LUTO NA MÚSICA

Dulce Nunes, voz de 'Pobre menina rica' e dos anos 1960, morre no Rio

Dulce Nunes deixa discografia que compreende três álbuns lançados entre 1964 e 1968 — Foto: Reprodução internet Dulce Nunes deixa discografia que compreende três álbuns lançados entre 1964 e 1968 — Foto: Reprodução internet

 Em 1963, Elis Regina (1945 – 1982) ainda era cantora conhecida somente em Porto Alegre (RS) quando, já em busca de melhores oportunidades profissionais na cidade do Rio de Janeiro (RJ), foi uma das candidatas a dar corpo e voz à personagem-título do espetáculo Pobre menina rica.

Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), então no posto de arranjador do musical, preteriu Elis em favor de Dulce Nunes, jovem carioca que já atuara como atriz de cinema na década de 1950 e que tinha tido contato com músicos e compositores do núcleo da bossa nova quando promovia concorridas reuniões na casa em que morava com o marido, o pianista Bené Nunes (1920 – 1997), no bairro da Gávea.

Dulce Pinto Bressane (11 de junho de 1929 – 4 de junho de 2020) ficou com o papel-título de Pobre menina rica e começou, naquele momento, carreira de cantora que a levaria a gravar dois álbuns pela gravadora Forma, Dulce e Samba do escritor, editados em 1965 e em 1968, respectivamente. Entre um disco e outro, a cantora participou do antológico álbum Os afro-sambas de Baden e Vinicius (1966) com o canto de Tristeza e solidão (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966).

Foi essa cantora de atuação concentrada nos anos 1960 que morreu na noite de quinta-feira, 4 de junho, a uma semana de completar 91 anos, após dias internada em hospital da cidade natal do Rio de Janeiro (RJ). A notícia da morte de Dulce Nunes foi confirmada a amigos por Alexandre Gismonti e Bianca Gismonti, afilhados da cantora. A causa teria sido infecção pelo covid-19.

Embora várias fontes creditem o nascimento de Dulce ao ano de 1936, a cantora veio ao mundo em 1929 na mesma cidade do Rio de Janeiro (RJ) em que saiu de cena. Antes de gravar dois álbuns em carreira solo, Dulce Nunes debutou no mercado fonográfico com a gravação, em 1964, das músicas do espetáculo Pobre menina rica, cuja trilha sonora, inteiramente composta por Carlos Lyra com Vinicius de Moraes (1913 – 1980), legou canções como Primavera, Maria Moita e Samba do carioca.

Embora o musical tenha estreado em 1963 na boate carioca Au bon gourmet, com arranjos de Radamés Gnattali (1906 – 1988), esse repertório chegou ao disco somente em 1964 com a edição do LP com a trilha sonora de Pobre menina rica. Além da música-título Pobre menina rica, Dulce Nunes deu voz no disco à Canção do amor que chegou e dividiu com Lyra a interpretação de Valsa dueto.

No primeiro álbum solo, Dulce, gravado pela cantora em 1965 com arranjos orquestrais do maestro Guerra-Peixe (1914 – 1993) e o toque do violão de Baden Powell (1937 – 2000) em produção musical capitaneada por Roberto Quartin (1943 – 2004), Nunes registrou em tom de câmara um classudo repertório dominado por composições de Baden, Jobim e Vinicius.

No segundo e último álbum solo de Dulce Nunes, Samba do escritor, disco em que a cantora se apresentou como compositora ao musicar textos de escritores brasileiros em diversos ritmos, um dos arranjadores foi o pianista Egberto Gismonti, com quem a cantora sedimentou, a partir dos anos 1970, parceria na vida que se estendeu para a música. Ou vice-versa.

Desde então, Dulce Nunes atuou basicamente como cantora (convidada) de discos de Egberto, de quem se tornaria produtora e sócia no gerenciamento do selo Carmo e da empresa Carmo Produções Artísticas.

Tendo atuado também como decoradora por muito tempo, Dulce Nunes sai de cena associada à música dos anos 1960, década em que exercitou com certa assiduidade a bela e cool voz de soprano.

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