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Em estado crítico, professor terena é transferido de avião para UTI na Capital

Paulo Batazar está entre 139 infectados pela covid entre os indígenas terena; doença pode ter matado em 48h 6 índios em Aquidauana

Paulo Baltazar, professor universitário, durante homenagem na Assembleia Legislativa em Campo Grande (Foto: Divulgação) Paulo Baltazar, professor universitário, durante homenagem na Assembleia Legislativa em Campo Grande (Foto: Divulgação)

O colapso cerca a região de Campo Grande que tem nesta quinta-feira (23) 91% de ocupação em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mesmo com ampliação das vagas nesta semanas. Em estado crítico, professor terena Paulo Baltazar, de 59 anos, foi trazido de Aquidauana em UTI aérea para leito do Hospital do Pênfigo, unidade que teve UTIs ampliadas ontem e já está com 90% das 10 vagas ocupadas.

Enquanto as UTIs da Capital colapsam, os números crescentes de casos de covid-19 entre índios da etnia Terena na região de Aquidauana pressionam ainda mais Campo Grande.

Segundo boletim organizado pelo Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) de Mato Grosso do Sul são 139 terenas contaminados pela covid no Estado, em aldeias de norte a sul. Até quarta-feira (22), cinco pessoas da etnia haviam falecido pela doença, incluindo o caso mais recente confirmado, e o mais jovem entre as vítimas, com apenas 31 anos.

A reportagem levantou que entre as aldeias povoadas pela etnia em Aquidauana e Anastácio, a doença pode ter matado seis índios pela doença nas últimas 48 horas. Há 2 casos confirmados e quatro mortes ainda investigadas.

Urgência – Paulo Baltazar tem histórico de hipertensão e diabetes. O professor universitário, indígena terena, foi trazido às pressas nesta manhã, depois de agravamento no quadro de saúde enquanto estava internado no hospital da Cassems em Aquidauana.

A reportagem levantou que o paciente precisou de ação de urgência, marcada, inclusive, pela dificuldade de encontrar ambulância equipada para levá-lo até o aeroporto.

Formado em Geografia pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e mestre em ciências sociais pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, esteve há uma semana na aldeia Bananal em Aquidauana, onde mantém projeto social. O Campo Grande News apurou que ele havia demonstrado preocupação com o contágio crescente e com a própria saúde, pelas comorbidades que apresenta.

A aldeia integra um total de 11 aldeamentos na Terra Indígena Taunay Ipegue em Aquidauana, onde os casos aumentaram desde a última semana. Célio Fialho, cacique da aldeia bananal, também está internado para tratar a covid-19.

Por meio da assessoria de imprensa, a Cassems disse que o professor não pode ser transferido por UTI  móvel terrestre pelo estado grave que apresentou durante a manhã. "Tanto a equipe médica do Hospital Cassems Aquidauana quanto das unidades móveis estiveram no cuidado para que não agravasse risco durante o transporte”, disse o hospital por meio de nota.

“Paciente já foi transferido da Unidade Hospitalar para o aeroporto particular do município, pela empresa Amapil, e o mesmo será assistido pela equipe do Hospital Adventista do Pênfigo, unidade credenciada. A Cassems reafirma que os cuidados envolvidos estão sob rígido acompanhamento”, diz a nota.

Colapso e falta de estrutura – Aquidauana tem chamado a atenção desde o início da pandemia pelo sucateamento e falta de equipes de saúde no polo base do Dsei, ligado à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Até ontem, quarta-feira, havia apenas 1 médico para atender toda as aldeias de Aquidauana e Anastácio.

Conforme já havia mostrado o Campo Grande News, quando o profissional ficou doente em maio, as aldeias ficaram dias sem atendimento. Ainda assim, o que a lei determina é que a Sesai é responsável apenas pela saúde básica. Ou seja, internações hospitalares e demais atendimentos especializados devem ser recebidos pelo sistema de regulação do SUS (Sistema Único de Saúde).

Equipe de apoio foi cedida pela Prefeitura de Aquidauana e pela Missão Caiuá – gestora das contratações da Sesai em Mato Grosso do Sul -, mas os pedidos de ajuda para a Prefeitura e para a Missão, detentora de contratos milionários, ocorrem desde o início da pandemia.

Com o complemento que foi oficializado ontem, as aldeias contam com mais três médicos: uma médica da Missão Caiuá e 2 médicos ligados à saúde municipal em Aquidauana. A Prefeitura também cedeu três enfermeiras.

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