Nos últimos dias, os termos Velhobia e Etarismo estiveram em evidência devido a um fato ocorrido na sexta-feira, 10, quando viralizou um vídeo onde três calouras de Biomedicina da Universidade Unisagrado, em Bauru, debocham da acadêmica Patrícia Linares, de 44 anos.
Em parte do vídeo, elas falam 'Devia estar aposentada', ironizando a idade da mulher que começou a estudar na instituição neste ano. Após a repercussão do caso, outros estudantes da mesma sala homenagearam a colega.
Um relatório sobre etarismo publicado pela Organização Mundial da Saúde aponta que uma a cada duas pessoas no mundo pratica o preconceito de idade contra pessoas mais velhas, com consequências graves e de longo prazo para a saúde e para o bem-estar dos que passam pela situação.
Em vídeo publicado no Ted Talks, Mirian Goldenberg, que é antropóloga, palestrante e escritora, adverte “a única categoria social que todo mundo é, é velho. A criança e o jovem de hoje são os velhos de amanhã. Esses velhofobicos estão construindo os seus próprios destinos como velhos”.
“Lutar contra a velhofobia é lutar pela nossa própria velhice e, principalmente, lutar por uma sociedade com mais saúde, dignidade e autonomia para os nossos filhos e netos, os velhos de amanhã”, considera Mirian.
Em Dourados, a servidora pública aposentada Joana Romero, 58, diz já ter sentido o preconceito na pele. “Especialmente no trânsito, as pessoas estão sempre com muita pressa, mesmo em locais que o limite máximo de velocidade seja, 50, 60 km/por hora, você tem que aumentar a velocidade senão já buzinam pra você e em alguns casos te xingam de “velha”", relatou.
Especialista em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Joana considerou o preconceito, muitas vezes velado, para uma mudança na carreira profissional. “Já senti esse preconceito na profissão e esse foi, também, um dos motivos que me motivou a pedir a aposentadoria, para dar lugar aos mais jovens”, comentou.
Para desmistificar a pessoa da terceira idade, a escritora e historiadora douradense Joana Prado Medeiros, de 65 anos, escreve o “Diário de uma Idosa”, como forma de dar voz às diversas ausências da pessoa idosa, especificamente da mulher.
O projeto nasceu durante a pandemia, “para fazer frente a um processo de isolamento social seguido do isolamento interior, resolvi escrever para não morrer”, enfatizou Joana Prado.
A ideia é proporcionar identidade e pertencimento aqueles que viveram o final dos anos 1960, 70 e 80.
Questionada sobre discriminações vivenciadas, Prado cita idas a salões de beleza. “Sentar junto a inúmeras e lindas mulheres todas fazendo às suas unhas e você sentar e sentir um mal-estar insuportável, o assunto mudou e parecia que as mulheres não queriam falar assuntos de mulheres perto de uma idosinha de cabelos branquinhos”, comenta.
O estigma se sobrepõe, ainda mais, quando as características físicas evidenciam a idade. “A mulher idosa de cabelos brancos não é vista como mulher ela é uma senhorinha, uma vovozinha, ela é o raio que o parta...mas, "mulher", que mulher linda!!! Ah isso não”, relata a escritora.
Mercado de Trabalho
O preconceito com a idade é um fator notório e excludente no mercado de trabalho e ele pode estar presente em dois momentos: no recrutamento, quando é estipulado a faixa etária; e na retenção do talento, quando a pessoa mais velha é colocada de lado em projetos mais desafiadores.
Conforme o consultor empresarial, Leandro Camilo, isso ocorre porque “há uma crença infundada de que pessoas mais velhas são menos produtivas, menos flexíveis e têm mais dificuldade em aprender novas habilidades”.
As empresas devem adotar políticas inclusivas que valorizem a diversidade etária e garantam oportunidades justas de emprego para todas as faixas etárias. “Pessoas mais velhas podem trazer uma riqueza de experiência, conhecimento e habilidades valiosas para o local de trabalho”, cita Leandro.
“As empresas precisam estar preparadas para lidar com uma força de trabalho cada vez mais diversa em termos de idade. Ao contratar novos funcionários, as empresas devem levar em consideração o valor da experiência, conhecimento e habilidades”, pontuou o consultor empresarial.
A escritora Joana Prado lida com o dilema da idade no campo profissional. “Eu estou procurando um trabalho, sou aposentada e gostaria de fazer algo novo e quem diz que consigo? Estou há três anos buscando e nada. Em um país que loguinho seremos uma população cuja a maioria será de idosos”.
“É necessário colocar a ferida à mostra e começa em casa, a sociedade em suas esferas institucionais deve repensar e refletir sobre. A acessibilidade em relação aos idosos deve ir além das questões corporais, físicas, mobilidade, acessibilidade social, culturais, lugares de entretenimentos”, adverte Joana.
*Foto interna: Escritora Joana Prado
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