O prazo para quem não tem o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) fazer a inscrição terminou na última quinta-feira (30) e agora os estudantes que não conseguiram os contratos buscam resolver sua situação nas faculdades. Uma aluna, que acreditou que teria o crédito, tem agora uma dívida de quase R$ 20 mil com o banco e a instituição.
Nathalia Campos, de 20 anos, pegou um empréstimo no banco para pagar as duas primeiras mensalidades do curso de medicina na Faculdade Brasileira (MultiVix), em Vitória. “Eu acreditei que conseguiria o contrato do Fies e me endividei. Pensei que a situação se resolveria rapidamente”, afirma a estudante, que paga R$ 4.800 mensalmente para fazer o curso.
Com as duas mensalidades atrasadas e o empréstimo do banco, a jovem afirma ter uma dívida de quase R$ 20 mil. “Vou tentar negociar com a faculdade. Não quero sair agora, ou eu terei me endividado à toa. Vou me apertar mais um pouco e tentar, pelo menos, terminar o primeiro semestre.”
Nathalia procurou a faculdade na tentativa de conseguir um desconto, mas só conseguiu que tirassem os juros das mensalidades atrasadas. “Eu tenho até 30 de junho para pagar os quatro meses que faltam para a faculdade. Dois meses estão atrasados e tem os outros dois meses pela frente”, explica a jovem, que trancará a faculdade assim que concluir este período. “Eu não tenho condições de ficar pedindo empréstimo até o ano que vem. É isso ou largar. E eu vou ter que largar.”
A jovem, que fez quatro anos de cursinho, voltará a estudar para tentar faculdades públicas. “Estou muito frustrada e me sentindo humilhada. O dever do Estado é dar educação. E eu não estou pedindo que me banquem, estou pedindo um empréstimo.”
Funcionário público
José Ilario da Conceição Júnior, de 30 anos, é funcionário público e estuda engenharia civil na faculdade Novos Horizontes, em Belo Horizonte. Desde o dia 23 de fevereiro tentou se cadastrar no site do Fies, mas o erro M321, que indica que não há mais vagas na faculdade, o impedia de se inscrever.
Com a bolsa de 50%, o estudante paga R$ 539 de mensalidade. Sem conseguir o crédito, Conceição continuará tentando o Fies. “Eu vou pagando até o ano que vem. Lógico que eu vou ficar apertado, mas agora a prioridade é estudar”, afirma.
De acordo com Conceição, muitos dos seus colegas conseguiram o crédito. “Muitos alunos da minha sala conseguiram. Eu liguei no MEC, mandei e-mail mas não me atenderam e nem responderam”, ressalta o estudante.
Apesar de conseguir pagar as mensalidades do curso, Conceição lamenta pelos outros estudantes. “Eu ainda consigo apagar, apertando daqui e dali eu consigo. Mas tem muita gente que vai ser obrigada a abandonar um sonho porque não investiram na educação. As pessoas querem evoluir, fazer faculdade, e você não consegue porque cortaram gastos.” Em Porto Alegre, alunos de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) pensam agora em largar o curso.
“A gente não sabe o que fazer. Muita gente está pensando em sair da universidade, largar tudo”, lamenta Lana Nicheletto. “Sem dúvida nenhuma eu vou ter que parar de cursar o sonho da minha vida, dependendo do Fies”, admite Rafaela de Tanico.
Em nota, a PUCRS informou que ofereceu outras linhas de financiamento aos calouros, mas os alunos dizem que é inviável. “Esses financiamentos, eles nos oferecem 50%, e você tem que pagar os outros 50% da mensalidade. Como nossa faculdade custa R$ 6 mil, você ainda teria que pagar quase R$ 3 mil”, aponta o estudante Felipe do Nascimento.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Coelho Furtado, informou nesta terça-feira (5) que entregou um ofício nesta manhã na Presidência da República pedindo à presidente Dilma Rousseff a destinação de mais verbas neste ano para o Fies.
O objetivo é garantir o cumprimento de uma decisão da Justiça Federal de Mato Grosso que determinou a reabertura do Fies para novos contratos, por tempo indeterminado. Nesta segunda (4), antes mesmo de ser notificado da decisão, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, disse que iria recorrer, mas afirmou que a pasta já esgotou os R$ 2,5 bilhões previstos para novos contratos pelo programa, tornando "inútil" a reabertura das inscrições.
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