O fôlego guardado para o sprint final não foi suficiente. Ali, naqueles metros finais, Poliana Okimoto foi engolida pelas rivais que vinham lutando com ela pela medalha de bronze durante todo o percurso dos 10km.
A brasileira via seu sonho escapar depois de quase duas horas de briga intensa no mar de Copacabana. À sua frente, bem mais felizes do que ela, estavam a francesa Aurelie Muller e a italiana Rachelle Bruni.
A brasileira teria de se contentar com o quase. Ainda se refazia do esforço e do resultado dele quando viu no placar seu nome ganhar a terceira posição. A análise da arbitragem tirava Muller do pódio por ter segurado Bruni na hora da batida no pórtico de chegada. A prata e o bronze tinham novas donas.
O ouro continuava com a holandesa Sharon van Rouwendaal (1h56m32s), atual vice-campeã do mundo na distância e que também disputou os 400m livre na piscina nos Jogos do Rio. Ana Marcela Cunha, uma das favoritas, terminou em 10º lugar. Muller entrou com recurso, que está sendo avaliado.
- Não tenho palavras... - disse. Há quatro anos, Poliana amargava um dos momentos mais difíceis da carreira. As águas do lago Serpentine, no Hyde Park, pareciam tranquilas. A temperatura nem estava tão baixa assim, mas o corpo gritou.
Quando entrou na quinta volta das seis previstas, levantou o braço. Era o sinal de desistência. Deixou o local de cadeira de rodas, com um quadro de hipotermia. Nesta segunda-feira, depois de um ciclo discreto, ela viu a praia calma, parecendo uma piscina, do jeito que lhe é favorável.
Chegou cedo para se preparar. Poucos metros separavam a caminhada do hotel até a praia, feita próxima a Ana Marcela. Ela série, a companheira mais descontraída. Copacabana ainda estava preguiçosa às 7h15. Mas as duas estavam em alerta há muito tempo. Cada uma querendo escrever uma página mais bonita na trajetória olímpica. As duas estiveram juntas em Pequim 2008. Na ocasião, Ana ficou em quinto e Poliana em sétimo. Ao longo dos anos ajudando a transformar o Brasil numa potência das águas abertas.
Em 2009, Poliana fez o que parecia improvável duas vezes. Foi a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha num Mundial de Esportes Aquáticos, com o bronze em Roma nos 5km, e o título da Copa Mundo da maratona aquática vencendo nove das 12 etapas.
A prova
As brasileiras ia se mantendo no pelotão da frente. A polonesa Eva Risztov tomava a iniciativa de puxá-lo.
Na cola, Poliana aparecia. Ana ficava um corpo atrás da compatriota. As nadadoras ficavam emboladas nos primeiros 2,5km. Na metade da prova, a francesa Aurelie Muller, atual campeã do mundo, era o destaque. Na terceira, a holandesa Sharon van Rouwendaal conseguia desgarrar um pouco. Mas a distância logo se perdia. Eva Risztov encostava. Ana Marcela surgia nadando forte, aparecia em sétimo. Poliana passava pela boia em terceiro.
Van Rouwendaal retomava a ponta. Pela frente, os últimos 2,5km. Era a hora de atacar. Poliana ganhava uma posição. E perdia para a italiana Racheli Bruni. A chinesa Xin Xin também se apresentava para a briga por uma medalha. O ouro já parecia ter dona. A holandesa não era ameaçada pelas adversárias. Poliana caía para quarto, não desistia e lutava muito pelo bronze. Mas no sprint final, era ultrapassada. O esforço seria compensado minutos depois.
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