As estradas acreanas, brasileiras e da América do Sul deixaram de ver a cena de um motociclista de 76 anos em uma Honda Biz 125cc de 16 anos de fabricação, cheia de adesivos e com a placa "Volte vivo papai" percorrendo longos quilômetros com destinos inimagináveis. No último mês de julho, Jozue Meza Pereira, o Gaúcho faleceu vítima de um infarto fulminante, deixando para os amigos e familiares a lembrança de longas viagens e encontros realizados em vários países e com a companheira Trixilica, ao qual carinhosamente chamava a Biz.
Em janeiro deste ano, Gaúcho percorreu mais de 12 mil km em de Rio Branco até Montevidéu, na capital do Uruguai, retornando à capital acreana, uma viagem que contabilizou 87 dias.
De acordo com Monique Naiá, uma dos cinco filhos de Gaúcho, após a viagem até Montevidéu, o pai realizou outra desta vez de avião, no final de junho onde sentiu-se mal, com falta de ar, e no dia 5 de julho, após sentir fortes dores, ainda socorrido, não resistiu. "No dia 4 ele foi diagnosticado com um princípio de pneumonia. Foi medicado e veio para casa. No dia 5 sai com ele para resolver uns assuntos e ele estava bem, passou o dia bem, mas a noite logo após se deitar ele começou com uma forte falta de ar. Tentei leva-lo a UPA, mais ele não resistiu e teve um infarto fulminante", contou.
Naiá lembrou que apesar da preocupação, o pai fazia o que gostava, viajava o mundo e retornava com novas histórias. No espelho da moto, Gaúcho carregava um boneco que se destaca em meio a inúmeros adesivos dos locais que passava. "Tínhamos preocupação sim, mais ele fazia o que gostava era esse nosso conforto. Pois sabíamos que ele retornaria sempre bem. Mas além da Trixilica, o porquê do nome eu não sei, ele viajava com um boneco amarrado ao espelho chamado Cimistácio Vadisquite Atorrante Pelandrum. (Kkkk), nomes que ele criava", lembrou a filha.
Jozue nasceu em Uruguaiana e casou-se com uma acreana e morou Estado por mais de 30 anos. Como motociclista, não obteve nenhuma multa ou se envolveu em acidente de trânsito desde que começou a pilotar motocicletas, há cerca de 54 anos. Gaúcho foi sepultado no Acre, cidade a qual escolheu para morar.
"Partiu, num rabo de foguete, aquele que foi o HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO!
Meu tio Jota, o ìndio ... ainda este ano passou aqui em casa, no usual circuito pelas rodovias deste imenso Brasil. No café da manhã, rimos muito, discutimos mais ainda e choramos ... mas um bocadinho só....fruto da intensidade que sempre colocava em tudo que fazia. Depois, .lá foi ele em sua velha companheira Honda Bis de 100cc...com que fez muito mais de 200.000km. Nessa motinho ele atravessou, florestas, pântanos, desertos e, inclusive, as cordilheiras dos Andes no rigor do Inverno. Com ela visitou todos os amigos e familiares, um a um, onde quer que estivessem e, pelo menos uma vez a cada 3 anos, desceu do Acre ao Rio de Janeiro, do RJ ao Rio Grande do Sul e traçou todo o caminho de volta com uma disposição de guri e amor pela vida mais que fenomenal. "Para dormir, um colchonete basta ...dêem-me algumas bananas, um pedaço de queijo e uma boa cachoeira para tomar banho que sou o Homem Mais Feliz do Mundo" ...Na última viagem, início deste ano, cego de um olho, 76 aninhos de vida me disse: "Guria, acho que agora vou aposentar a tribilika, essa é a última viagem que faço na motoca... " E era mesmo! Andar de moto pelo mundo afora ficou pequeno para o tio Jota, melhor mesmo foi dar um suspiro forte, pegar no rabo do foguete e partir rumo ao universo sem fim ...", escreveu Soraya Dos Santos Pereira em homenagem à Jozue Meza Pereira.
Mais histórias sobre o pai podem ser obtidas pelo e-mail disponibilizado pela filha de Gaúcho, Monique Naiá: moniquenaia45@gmail.com
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