Enio Oliveira e Rosimeire Patussi nem se conheciam, mas já compartilhavam um sonho: viajar e desbravar o mundo. Em 2011, o representante comercial de Campo Grande e a nutricionista de Coxim se conheceram e, pouco tempo depois, iniciaram uma aventura em um motorhome.
Os sul-mato-grossenses se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento. Após uma semana de conversa, Enio foi até Coxim conhecer Meire. O romance deu tão certo que, depois de 30 dias de namoro, eles se casaram.
Escoteiro desde menino, ele sonhava em morar em um motorhome. Já ela, queria conhecer todos os cantos do mundo e falava isso para a família desde muito nova. Os sonhos se uniram e eles começaram a planejar a vida sobre as rodas.
Entretanto, o casal precisou enfrentar as reações da família. Foram chamados de loucos por alguns, disseram que ambos que tinham perdido o juízo. Inclusive, a mãe de Meire entrou em depressão e teve que passar por tratamento após a decisão da filha.
Contudo, a vontade de conhecer novos lugares e histórias sempre foi uma meta. “Eu tinha 15 quando comecei a falar para os meus pais que eu seria turista em casa quando aposentasse, que eu queria conhecer o Brasil inteiro”, relembra Meire.
Em 2011, o casal morou em Dourados de aluguel. Em 2012, compraram 'Touchê' [nome dado ao veículo] e o buscaram no Rio Grande do Sul. Cerca de oito meses, eles moraram dentro do veículo, que inicialmente não tinha autonomia. Ele foi preparado para chegar e conectar na tomada, as adaptações vieram depois.
Por isso, na época, o casal conseguiu autorização da prefeitura para estacionar o veículo na região central do município, “a semana que estávamos aqui, o nosso quintal era a praça Antônio João”. No restante do mês, eles circulavam pela região.
Decididos que queriam viver na estrada, ambos abandonaram as profissões e começaram a investir no sonho. A partir de então, adaptaram o motorhome para ser o lar da família, de forma que tivesse o conforto que teriam em uma casa em um local fixo.
Por fora, não é possível vislumbrar todo aconchego que o espaço proporciona. Equipado com máquina lava e seca, fogão, geladeira, pia, camas, ar-condicionado, televisão, aquecedor, banheiro, etc. E o melhor, agora tudo funciona a base de energia solar.
Inclusive, Enio se tornou especialista em instalação de energia solar e em tudo que se refere as adaptações de um motorhome. Com isso, ele virou uma referência entre os “motorhomeiros” e presta serviços na área. Até manual de boas maneiras para quem opta por esse estilo de vida ele já fez.
Uma curiosidade que ele fez questão de explicar à reportagem do Dourados News, foi sobre o funcionamento do abastecimento de água no automóvel e o descarte do material. Ao todo, são três caixas de água instaladas e cada uma tem a sua função.
Uma delas é de água potável, comum em qualquer residência; a outra é responsável por manter a água usada no banho e em atividades de lavagem, que pode ser reaproveitada para aguar as plantas ou jogar na grama, por exemplo.
Já a água negra ou de resíduos, especificamente da privada, fica em outro recipiente e é utilizado um produto biológico, responsável por “matar” as bactérias. Mesmo assim, essa água é descartada apenas em locais permitidos em cada cidade.
Solidão na estrada
A ideia inicial era conhecer todos os municípios de Mato Grosso do Sul e dos 79, eles já foram em 76. Entretanto, os caminhos os levaram para muito mais longe e, cerca de doze anos morando na casa sobre rodas, os sul-mato-grossenses carregam histórias de mais de quatro mil cidades por onde passaram; incluindo todas as capitais e Estados do Brasil.
Com aproximadamente 260 mil quilômetros rodados, eles também entraram na Guiana Francesa, Guiana Inglesa e Paraguai. E a intenção futura é completar os países da América do Sul, porém, o intuito é que tudo continue sem rota e nem data específica para chegar/ficar em cada local.
Questionados sobre a solidão na estrada, o casal diz que não existe, “a gente tem o orgulho de falar que conhecemos pessoas no Brasil inteiro”, diz Enio. E Meire complementa, “as vezes são amizades que chegam e estacionam para sempre, as vezes são amizades que passam pela gente”.
Com a moradia estacionada na região do Parque Alvorada há cerca de três semanas, o casal já recebeu diversos amigos. Vez ou outra é possível ver motorhomeiros com os veículos estacionados ao lado do Touchê, as cadeiras espalhadas pela grama e muito papo rolando.
Na porta do veículo, os apaixonados por viagens carregam adesivos com as bandeiras de todos os locais que já estiveram, e o mais especial, lembranças das pessoas que passaram por suas vidas e que de alguma forma ficaram marcadas.
Perguntados se teriam vontade de morar fixo em algum lugar, ambos foram enfáticos em dizer que não conseguiriam, “é igual tirar um peixe do mar e colar em um aquário”, exemplifica Enio. “A gente gosta de descobrir, do inesperado”, relata Meire.
Touchê
Segundo Enio, o nome do motorhome é Touchê em referência a uma tartaruga de um desenho animado, que contrariando a maior parte dos personagens baseados numa tartaruga, era rápida e ágil.
O animal é caracterizado com um chapéu semelhante aos dos mosqueteiros.
Além disso, a tartaruga carrega a própria casa nas costas, assim como é um motorhome, e é um animal não ataca ninguém, “se tem alguma coisa me prejudicando, não vou revidar, a gente se recolhe, fica quieto, fecha a porta e vai embora”, comenta Enio.
Foto interna: Enio e Meire dentro do motorhome
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