truculência

Médicos brasileiros envergonham o País

Em nenhum país do mundo, os médicos cubanos estão sendo tratados como no Brasil. Aqui, são chamados de "escravos" por colunistas da imprensa brasileira e hostilizados por médicos tupiniquins, como se estivessem roubando seus empregos e suas oportunidades. Foi o que aconteceu ontem em Fortaleza, quando o médico cubano negro foi cercado e vaiado por jovens profissionais brasileiras.

Detalhe: os cubanos, assim como os demais profissionais estrangeiros, irão atuar nos 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum médico brasileiro, a despeito da bolsa de R$ 10 mil oferecida pelo governo brasileiro. Ou seja: não estão tirando oportunidades de ninguém. Mas, ainda assim, são hostilizadas por uma classe que, com suas atitudes, destrói a própria imagem. Preocupado com a tensão e com as ameaças dos médicos, o ministro Alexandre Padilha avisou ontem que o "Brasil não vai tolerar a xenofobia".

Ontem, o governo também publicou um decreto limitando a atuação dos profissionais estrangeiros ao âmbito do programa Mais Médicos – mais um sinal de que nenhum médico brasileiro terá seu emprego "roubado" por cubanos, espanhóis, argentinos ou portugueses. Ainda assim, cabe a pergunta. Com quem fica a população: com o negro cubano que vai aos rincões salvar vidas ou com os médicas que decidiram vaiá-lo?

Padilha qualifica de xenófoba atitude de médicos que hostilizaram cubanos

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta terça-feira (27) que há “truculência” e “xenofobia” na atitude de médicos brasileiros que hostilizaram médicos cubanos em Fortaleza, no Ceará, nesta segunda-feira.

O grupo de 96 estrangeiros que está fazendo curso de atenção básica de saúde e português no Ceará foi recebido para a aula inaugural do treinamento, na segunda, por cerca de 50 profissionais brasileiros que gritavam palavras de ordem e reivindicavam pela realização do Revalida, exame de validação do diploma de medicina para curso feito no exterior.

“Em primeiro lugar, tem muita truculência, muita incitação ao preconceito, e à xenofobia. [...] Lamento veementemente a postura de alguns profissionais - porque eu acho que é um grupo isolado - de ter atitudes truculentas, [que] incitam o preconceito, a xenofobia. Participaram de um verdadeiro 'corredor polonês' da xenofobia, atacando médicos que vieram de outros países para atender a nossa população”, declarou.

O ministro também criticou a fala do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), que na semana passada afirmou que os brasileiros não devem “socorrer” nem ser "padrinhos" de profissionais estrangeiros.

“Repudio, lamento veementemente aquela declaração do presidente do CRM de Minas Gerais. Não sei que código de ética médica, em que juramento ele se baseou para recomendar os médicos mineiros a omitir socorro, a não atender a população”, disse.

Padilha esteve no Senado para conversar com o vice-líder do PR na Casa, senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), sobre o Mais Médicos. “Estou conversando com cada bancada, com cada deputado, com cada senador, fazendo o meu trabalho de ‘formiguinha’, mostrando dados, mostrando a importância do programa. Estou confiante que o Congresso Nacional será sensível de entender que o Ministério da Saúde buscou solução concreta”, afirmou Padilha.

O Congresso tem até novembro para aprovar a medida provisória 621/2013, que cria o Mais Médicos. O programa estabelece a concessão de bolsas de R$ 10 mil a médicos brasileiros e estrangeiros inscritos para atuar em áreas carentes de profissionais de saúde no interior do país e na periferia das grandes cidades. Na semana passada, o governo anunciou convênio que permitirá a vinda de 4 mil médicos cubanos pelo programa Mais Médicos. O primeiro grupo chegou no fim de semana passado.

Desde a divulgação do programa, considerado prioritário para o governo federal, entidades médicas criticam o Mais Médicos por permitir que estrangeiros atuem no país sem a validação do diploma e que profissionais recebam bolsa sem direitos trabalhistas. A categoria também é contra mudanças no currículo dos cursos de medicina, com a criação de um ciclo obrigatório de dois anos a ser cumprido no Sistema Único de Saúde.

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