Na última quarta-feira (1º), o secretário municipal de Saúde de Guia Lopes da Laguna, Marcelo Gonçalves, precisou invadir uma pax no município para fechar o caixão de homem de 71 anos que era velado no local. O idoso, embora tenha morrido vítima de um aneurisma, havia testado positivo para covid-19 no dia anterior ao falecimento.
Gonçalves conta que, a princípio, a covid-19 não entrou no atestado de óbito do homem como fator que contribuiu para a morte. O exame de biologia molecular, porém, mostrou que ele ainda estava em fase aguda de infecção, quando a transmissão do vírus é maior.
“O médico do HR [Hospital Regional] disse para a família que não era covid-19, que poderiam fazer o enterro normal. O paciente saiu daqui [de Guia Lopes] com caso fechado, positivado para covid-19, então, pensávamos que ia chegar com o caixão lacrado, como manda o protocolo. Mas não. E tive que ir lá, mandar fechar o caixão”, conta Gonçalves.
O vírus não morre imediatamente com o paciente de covid-19. Por isso, a recomendação do ministério da Saúde é de que não ocorram velórios e funerais. Caso sejam realizados, o caixão deve ser mantido fechado durante todo o rito. Os enterros devem ser acompanhados por, no máximo, 10 pessoas, a fim de evitar aglomerações.
Agora, Vigilância Epidemiológica de Guia Lopes trabalha para rastrear quem foi ao velório, submeter a exames e isolar. O município distante 230 quilômetros de Campo Grande foi o primeiro do Estado a registrar surto de covid-19, iniciado em frigorífico local, mas conseguiu controlar o avanço da doença e hoje soma 252 casos confirmados.
O secretário estadual de Saúde (SES), Geraldo Resende, comentou sobre o caso no velório em Guia Lopes da Laguna durante transmissão ao vivo nesta sexta-feira (3). Segundo ele, o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) acrescentou ao atestado de óbito do idoso de 71 anos que ele faleceu com covid-19.
Marcelo Gonçalves lembra que as outras duas mortes por novo coronavírus de Guia Lopes não precisaram do protocolo rígido de funeral.
“Foram por causa do covid-19, mas no momento do enterro já não transmitiam mais o vírus. Estavam internados há mais de 30 dias”, conta.
Padrão - O ministério da Saúde orienta que médicos redijam diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus em atestado de óbito mesmo que a doença não faça parte da cadeia inicial da morte.
Não há, porém, nenhuma orientação institucional sobre velórios e funerais de pessoas que faleceram após contaminação pela doença, mas já na fase em que o vírus não é transmitido.
O presidente do Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira, detalha a covid-19 tem fase de transmissão e de doença.
"Depois de um mês de infecção ele não está mais com covid-19, mas ela provocou vários efeitos negativos nesse paciente. Se estiver com IgG positivo, quer dizer que já produziu anticorpos, está curado, mas a pessoa vem a falecer por complicações, como pneumonia", explica.
Para o médico, o ideal é que todo óbito provocado por complicações da covid-19 não seja seguido por rituais fúnebres.
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