O procurador do Trabalho Jeferson Pereira descartou, ao menos momentaneamente, requerer a interdição de unidade da JBS em Dourados onde mais de 50 funcionários foram diagnosticados com o novo coronavírus (Covid-19). Segundo ele, a medida seria extrema e a empresa tem feito o papel da prefeitura no fornecimento de equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde.
Em entrevista na sede do MPT (Ministério Público do Trabalho) no município durante a manhã desta sexta-feira (22), ele afirmou que sua atuação tem objetivo de preservar empregos e garantir a manutenção da cadeia produtiva em meio à pandemia, já que o consumo das pessoas não diminuiu, mas a demanda tem aumentado.
“Em Dourados na semana passada tivemos a confirmação de um caso em indígena e já entramos em contato com RH da JBS e fomos informados que ela trabalhava no setor de cortes, no segundo turno, e foi até o dia 9, 10 não trabalhou e dia 11 uma irmã dela levou o atestado. O setor de ambulatório apurou que a empregada fez viagem ao sul do Estado por questão particular e não informou a indústria, embora houvesse a necessidade de comunicar para guardar quarentena. Teve contato também com trabalhadores no ônibus, vestiários e refeitório”, explicou.
No entanto, o procurador afirmou que desde março já haviam sido expedidas recomendações às empresas da região e a maior parte delas já havia estabelecido planos de contingência eficazes.
“São 4,3 mil empregados da Seara de Dourados no município e na região. Até ontem 57 colaboradores haviam sido diagnosticados com Covid-19”, revelou.
Os diagnósticos foram feitos com testes aplicados pela própria empresa em parceria com as autoridades de saúde pública. Além disso, o MPT propôs afastar temporariamente os trabalhadores indígenas para preserva-los, grupo que tinha 34 infectados.
Em outra frente, a JBS tem investido recursos e equipamentos no Hospital da Missão Caiuá, que embora esteja situado na área da Reserva Indígena de Dourados, é uma unidade de portas abertas do SUS (Sistema Único de Saúde). “Desde quinta a empresa tem doado EPIs, alimentos, camas, colchões e está trabalhando na ampliação de 21 leitos para chegar a mais de 40. Estão assumindo a farmácia do hospital também”, informou.
Segundo o procurador, a empresa vai rastrear transmissibilidade na planta industrial e fora, bem como aplicar testagens com equipes volantes em Dourados e região. “Hoje não há nada conclusivo de que a JBS está contaminando. Ela tem 420 empregados afastados sem prejuízo da remuneração, entre eles grupos de risco”, pontuou Pereira.
Ele descarta a interdição da unidade com capacidade de abater 4,2 mil suínos por dia também por causa do reflexo econômico. “Intervenção é medida extrema. Temos que equacionar saúde, economia e sustento. O que temos hoje é no sentido de focar na sala de cortes do segundo turno, com afastamentos e testagens para isolamento e depois restruturação. É um contexto que envolve atividade essencial. Precisamos preservar postos de trabalho, aliado ao fato de que a empresa tem ajudado”, elencou.
Nesse ponto, o procurador do trabalho destacou que a JBS está comprando equipamentos de proteção individual e colocando na ponta, papel que caberia ao poder público do município.
“O município decretou emergência no dia 20 de março. Já passaram dois meses e faltam equipamentos mínimos para profissionais da linha de frente. Já se passaram dois meses, o mínimo do necessário já tinha que estar lá na ponta”, disse, mencionando inspeção recente no almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde.
“Há procedimentos [licitatórios] de março e abril que ainda não foram finalizados. É triste ter dinheiro para comprar, mas não ver a operacionalização. Isso é deficiência de gestão e políticos oportunistas querem jogar a culpa em empresas”, prosseguiu, alertando para “situação dramática” constatada pelo fato de que até quinta-feira (21) o município só havia contratualizado 17 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Procurado pelo Dourados News ainda na manhã de hoje, o advogado Alexandre Mantovani, assessor especial da prefeita Délia Razuk (PTB), garantiu que Dourados dispõe dos equipamentos necessários, reconheceu que parte é fruto de doações, e as elogiou.
“Eu me lembro falas do então ministro Mandetta dizendo que o problema de falta de EPIs não é um problema do Brasil, é um problema do planeta terra. Temos poucos fornecedores de algumas espécies de EPIs e esse enfrentamento talvez não seja uma exclusividade desse ou daquele município. Se a gente está tendo doação da iniciativa privada é extremamente bem vinda. A gente conhece que dentro da estrutura pública existem protocolos a serem avaliados para aquisição, por exemplo”, argumentou.
Ele disse ainda que Dourados tem feito os processos de aquisição e hoje não há motivo de alarde. “A seriedade na condução é a principal meta. Dourados tem hoje EPIs suficientes para o cenário apresentado, há uma evolução de cenário e é por isso que a administração pública municipal não está satisfeita ainda com todas as aquisições”, disse.
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