caso Pesseghini

Laudos descartam que família de PMs tenha sido dopada em São Paulo

do G1 São Paulo

O laudo dos peritos sobre a morte da família de policiais militares na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, mostra que as vítimas não foram dopadas antes dos assassinatos, informou o SPTV nesta terça-feira (27). A polícia suspeitava que o garoto Marcelo Pesseghini, de 13 anos, tivesse dado algum remédio para o pai, a mãe, a avó e a tia-avó antes dos assassinatos, o que os exames descartaram. Ele segue como principal suspeito das mortes. Uma reunião nesta segunda-feira (26) teve a participação de legistas, peritos, delegados e policiais envolvidos na investigação. O comando da Polícia Militar também estava presente. Pelos exames e laudos, fica comprovado que o rapaz matou primeiro o pai, o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos, depois a mãe, a cabo Andreia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, em seguida a avó Benedita de Oliveira Bovo, de 67 anos, e por último a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, de 55 anos.

Os crimes foram todos cometidos por volta de 0h30 de 5 de agosto. Um tiro foi encontrado na parede do quarto da tia-avó. E a perícia constatou que Marcelo disparou o tiro porque a tia acordou depois que ouviu disparo que matou a avó. O garoto se assustou e deu dois tiros: um que matou Bernardete e outro que pegou na parede.

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) deverá ouvir nesta terça-feira (27) mais dois policiais militares que trabalhavam com a cabo Andreia. Nesta segunda-feira (26), dois outros colegas de trabalho da mãe do garoto estiveram no DHPP, no Centro.

A polícia já ouviu 41 testemunhas, entre elas colegas de escola de Marcelo que contaram que o garoto dizia querer ser matador de aluguel. Ainda segundo os amigos, o adolescente confidenciou que tinha matado os pais. Dois amigos de Marcelo que já foram ouvidos pela Polícia Civil devem ser interrogados novamente. Eles disseram à polícia que Marcelo afirmava se sentir sozinho.

Os investigadores devem ter acesso essa semana aos documentos da quebra do sigilo telefônico da família, o que pode ajudar a polícia a determinar quem mais deve ser ouvido sobre o caso.

Quatro mortes em dez minutos

Segundo Arles Gonçalves Júnior, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), que acompanha as investigações, Marcelo Pesseghini teria demorado cerca de dez minutos para cometer os crimes. Outras autoridades que participam da apuração confirmaram ao G1 que o assassino da família Pesseghini teria demorado cerca de dez minutos para efetuar as quatro mortes.

“Estive na casa com a perícia do Instituto de Criminalística durante a reprodução simulada dos tiros. Pelo que conversamos e pude verificar, o assassino matou a família em cerca de dez minutos”, disse o representante da OAB. “As testemunhas disseram que os primeiros disparos foram ouvidos por volta de 0h20 do dia 5 e os últimos, perto da 0h30”.

Crime

A chacina e o suposto suicídio do assassino aconteceram nas residências onde a família Pesseghini vivia.Num dos imóveis foram encontrados os corpos do sargento da Rota, da cabo Andreia e de Marcelo Pesseghini. No outro, foram achadas Bernadete e Benedita.

“O intervalo entre os dois primeiros tiros, que mataram o pai e a mãe, seria de algo em torno de seis segundos. Depois, o menino se deslocou até a outra residência e matou a tia-avó e a avó. Essa seria a sequência: pai, mãe, tia-avó e avó”, disse Arles Gonçalves Júnior.

A arma usada foi uma pistola .40 da mãe. “Os tiros foram dados praticamente encostados, à queima-roupa. Pelas fotos que vi, a uma distância de dez centímetros, característica de execução mesmo”, disse Arles Gonçalves Júnior.

O advogado afirmou ainda que a perícia deverá apontar que após a chacina, Marcelo saiu com o carro da mãe. “Por volta da 0h40 ele pega o veículo e o estaciona numa rua em frente à escola onde estudava [Colégio Stella Rodrigues], a cerca de 5 km de onde morava”, falou. "Ele contou aos amigos que matou a família, voltou para casa no mesmo dia e se matou".

Videogame

Apesar de o DHPP ainda não ter concluído o inquérito que apura a autoria e motivação dos homicídios seguidos de suicídio, Arles Gonçalves Júnior disse que a cada dia está mais convencido que Marcelo assassinou a família e se matou por sofrer transtornos psicológicos.

“Várias coisas podem ter influenciado esse comportamento. Uma das coisas que teria influenciado Marcelo a cometer os crimes foi o game "Assassins Creed". Colegas relataram que desde abril ele vinha dizendo que mataria os familiares e fugiria para um esconderijo. Algo bem parecido com o personagem do jogo de videogame”, disse o advogado.

Um mês antes da tragédia em família, o adolescente havia mudado sua foto nas redes sociais na internet - ele colocou a imagem de um personagem de Assassins Creed na sua página pessoal do Facebook.

“Marcelo ficava de capuz o tempo inteiro, assim como o personagem. Mesmo quando os colegas pediam para ele retirar o capuz, ele insistia em colocar. Ele começou a misturar a realidade com ficção e isso não foi percebido pelos pais. O garoto, até que saibamos, nunca passou por um psicólogo ou psiquiatra na vida”, disse Gonçaves Júnior.

No dia 8 deste mês, a desenvolvedora de games Ubisoft, criadora do jogo "Assassin's Creed", divulgou nota de repúdio à ligação feita entre o jogo e o assassinato da família Pesseghini.

Colegas e PMs

Numa das imagens gravadas por câmeras de segurança perto da escola de Marcelo, o suspeito aparece de capuz caminhando ao lado de dois colegas na manhã do dia 5 de agosto, horas depois da família ter sido morta. Esses alunos foram identificados pela investigação e foram chamados para prestar depoimentos. Eles devem falar na quarta-feira (28). O DHPP quer saber o que o estudante falou para eles após o crime.

Outros alunos do Colégio Stella Rodrigues contaram aos policiais que Marcelo confessou os crimes, mas não acreditaram por acharem que se tratava de uma brincadeira.

Entre outros motivos que estão sendo investigados para tentar saber o que poderia ter levado um garoto aparentemente normal a matar a família e se suicidar estão a doença que sofria - fibrose cística - e o uso de games violentos. A médica que cuidava de Marcelo, Neiva Damaceno, já descartou a chance de os remédios contra a fibrose terem alterado seu comportamento a ponto de levá-lo a cometer os crimes.

Marcelo tomava insulina para controlar a diabetes. A fibrose cística é uma doença genética que afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e no sistema digestivo. Ela não tem cura e pode levar à morte precoce.

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