“Depois de lutar muito contra a balança e me frustrar, decidi me aceitar como sou. Eu me amo e valorizo o que há de melhor em mim, independente dos quilos a mais. Os comentários sobre o excesso de peso só pararam de me incomodar quando deixei de dar importância a eles”.
Aos 37 anos, “baixinha e gordinha”, como se descreve, a modelo Yuri Bastos Matsumi realizou o seu maior sonho. “Queria ser miss, mas mesmo magra sempre fui baixinha. Tentei ser miss nikkei, mas não era japonesa o suficiente! E acima do peso achei que jamais realizaria esse sonho”. Mas, ela chegou lá! “Sou a vencedora do Voto Popular e na classificação geral do concurso mundial de beleza Plus Size, o Miss Universo Ronde, eu fiquei em 3º lugar”, se emociona. Lembrando que o requisito principal para participar do concurso é justamente possuir aquilo que sempre a incomodou: manequim a partir do número 44, ou tamanho G.
Moradora do bairro do Morumbi há cinco anos, Yuri parou de tentar seguir padrões impostos pela sociedade e de se entristecer com frases, comuns para os gordinhos, como “você tem um rosto tão lindo, por que não cuida do corpo?”. Hoje se aceita como é, e o melhor de tudo, se ama sem se punir! Isso não significa que ela tenha desistido de emagrecer ou de cultivar hábitos saudáveis. Para ela, agora é possível se olhar no espelho e gostar do que vê, mesmo porque, ela não está sozinha: metade da população brasileira tem sobrepeso.
Há quanto tempo você mora no Morumbi?
Yuri - Moro no Morumbi há cinco anos. Vim pra cá pra ficar mais perto do trabalho do meu marido , no Itaim, pra tentarmos fugir um pouco do trânsito... Não sei se conseguimos, mas pelo menos estamos mais perto. (risos)
Como é a sua relação com o peso, os padrões, a estética?
Yuri - Depois de muito lutar com a balança e me frustrar, decidi me aceitar como sou. Isso não significa que eu tenha desistido de emagrecer ou de cultivar hábitos saudáveis. Significa que decidi me amar e valorizar o que há de melhor em mim, independente dos quilos a mais. Demorei um pouco para me assumir Plus Size. A sociedade impõe padrões de beleza muito difíceis de serem atingidos. Alguns deles fogem totalmente do biótipo da grande maioria da população, e isso gera uma frustração muito grande, especialmente em nós mulheres. Mas posso afirmar que é possível sim estar fora dos padrões, se olhar no espelho e gostar do que se vê. A autoestima é um exercício diário, pois temos que desconstruir muitos mitos instituídos pela mídia e pela sociedade.
Você já fez outros trabalhos como modelo? Desde quando trabalha nessa área?
Yuri - Tudo aconteceu muito rápido. Relutei uns bons meses para tentar a carreira de modelo Plus Size. Talvez por medo de não dar certo, pela opinião das pessoas... Resolvi tentar. No começo do ano enviei algumas fotos que eu tinha em casa para algumas agências. Em duas semanas estava desfilando no maior evento de Moda Plus Size do Brasil, o Fashion Weekend Plus Size. Em menos de um mês já estava fazendo minha primeira viagem como modelo para desfilar em Santa Catarina.
O que há de melhor e de pior nesse trabalho?
Yuri - No trabalho posso dizer que, por enquanto, só tenho visto pontos positivos. Mas acho que as pessoas com sobrepeso ainda não são totalmente bem vistas pela sociedade. Um paradoxo, já que mais de 50% da população brasileira está acima do peso! Já sofri muito com o olhar crítico das pessoas, com a cobrança pela magreza. Fora aqueles comentários clássicos, do tipo: “nossa, o que aconteceu com você”? ou “você tem um rosto tão lindo... que pena que não é magra!”. São tantos que poderia fazer uma lista! Mas os comentários deixaram de ter peso quando eu deixei de dar importância a eles.
Você é assessora de eventos. Isso te ajudou na profissão de modelo?
Yuri - Já trabalhei com tanta coisa, que posso dizer que sim. Fiz produção de eventos, de moda, de fotografia, trabalhei com assessoria artística. Sou Fisioterapeuta de formação e também estudei Artes Plásticas. Posso dizer que este “samba-do-criolo-doido” me rendeu bastante experiência em várias áreas. Procurei mesclar uma pitadinha de bom de cada profissão e aplicar no meu trabalho de modelo.
Uma vez o Steve Jobs disse “Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente; você só consegue ligá-los olhando pra trás. Então você tem que confiar que os pontos se ligarão algum dia no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, carma, o que for”. Esta frase me chamou muito a atenção e eu disse pra Deus que queria ver os pontos por onde passei ligados de alguma forma. Estou feliz porque agora encontrei o meu caminho.
Por que decidiu se candidatar ao concurso?
Yuri - Ser Miss era um sonho de criança, mas todas as circunstâncias contrariavam. Mesmo quando era nova e magra, não tinha altura suficiente. Queria ser miss Nikkei, mas não era japonesa o suficiente. O tempo passou, com ele trouxe quilos a mais e levou embora o sonho, até então, impossível. Hoje, estou contrariando as circunstâncias. Aos 37 anos, baixinha e gordinha, estou entre as finalistas de um concurso mundial. A vida é mesmo incrível.
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