores das nossas finanças. Doença? Momento de fortalecer a imunidade e de investir mais na própria saúde. Estudos, tratamentos e recuperados da doença são maiores que as mortes. A vacina também pode chegar a qualquer momento, sendo a mais rápida da história. Mortes? Sempre triste, mas faz parte da consequência dessa e de outras doenças. Muitos mais pessoas estão nascendo, só que isso não é notícia. Que seja mais uma oportunidade de valorizarmos mais vida, a saúde e a presença dos nossos entes queridos! Cada encontro agora pode ser muito mais valorizado, único e especial. Com menos quantidade, podemos ter mais qualidade.

Enfim, como qualquer outra circunstância da vida, há pessoas que vão sair muito melhores do "2020 da pandemia", há aqueles que vão sair a mesma coisa e há aqueles que vão sair piores, infelizmente. A dor é professora rígida que ensina somente o bom aluno, o que quer aprender e melhorar, o que sabe que pode "fazer do limão uma limonada" (mais um sábio clichê). Quer uma dica de ano novo? Aprenda mais com as dificuldades e aproveite mais os bons momentos. Aprenda com os erros e celebre os acertos. No geral, seja bom ou seja mal, tudo passa, mas muita coisa pode ficar para ser a base forte de muita coisa que ainda virá! E para encerrar a reflexão, vamos do conhecido poema de Drummond, segue a sua Receita de Ano Novo:

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo, cor do arco-íris, ou da cor da sua paz. Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido). Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?). Para ganhar um Ano Novo não precisa fazer lista de boas intenções, para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas, nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."

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*O autor é palestrante e escritor nas áreas de desenvolvimento pessoal, espiritualidade e atualidades.

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