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Luta por salário fez PM levar “culpa” pelo aumento da criminalidade

Relatório produzido pelo Serviço Nacional de Informação sobre a Polícia Militar. (Foto: Reprodução/SNI) Relatório produzido pelo Serviço Nacional de Informação sobre a Polícia Militar. (Foto: Reprodução/SNI)

Comportamento

Em 1988, a Polícia Militar de MS estava sob a mira do Serviço Nacional de Informações e foi alvo de relatório

Três anos após o fim da Ditadura, o SNI (Serviço Nacional de Informações) ainda mantinha seus serviços e um de seus alvos em Mato Grosso do Sul era a luta da Polícia Militar por melhores salários. Em documentos de 1988 classificados como confidenciais, o órgão relacionava as manifestações até com aumento da criminalidade, dizendo que membros da corporação haviam se envolvido em roubos, sequestros, assassinatos e outros crimes. Apesar disso, nenhum caso referente às acusações foi vinculado no relatório.

Para tentar solucionar o “problema” dos movimentos, o órgão descreveu inclusive que foi pensada em uma intervenção militar na Secretaria de Segurança Pública.

Contextualizando, o SNI foi criado em 1964 logo no primeiro ano da Ditadura Militar brasileira e extinto em 1990 durante o governo do então presidente Fernando Collor. No seu nascimento, o Serviço tinha como finalidade assessorar tanto o presidente da República e o Conselho de Segurança Nacional.

Na prática, como um órgão espião, produzia documentos que envolviam desde movimentos populares, sindicatos, igrejas, movimentos estudantis, prisões, organizações de esquerda até cassação de mandatos e direitos políticos, como descreve o Arquivo Nacional em sua página de Memórias Reveladas.

Se enquadrando como um movimento popular, a Polícia Militar de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul definiu 1988 como um ano “marcado por manifestações críticas e insatisfações por parte dos integrantes das secretarias estaduais de Segurança Pública”, segundo o relatório.

Em razão disso, já se faz sentir o aumento da criminalidade em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e a elevação do número de policiais, tanto civis como militares, no envolvimento em roubos, sequestros, assassinatos e outros ilícitos penais”, apontou o documento do SNI, sem incluir os casos referentes às acusações.

Mais do que o pedido por melhores salários, reivindicações como a criação da Secretaria Estadual de Polícia Militar também era vista como parte dos “caminhos perigosos” que estavam sendo trilhados por aqui, na visão do órgão.

Além dos policiais que manifestavam sua insatisfação, outro ponto destacado era que as autoridades estaduais não indicavam soluções para minimizar as movimentações. Na verdade, o documento descreve que a Secretaria de Segurança Pública e os comandantes gerais das polícias militares concordaram publicamente com as reivindicações.

Apesar de apresentar o “problema” como algo presente nos dois estados, Mato Grosso do Sul se destacou por uma suposta quebra de hierarquia. Isso porque o então coronel Jofeli Paes de Carvalho foi incluído no texto como incapaz de se manter à frente da corporação por “permitir”, ao olhar do SNI, que os comandados incitassem movimentos pedindo pela sua substituição.

Na época, apenas quatro anos após o fim da Ditadura, até uma intervenção do Exército foi cogitada ao lado do governo estadual em relação à Secretaria de Segurança Pública. A ideia era nomear um oficial do Exército para comandar a pasta:

“[...] e, consequentemente, o retorno à normalidade e o respeito que a Polícia Militar deve ter, como instituição, junto a população estadual”, diz o documento que foi confidencial por anos.

A intervenção só não ocorreu por poder gerar uma crise entre oficiais superiores. Clique aqui e confira o documento completo.

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