do G1
O sorriso largo e a alegria contagiante deram fama instantânea na internet a um deficiente físico conhecido em Campo Grande por vender balas em um semáforo do Centro da cidade. A foto em que Elizeu Casemiro, 38 anos, aparece sorridente, na cadeira de rodas e com caixas de balas no colo teve pouco mais de 35 mil compartilhamentos no Facebook, em duas semanas.
A publicação foi feita por um empresário campo-grandense que relatou o fato de Casemiro ter vendido um pacote de balas mesmo sem receber do empresário o valor de R$ 1. Surpreso com a humildade e alegria do cadeirante, o homem compartilhou a experiência na rede social e disse ter tido o prazer em conhecer uma pessoa como o vendedor ambulante.
O G1 acompanhou Casemiro durante uma hora, no fim de tarde, horário de maior movimento no cruzamento da rua Rui Barbosa e avenida Fernando Corrêa da Costa. O vendedor foi reconhecido por diversos motoristas que passavam pelo local. Alguns buzinavam, outros paravam para cumprimentar ou comprar balas, gomas e chicletes. Em comum, os amigos e motoristas elogiavam a fama instantânea do vendedor.
Perda de movimentos
Deficiente físico desde 1 ano de idade, Casemiro perdeu os movimentos das pernas por conta da poliomielite, popularmente chamada de paralisia infantil. A cadeira que ele usa atualmente foi doada por uma instituição de caridade da capital de Mato Grosso do Sul. Há cinco anos, quando estava afastado do emprego e com dificuldades financeiras, o cadeirante resolveu vender balas no semáforo para pagar as contas.
"Meu irmão sugeriu que eu vendesse no farol. Comecei com artesanato e poucas balas, e aos poucos percebi que as balas saíam mais. Então deixei de lado o artesanato", relata.
Ele conta que trabalhava como cobrador de ônibus coletivo e que foi afastado do trabalho depois de sofrer um acidente doméstico. "Cai em casa e acabei machucando mais a perna. Antes eu conseguia andar de muletas, depois desse acidente só uso a cadeira de rodas", lembra.
O equipamento foi adaptado por Casemiro com luzes e adesivos refletivos para aumentar a segurança na rua. O vendedor trabalha no local de segunda a sexta-feira, das 16h às 22h. Três vezes por semana, Elizeu sai mais cedo do trabalho para treinar basquete de rodas em uma escola estadual também no Centro da cidade.
Ele prefere não comentar a renda mensal que alcança com as vendas, mas garante que consegue viver e pagar as contas. "Sobrevivo só disso aqui, é minha única renda no momento. Dá para tirar um salário mínimo, que é o que a gente precisa pra sobreviver", conta.
De bem com a vida
"Boa-tarde, tudo bem? Vai uma balinha hoje?" "Opa, tranquilo, fica para próxima." "Se precisar já sabe, estou sempre aqui." Essas são algumas das frases repetidas pelo vendedor a cada abordagem nos carros. Espantado com a repercussão na internet, Casemiro diz que recebeu mais de 1,5 mil solicitações de amizade no Facebook em dois dias.
"Fiquei até com um pouco de vergonha, mas muito emocionado por ver os comentários das pessoas. Isso que eu fiz com ele eu faço com qualquer um. As pessoas às vezes não tem dinheiro, daí eu falo para levar, que pode pagar outro dia. É o meu jeito de trabalhar e o pessoal gosta", destaca.
Questionado sobre o sorriso constante durante o trabalho, o cadeirante garante que é assim sempre. "É o meu jeito. Eu sou assim o tempo todo, porque não tenho motivo para viver de outro jeito. Dificuldades todos nós temos, passamos por problemas, mas o negócio é manter o sorriso sempre."
Casemiro mora na Vila Nhá-Nhá, a cerca de cinco quilômetros do local onde trabalha, e só usa transporte público. Ele estudou até o ensino médio e diz que não pensa em fazer curso universitário, principalmente por falta de tempo. Após a fama na internet, diversas oportunidades de emprego surgiram para Casemiro. O vendedor afirma que vai estudar as possibilidades, apesar de não querer mudar de profissão. "Gosto do que faço, sou feliz fazendo isso aqui", afirma.
Clientes amigos
Vizinhos e motoristas que passam diariamente pelo local onde Casemiro trabalha compartilham da mesma opinião sobre a autoestima do cadeirante. Tiago Carneiro trabalha há um ano em uma empresa próximo ao local. "Venho aqui quase todo dia comprar. É meu amigo, conheço faz tempo e sempre está alegre assim", conta.
Simoni Servati parou no semáforo e comprou bala. Ela diz que o vendedor merece o momento de fama que tem passado. "Ele merece, é batalhador, está todos os dias aqui. Tem que dar os parabéns para ele. É um exemplo de vida." Ex-colega de trabalho de Casemiro, o motorista de ônibus João Gonçalves, 56 anos, revê o amigo quase todos os dias na rua. "Ele é sempre assim, sorridente, gente boa. É meu colega das antigas", afirma.
Vizinho do local de trabalho do ambulante, o autônomo César Augusto, 53 anos, elogia a forma de trabalhar do vendedor.
"É bonito demais o trabalho dele. Ele mostra para as pessoas que não é porque é deficiente que não tem força de vontade e alegria. Coisa que é difícil ver hoje em dia. Até quando ele tá com problema, ele tenta disfarçar, mas a gente percebe quando ele está menos alegra. Pela simplicidade dele, ele transmite simpatia. Ele é uma figura", diz.
Comentários