Por: Sérgio Roberto Barcellos
Amigos, li há tempos o texto abaixo. Gostei e guardei. Os personagens ajudam a entender melhor o Brasil. O texto é narrado por um professor universitário, psicólogo, psicopedagogo, de nome Pedro Paulo Cardoso de Melo. Repasso a todos para reflexão. Boa leitura.
“Numa tarde de sexta-feira, recebi um telefonema de um amigo me convidando para ir a um churrasco na sua casa. Acontece que na naquela noite eu tinha que dar aula na faculdade. O problema é que eu queria ir ao churrasco, mas como? Bem, eu agi como, geralmente, todos nós agimos: fiz de conta que estava cumprindo com a minha obrigação quando, na verdade, satisfiz o meu prazer. O churrasco começava às oito da noite e a aula às sete e meia. Fui à faculdade, registrei a aula, fiz a chamada e inventei uma aula de leitura na biblioteca, abandonando a turma. Saí para o churrasco querendo acreditar que cumprira meu dever de professor.
No churrasco, fiquei numa mesa com o dono da casa, que é médico, o amigo que estava sendo homenageado, que é policial, um amigo do homenageado que é advogado e político, e a sua esposa que é universitária e estuda no período noturno.
O assunto era um só: a roubalheira dos nossos políticos e a passividade da sociedade (todos nós) mediante a podridão do episódio do mensalão (o texto é daquela época). Todos estávamos revoltados e propondo soluções para o melhor funcionamento da máquina pública e para o resgate da ética entre a classe política.
Num dado momento, o telefone do dono da casa tocou e ele se afastou para atender. Retornando, disse com raiva: “Não dá pra trabalhar com certas pessoas.” Naquela noite, ele estava de plantão no hospital, mas chegou lá cedo, visitou alguns pacientes e leu "por cima", os prontuários. Depois foi para casa e deixou como recomendação: "Só me liguem em caso de extrema emergência ou se aparecerem pacientes particulares". Estava aborrecido porque a enfermeira lhe telefonara só porque chegou um sexagenário com suspeita de infarto. Ele "receitou" medicamentos pelo telefone e disse que a enfermeira só devia ligar de novo se acontecesse algo grave.
Para aliviar o clima, perguntei ao amigo que estava sendo homenageado se já havia feito a sua mudança de casa. Ele respondeu que sim e, que isso não tinha lhe custado nada, pois o dono da transportadora lhe havia retribuído "um favor". Meses antes, ele tinha "resolvido" uns probleminhas de multas nos seus carros que poderiam lhe custar a habilitação e, até mesmo, a sua empresa.
Aí, a esposa do político liga para uma colega que também fazia mestrado para saber se ela tinha respondido à chamada por ela enquanto ela estava no churrasco, pois ela já estava "pendurada nas faltas" nessa disciplina e não poderia ser reprovada. E, feliz, sorriu com a resposta da colega: dera tudo certo.
Em outro momento, o anfitrião pergunta ao político como iria ficar o caso de uma certa pessoa. E ele respondeu que tudo estava indo bem, o problema era que na secretaria almejada já havia alguém concursado ocupando o cargo que tal pessoa pleiteava. Mas que ele não se preocupasse, pois estavam estudando uma medida legal (?) para transferir o dito cujo de setor para que a vaga pretendida pudesse ser ocupada pelo tal “fulano”.
Em meio a tudo isso, não deixávamos de falar das CPIs, da corrupção dos políticos e da cumplicidade da sociedade que, apática, não movia uma palha para mudar nada.”
No texto da época, o Professor Pedro Paulo lembrou-se do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, que dizia: "Nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade. Esse negócio de dizer que as elites são corruptas, mas que o povo é honesto, é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável". Pesado esse pensamento, não??? (O grifo é meu)
O Professor Pedro Paulo fez uma autocrítica: -O melhor era que eu não precisava fazer qualquer pesquisa para concordar com o escritor. A sua afirmação estava magistralmente retratada no meu comportamento e no comportamento dos meus amigos naquela noite e naquele churrasco que eu havia frequentado.
Continuou sua narração, dizendo: -É bom não esquecer que nossos políticos não vieram de Marte, mas do nosso meio, corrompidos por nós, corruptos e corruptores. O real motivo para a sociedade apenas assistir a toda essa decadência não é apatia, mas cumplicidade.
E encerrou sua reflexão, dizendo: -Se, pelo menos, cada um de nós que teve a oportunidade de ler e compreender as sutilezas deste artigo, conseguisse sair deste gigante “mensalão” que é a rotina de nós, brasileiros, já estaríamos contribuindo, e muito, para a melhoria do nosso país.
Acabei concordando com o Professor. E você, leitor? Um abraço a todos.
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