O perfil “Elizabeth Brum”, jovem que de acordo com a postagem é moradora de Campo Grande, foi responsável por criar movimento, na noite de segunda-feira (1), que em poucas horas reuniu centenas de relatos de violência, estupro e abuso sexual infantil, ocorridos em Mato Grosso do Sul, e levaram o assunto às chamadas “trending topics”, o topo do Twitter no Brasil.
Com quase 8 mil publicações com a hashtag #exposedcg, o movimento de exposição acompanha tendência que se fortalece entra as mulheres nos últimos anos: expor seus agressores e abusadores, homens, nas redes sociais, dando força umas às outras. Foi movimento similar que desencadeou, por exemplo, o #metoo, que levou de Harvey Weinstein, gigante da produção cinematográfica de Hollywood.
Além da exposição, os relatos até de meninas ainda menores de 18 contemplam desde abusos em ofertas de books fotográficos “de fotógrafos famosinhos” até professores que as assediavam na escola. Alguns relatos são chocantes.
“Isso tudo aconteceu quando eu tinha onze anos, naquela época eu pensava nisso todo dia, ja tinha uma noção do tão grave isso é, além de pedófilo ele era um abusador (sic)”, conta uma das meninas, que foi beijada e tocada a força por um primo de 20 anos, segurada no sofá da sala durante toda a noite, quando estava com a família em uma festa de aniversário.
“As alunas do JM (Joaquim Murtinho) sabem bem como é a sensação de ser assediada dentro da escola e não serem ouvidas...”, conta outra vítima, ao dizer que no colégio o caso era “abafado” pela direção. “São professores concursados, não podem sair assim”. “Esse professor trabalha aqui há anos, jamais faria isso, ele tem filha e é casado”.
Todos os relatos tem ao final o #exposedcg, uma tag que na tradução livre do inglês significaria expostos de Campo Grande.
“Vou te deixar com a nota na média pq sei que vc é boazinha, mas tem q melhorar o comportamento na minha aula tá? Enquanto passava a mão no meu cabelo e escorria pelas costas até quase pegar na minha bunda EU TINHA 14 ANOS (sic)”, conta a vítima.
Horas depois do primeiro post, o perfil de Elizabeth postou ter recebido “mais de 150 mensagens” privadas com relatos de abuso. Chama a atenção o que parece ser um cenário generalizado de pedofilia e abuso sexual infantil debaixo do nariz das famílias e autoridades da cidade.
“Não podemos ter vergonha ou medo de confessar, abuso/agressão/etc são CRIMES que não podemos deixar passar. sinta-se livre e se quiser, eu posto em anonimo aqui. você não tá sozinha! (sic)”, incentiva outro post.
O movimento inclusive incentivou outras cidades de Mato Grosso do Sul, como Dourados, onde já começam a surgir relatos com a tag #exposed. Acusações de abuso sexual em festas organizadas pelas Atléticas nas universidades públicas do Estado, como a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) também aparecem.
“Vocês não estão sozinhas. A culpa não está na roupa que a mulher usa, no que fala, não está no seu comportamento, no ambiente inadequado ou no que posta na internet. A culpa é do agressor, não da vítima. Todo mundo deveria se policiar nisso”, conforta uma das jovens.
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