O empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, e o executivo da empresa Ricardo Saud se apresentaram e estão presos na sede da Polícia Federal, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, desde as 14h deste domingo (10) após o relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, acatar os pedidos de prisão.
As ordens de prisão de Joesley e Saud foram encaminhadas para a PF neste sábado (9) e a polícia afirmou que não cumpriu os mandados porque estava "em planejamento operacional" quando os dois manifestaram, por meio de seus advogados, a intenção de se entregar.
Joesley deixou a casa do pai no Jardim Europa às 13h39, na Zona Sul de São Paulo, rumo à Polícia Federal, e Saud, seu apartamento no Morumbi, também na Zona Sul. Na sede da superintendência da PF, manifestantes soltaram fogos de artifício para comemorar as prisões.
Os dois devem passar a noite na PF em São Paulo e serem transferidos para Brasília nesta segunda-feira (11). As prisões são temporárias, com prazo de cinco dias, e podem ser revertidas para preventivas. Em um áudio, Joesley e Saud chegaram a dizer que não seriam presos.
Após pedido da defesa, o Supremo Tribunal Federal abriu uma exceção e determinou que o exame de corpo de delito dos presos seja realizado somente nesta segunda-feira (11) em Brasília. O memorando foi enviado ao setor de custódia da Polícia Federal em São Paulo no início da noite deste domingo (10).
Na prática, o memorando permite que a PF mantenha Joesley e Saud presos mesmo sem a realização do exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal). Por volta das 18h50, os dois já estavam nas celas onde passarão a noite, no terceiro andar do prédio da PF na Lapa, na Zona Oeste.
Cronologia da prisão: Joesley sai da casa do pai dele, nos Jardins, às 13h39. Saud sai um pouco depois de sua casa, no Morumbi, às 13h41. O primeiro a chegar à sede da PF é Saud, em um carro preto, às 13h58. Joesley entra na PF em uma Hilux prata, às 14h02.
Em nota, as defesas de Joesley e Saud disseram que "não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada e que estão cumprindo o acordo".
"Em todos os processos de colaboração, os colaboradores entregam os anexos e as provas à Procuradoria e depois são chamados a depor. Nesse caso , Joesley Batista e Ricardo Saud ainda não foram ouvidos", diz o texto.
O advogado de Joesley, Pierpaolo Bottini, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tiveram um encontro em um bar de Brasília, neste sábado (9), segundo o site "O Antagonista".
Os pedidos de prisão ao STF foram feitos por Janot nesta sexta-feira (8). Além de Joesley e Saud, Janot pediu a prisão do ex-procurador da República Marcelo Miller, mas Fachin negou ao dizer que não são "consistentes" os indícios de que ele tenha sido "cooptado" por organização criminosa. Em nota, a defesa de Miller afirma que ele "repudia veementemente o conteúdo fantasioso e ofensivo das menções ao seu nome nas gravações divulgadas na imprensa e reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei", diz o texto.
O estopim para as prisões foram áudios em que Joesley e Saud sugerem que Miller estava ajudando nos acordos de delação. Em um dos trechos, os dois fazem uma brincadeira, cogitando fantasiar Marcello Miller de garçom para que ele pudesse assistir à gravação de uma conversa.
No áudio, também faziam referências a ministros do Supremo mas sem que nenhum ministro fosse relacionado a irregularidades, ilicitudes ou crime. "Cinco do Supremo na mão dele. Inclusive muitos conversados", disse Saud em um trecho.
Com as prisões, o acordo de delação premiada firmado entre a JBS e a Procuradoria-Geral da República deve ser rescindido. Isto porque o termo de delação prevê que o acordo perderá efeito se, por exemplo, o colaborador mentiu ou omitiu, se sonegou ou destruiu provas.
Sobre a validade das provas apresentadas, mesmo se os termos da delação forem suspensos, continuarão valendo – provas, depoimentos e documentos. Esse é o entendimento de pelo menos três ministros do Supremo: a rescisão do acordo não anula as provas.
Segunda a sexta
Na segunda-feira (4), a PGR informou que novos áudios entregues pelos delatores da JBS indicam que o ex-procurador da República Marcello Miller atuou na "confecção de propostas de colaboração" do acordo que viria a ser fechado entre os colaboradores e o Ministério Público Federal (MPF). A PGR também suspeita que os delatores podem ter omitido informações.
Nas novas gravações, entregues pelos próprios delatores à Procuradoria, Joesley e o executivo Ricardo Saud falam sobre a intenção de usar Miller para se aproximar de Janot. Joesley admitiu que se encontrou com Miller ainda em fevereiro, mas ele teria dito que já tinha pedido exoneração do Ministério Público.
Na quinta (7), Joesley, Saud e Francisco Assis, executivo do grupo J&F (controlador da JBS) prestaram novos depoimentos ao Ministério Público Federal, em Brasília. Nesta sexta, depôs Marcelo Miller, no Rio de Janeiro.
Joesley foi questionado pelos investigadores e teve que explicar cada trecho da gravação da conversa entre ele e Ricardo Saud. Os depoentes tentaram justificar que aquilo era uma "conversa de bêbados". Afirmaram que não entregaram os áudios por acidente, mas para demonstrar transparência.
Conversa com Temer
Joesley Batista voltou a ser notícia em maio quando a conversa em que gravou o presidente Michel Temer, relatou uma sequência de crimes que vão de obstrução à Justiça, suborno de procuradores e compra de informações privilegiadas.
Ao longo do encontro, Temer ouviu tudo e não condenou os relatos de crimes do empresário em nenhum momento. Em alguns trechos da conversa, o peemedebista chegou a repetir que tava "ótimo". Após a conversa, o presidente da República não pediu abertura de investigação.
Com desembaraço e demonstrando intimidade com o chefe do Executivo federal, Joesley pediu na conversa facilidades dentro do governo e combinou encontros na calada da noite.
Joesley Batista foi em 7 de março ao Palácio do Jaburu – residência oficial da Vice-Presidência na qual Temer ainda mora com a família – para encontrar com o presidente da República às 22h40. O compromisso não estava na agenda oficial do peemedebista.
Com o gravador no bolso, o dono da JBS registrou cerca de 30 minutos de conversa. Em um trecho, Temer dá aval, segundo a PGR, para a compra do silêncido ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, hoje preso.
Joesley diz: "Tô de bem com Eduardo."
Temer responde: "Muito bem."
Joesley diz: "E ..."
Ao que Temer completa: "Tem que manter isso, viu?"
Joesley responde: "Todo mês ..."
Temer responde: "O Eduardo também, né?"
Joesley concorda: "Também."
Temer: "É ..."
Joesley segue: "Eu tô segurando as pontas, to indo."
Temer responde: "É."
Nota da defesa de Joesley e Saud
"Joesley Batista e Ricardo Saud, da J&F, se apresentaram voluntariamente à Superintendência da Polícia Federal, na tarde de hoje, em São Paulo.
Joesley Batista e Ricardo Saud reafirmam que não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada e que estão cumprindo o acordo.
Em todos os processos de colaboração, os colaboradores entregam os anexos e as provas à Procuradoria e depois são chamados a depor. Nesse caso , Joesley Batista e Ricardo Saud ainda não foram ouvidos.
No dia 31 de agosto, cumprindo o prazo do acordo, além dos áudios, foi entregue uma série de anexos complementares, e os dois colaboradores ainda estão a espera de serem chamados para serem ouvidos.
O empresário e o executivo enfatizam a robustez de sua colaboração e seguem, com interesse total e absoluto, dispostos a contribuir com a Justiça".
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