Operação ‘La Casa de Papel’ desencadeada na manhã desta quarta-feira (19/10) mira quadrilha responsável por implementar esquema de pirâmide financeira transnacional em mais de 80 países. As ações são realizadas pela Polícia Federal, Receita Federal do Brasil e Agência Nacional de Mineração.
As investigações começaram após a prisão em flagrante de duas pessoas. Elas se deslocavam para a região de fronteira com o Paraguai utilizando escolta armada. Na abordagem, foram encontrados com os suspeitos esmeraldas avaliadas em 100 mil dólares, que estavam ocultas e não tinham origem legal.
De acordo com a PF, durante os trabalhos descobriu-se a existência de esquema de pirâmide financeira que captou recursos de mais de 1,3 milhão de pessoas, em mais de 80 países.
O prejuízo estimado ‘aos investidores’ é de R$ 4,1 bilhões, “cujas operações teriam se iniciado em 2019, estando em curso e pleno desenvolvimento até o momento de deflagração da operação”, diz a polícia.
A operação acontece em seis Estados por determinação da 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande.
Os investigados podem responder pela prática dos crimes de organização, crimes contra o sistema financeiro por operar sem autorização, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, usurpação de bem mineral da União Federal, execução de pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, falsidade ideológica e estelionato por meio de fraude eletrônica.
Os agentes cumprem ainda mandados de bloqueio no valor de 20 milhões de dólares e sequestros de dinheiro em contas bancárias, imóveis de altíssimo padrão, gado, veículos, ouro, joias, artigos de luxo, mina de esmeraldas, lanchas e criptoativos em posse das pessoas físicas e jurídicas investigadas.
O esquema
Os investigados atuavam em diversas frentes, principalmente virtuais, para captar recursos e, assim, gerir uma empresa que oferecia pacotes de investimentos financeiros desde 15 dólares a 100 mil dólares, com promessa de ganhos diários em percentuais altíssimos.
Embora divulgassem em redes sociais que estavam amplamente legalizados na Estônia e que seriam sócios de duas instituições financeiras, todas as empresas do grupo não existiam de fato.
Os investigados não tinham qualquer autorização para a captação e gestão dos recursos levantados no Brasil, na Estônia, ou em qualquer outro país, tendo ainda diversos alertas de órgãos financeiros em vários países, como Espanha, Panamá, dentre outros, no sentido da ausência de autorização e de que se tratava de esquema de pirâmide financeira.
A prática ilegal foi se tornando mais sofisticada no curso dos crimes, englobando supostos investimentos decorrentes de lucros advindos de minas de diamantes e esmeraldas que a empresa teria no Brasil e no exterior, em mercado de vinhos, de viagens, em usina de energia solar e usina de reciclagem, entre outros.
Na sequência, criaram duas criptomoedas, lançadas pelo grupo criminoso no final de 2021, sem qualquer lastro financeiro. Foi identificada manipulação de mercado para valorizar uma das moedas artificialmente em 5.500% em apenas 15 horas, com pico de até 38.000%, dias depois.
“Tudo isso para manter a pirâmide financeira o mais tempo possível em atividade, pois as criptomoedas foram também utilizadas para pagar os investidores”, relata a Polícia Federal.
Contudo, após alta meteórica e especulativa promovida pelos investigados, as criptomoedas perderam todo o valor de mercado e a cotação passou a romper em diversas casas decimais abaixo do centavo de dólar, resultando em perda quase que completa da liquidez.
Ostentação
Os envolvidos também ostentavam nas redes sociais. Com milhões de seguidores em todo o mundo, demonstrando o sucesso pessoal e de investimentos, eles demonstravam viagens internacionais para Dubai, Cancun e Europa.
Para movimentação do dinheiro, foram utilizadas as contas bancária dos investigados, empresas de fachada, parentes, além de terceiros ligados ao grupo, que, inclusive, contou com a auxílio de uma entidade religiosa que, sozinha, movimentou mais de R$ 15 milhões, sendo também utilizada para captar investidores, buscando a ocultação e lavagem de dinheiro dos recursos.
No curso da pirâmide financeira e com a prisão de um dos líderes em Cuba, os “fundadores” da organização cessaram os pagamentos dos valores aos cubanos sob a justificativa, divulgada nas redes sociais, de que o governo de Cuba teria impedido a empresa de ajudar o país.
Na sequência, ante o volume de dinheiro subtraído pelo esquema criminoso, os investigados começaram a impor dificuldades para realização dos pagamentos aos investidores lesados e, como forma de garantir seus lucros, passaram a estabelecer prazos cada vez maiores para resgate, o que impedia os saques dos valores aportados pelos investidores.
Ataque hacker
Meses depois, comunicaram a conclusão da auditoria e anunciaram uma reestruturação da empresa, mantendo o esquema e migração para uma nova rede, a fim de que os investidores efetuassem novos aportes e a continuação do negócio, com ameaças do “CEO” da empresa de que quem processasse ou realizasse registros de boletins de ocorrências seria identificado, processado e não receberia qualquer valor investido de volta.
La Casa de Papel
A operação tem esse nome em razão de alguns dos investigados serem detentores também da nacionalidade espanhola e por terem, artificiosamente, engendrado um plano para montar uma bilionária pirâmide financeira, com o seu próprio banco e a sua própria “casa da moeda”, fabricando dinheiro através de criptoativos próprios sem qualquer lastro financeiro e se apropriando de dezenas de milhões de dólares em seu benefício, impondo prejuízo em mais de 1,3 milhão de pessoas em mais de 80 países.
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