Responsável pelas delações que abalaram a república e por doações milionárias a políticos de muitos partidos e Estado, o dono da JBS, Joesley Batista, revelou, em entrevista à revista Época, que a empresa começou a pagar propina em Mato Grosso do Sul, no governo de Zeca do PT, que administrou o Estado entre os anos de 1999 a 2006.
"Quem inaugurou esse sistema (de propina) foi o governo do PT. A primeira vez que fui abordado com essa forma de operar foi em Mato Grosso do Sul, no governo do Zeca do PT. Vi uma estrutura organizada no andar de cima, com o governador", disparou Joesley, que chegou ao Brasil vindo da China no último domingo (11).
A exemplo do irmão, Wesley Batista, Joesley também afirmou que o esquema de pagamento de propina em troca de benefícios fiscais permaneceu no Estado nos governos de André Puccinelli (PMDB) e Reinaldo Azambuja (PSDB).
"Tudo com o mesmo modelo, o mesmo modus operandi. Mudam os nomes, mas o sistema permanece igual", destacou.
Esta foi a primeira entrevista exclusiva do dono da JBS desde que fechou a delação com PGR (Procuradoria-Geral da República), a mais polêmica e embasada em três anos da Operação Lava Jato.
"Há uma coisa curiosa: 90% desse dinheiro de propina – que nós contamos na colaboração – voltava para a política, para financiar a permanência das mesmas pessoas no poder. Para manter a roda girando", frisou o empresário.
Segundo Batista, eram durante as campanhas eleitorais que políticos aproveitavam para ‘pedir dinheiro’ a empresários. Para ele, o simples fato de ‘candidatar-se’ a um cargo importante habilitava ao postulante a função de solicitar recursos financeiros, muitas vezes não declarados.
Além dos políticos sul-mato-grossenses, nas mais de quatro horas de entrevista que concedeu à Época, Joesley citou em diversas ocasiões o próprio presidente Michel Temer (PMDB), a quem chamou de 'chefe de organização criminosa', o ex-presidente de Lula (PT), a quem acusa de ter ‘institucionalizado’ a corrupção no país, e Aécio Neves (PSDB) que teria entrado no ‘negócio de leilão de partidos’.
Joesley disse que conheceu Temer em 2010 e acusa o peemedebista de ser um homem ‘sem cerimonias’ para pedir dinheiro, e revela diversos encontros com o presidente. "Uma delas (reuniões) foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos", contou o dono da maior processadora de proteína animal do mundo.
O ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é outro citado pelo empresário. Hoje preso em Curitiba (PR), o peemebista teria pedido R$ 5 milhões a Joesley para não abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a relação da JBS com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
De volta ao país após deixar o Brasil sob alegação de que sua família teria recebido ameaças, Joesley Batista se disse arrependido dos crimes que cometeu e negou que tenha lucrado com a delação.
O deputado federal e ex-governador Zeca do PT não foi encontrado pela reportagem na tarde deste sábado (17) para comentar o conteúdo dessa nova entrevista de um dos donos do grupo JBS.
Delação
Ao homologar o conteúdo da delação, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), tornou público as declarações dos irmãos Batista e demais executivos da holding J & F. Existe um capítulo específico sobre Mato Grosso do Sul, no qual Zeca, Puccinelli e Reinaldo são acusados de cobrarem propina da empresa para concederem benefícios fiscais.
Sobre Zeca, a delação de Wesley confirma versão do irmão, mas pontua que não tem documentos sobre a propina. Já nos governos de Puccinelli e Reinaldo os Batista entregaram uma série de notas fiscais que seriam frias usadas pelos ex-governadores para justificarem o pagamento de propina. Os três ex-governadores negam que tenham cobrado propina do grupo JBS.
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