Uma história comoveu as redes sociais dos potiguares nos últimos dias. Um homem de 42 anos, desempregado, pediu a uma mulher, na boca do caixa de um supermercado em Parnamirim, para pagar um frango pra ele. Em casa, explicou o rapaz, só havia manga - para ele, o pai, a mulher e os três filhos.
Railson Rodrigues Freire ganhou o frango e também muito mais. Com autorização dele, a mulher que o ajudou e o marido compartilharam o episódio e o contato profissional do rapaz nas redes sociais e a história viralizou. A partir daí, Railson começou a receber vários contatos de trabalho.
Desempregado, ele faz bicos consertando eletrodomésticos, como máquinas de lavar, geladeiras e microondas. E, do dia para a noite, após a história ganhar repercussão, já não conseguia mais dar conta de tanta gente entrando em contato.
"Num dia, foi uma ligação atrás da outra. Ligou um, passou um minuto, ligou outro. Eu fiquei: 'não é possível, não, será que isso é uma pegadinha?''. Depois ligou mais três, mais outro, mais outro. E até agora tem gente que está ligando ainda. Eu estou tentando arrumar minha agenda aqui", contou Railson.
A mulher que o ajudou no supermercado, a jornalista Marina Gadelha, comemorou o serviços que têm aparecido para Railson. Ela disse também que a ajuda dada por ela e o marido, o advogado Robson Saldanha, não foi "nada de extraordinário, foi o mínimo".
"Quando eu cheguei em casa, muito emocionada, eu falei pro meu marido o que tinha passado. Ele também ficou muito tocado com a situação. Compartilhamos o contato dele com o maior número de pessoas possível. E ficamos muito felizes de ver que deu resultado. Agora ele está tendo serviço", disse.
"E pra mim, na verdade, eu não fiz nada demais, porque eu acho que todo mundo deveria olhar pro próximo e buscar tem um pinguinho de sensibilidade, um pouco de compaixão, de amor ao próximo. Foi isso que eu fiz. E eu não acho que tenha sido nada de extraordinário. O que eu fiz pra ele foi o mínimo".
O advogado Robson Saldanha, marido de Marina, relatou o episódio um dia depois do ocorrido no Twitter e a história viralizou.
"Quando minha esposa chegou em casa contando o que tinha acontecido e o jeito que ele a abordou, eu pensei: a gente conhece muita gente, o mínimo que nós podemos pode fazer, fizemos, que foi ajudar na feira. Mas vamos compartilhar o contato, não vamos esperar que as pessoas peçam".
Robson disse que fez um pequeno texto e também encaminhou "para que as pessoas salvassem o contato, porque certamente elas precisariam [do serviço] no futuro".
"Paralelo a isso, eu acabei fazendo um relato de desabafo no Twitter, que acabou tomando uma proporção muito maior do que eu imaginava, na qual eu explicava tudo que aconteceu e pedi que as pessoas de Natal, se precisassem de algum contato desse, entrassem em contato comigo. E isso tomou uma proporção muito maior", disse.
"Nós ficamos muito felizes com tudo que aconteceu com ele, porque a gente sabe que infelizmente é uma realidade que retornou e o mínimo que a gente puder fazer pra ajudar o nosso próximo, independente de esperar algo em troca, é o que a gente vai fazer".
Railson conta que essa foi a primeira vez que precisou pedir alimento na vida.
"Eu olhei pro mercado e disse: 'vou ali'. Eu tenho fé. Eu vou conseguir nem que seja uns dois miojos, mas eu vou conseguir. E a vergonha de pedir. Muita vergonha. Como eu vou fazer? Não, um miojinho, será que o pessoal vai me negar uma coisa assim?", se questionou.
Ele separou dois pacotes de macarrão instantâneo e um frango, "o mais baratinho, um pequeno". A ideia era pedir para alguém passar no caixa para ele um ou o outro. Foi quando abordou a jornalista Marina Gadelha.
"Eu estava na maior vergonha, tentando entender, peço ou não peço? Pedindo a Deus ali, que precisava me alimentar, estava há alguns dias só comendo manga. Eu fiquei naquele aperreio todo,.Nunca pedi em toda a minha vida. Estava ali, decidi ir no caixa. Falei com ela", disse.
"Eu disse: 'Eu queria só passar esse franguinho pra me alimentar com minha família'. Ela pegou arroz, feijão, flocos de milho. Eu morrendo de vergonha, suando ali. As lágrimas descendo naquele momento de desespero e tudo. E agradecendo a Deus", contou.
Railson está no Rio Grande do Norte, terra do pai dele, há cerca de três meses. Ele deixou Brasília após a morte da mãe e do irmão em 2020, mas também está sem emprego por aqui.
Marina disse que ao ver o carrinho dele vazio no supermercado, perguntou se ele precisava de mais algo e ele respondeu que "precisando, eu estou, mas se você já passar esse frango vai ser de grande ajuda".
Ela conta que ele relatou que só fazia isso pelos filhos, pois por ele "comeria qualquer coisa". "Eu fiquei muito tocada com aquilo. Eu fiquei emocionada e disse: 'Enquanto você está aí, precisando tanto, eu estou aqui com meu carrinho cheio'. Nesse momento, eu realmente senti ali como existe uma desigualdade muito grande no nosso país", pontuou.
"Enquanto eu tenho condições de encher o meu carrinho e fazer as compras do mês pra minha família, aquela pessoa ali estava com tanta dificuldade de comprar um frango pra poder dar de comer aos filhos".
Mesmo com os alimentos em casa, ele sequer tem fogão ou dinheiro para comprar um botijão de gás, que já ultrapassa os R$ 100 no Rio Grande do Norte.
"Agora as coisas estão tão difíceis. Tudo caro. muita gente com dificuldade, sem conseguir pagar o aluguel. Muita gente morando embaixo do viaduto, emprego tá difícil", falou.
Apesar das dificuldades, Railson diz só ter a agradecer. "Eu estou feliz, eu não tenho do que reclamar não, porque tem gente que está passando algo pior do que eu".
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