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Nascida em MS, Suéllen fala da luta para estar entre 10 prefeitas negras do País

Sob ataques racistas, Suéllen Rosim (Patriota), de Dourados, ganhou o comando da cidade de Bauru, em 2° turno, neste domingo

Suéllen Rosim, 32 anos, é jornalista, nasceu em Dourados e mudou-se para Bauru há 20 anos (Foto: Divulgação) Suéllen Rosim, 32 anos, é jornalista, nasceu em Dourados e mudou-se para Bauru há 20 anos (Foto: Divulgação)

Mulher, jovem e negra. A jornalista sul-mato-grossense Suéllen Rosim (Patriota), 32 anos, escolhida, neste domingo, para comandar a cidade de Bauru (SP), convive com as pautas de um partido declaradamente conservador e a carreira de cantora gospel. A fórmula pode parecer contraditória, mas a levou a ser a mais votada nos 1° e 2° turnos das eleições 2020 e derrotar políticos tradicionais nas urnas.

Nascida em Dourados, município distante 235 quilômetros de Campo Grande, Suéllen fechou neste domingo a lista das 10 prefeitas negras eleitas no Brasil. A vitória com 89.725 votos, o equivalente a 55,98% dos votos válidos, contra o oponente Raul Aparecido Gonçalves Paula (DEM), enfrentou ataque racistas e machistas, mas levou orgulho também para o interior de Mato Grosso do Sul.

“Fui criada no Jardim Água Boa, na rua W12. Fui criada ali até meus 12 anos. Estudei no Colégio Capile. Mantenho essas raízes e tenho sempre boas lembranças”, lembra.

Com avó, tias, tios e primos, boa parte da família paterna, vivendo aqui, as lembranças do município ainda seguem frescas na memória.

O núcleo familiar foi justamente onde Suéllen passou a se interessar por política. “Minha família sempre foi de alguma forma politizada”, afirma, citando o papel de liderança dos próprios pais, considerados principais referências em um cenário político com pouca representatividade feminina e negra.

No trabalho como repórter e produtora da TV TEM, afiliada da Rede Globo em Bauru, o interesse pela política se aprofundou nas pautas comunitárias. “A política é um instrumento de transformação, um caminho para ir além da reportagem”, avalia.

Ataques racistas – Mesmo deixando para trás 11 candidatos no 1º turno e estar na frente nas pesquisas, Suéllen enfrentou ataque racistas no dia da eleição, que a levaram a registrar boletim de ocorrência, além de ser por vezes subestimada pelo rival.

Nas ofensas divulgadas em um grupo de WhatsApp  o agressor diz “não podemos eleger aquela mulher com cara de favelada para ser nossa prefeita. Essa gentinha irá afundar Bauru”. Em outra mensagem, ele diz: “não tenho nada contra, mas essa gente de pele escura, com cara de marginal administrando essa cidade, será o fim".

Apesar de levar o caso as autoridades, não é a primeira vez que a prefeita eleita passa por situação de preconceito e se empenha em desbravar novos caminhos para abrir espaço para outras pessoas negras.

“O fato de ser negra é uma coisa que traz uma representatividade. Abre porta para tantas outras pessoas. Como na televisão, na minha época, quando comecei a faculdade, era muito difícil encontrar repórter negra. Ouvia coisa do tipo: ‘Alisa o cabelo. Cabelo cacheado chama mais atenção do que a notícia’. Aos poucos isso foi se quebrando. Por isso, vejo que na prefeitura, e em qualquer cargo pública, a gente passa por isso também. Deveria ser uma coisa natural, mas ainda temos sim”, afirmou.

O fato de ser mulher também foi colocado em xeque pelos rivais durante as eleições. “Questionavam ‘será que ela sabe fazer?’ Essa pergunta é raramente feita para homens”, relembrou.

10 no Brasil – Com o resultado do segundo turno das eleições, Suéllen fechou uma lista de prefeitas negras eleitas entre os 5.570 municípios brasileiros neste ano.

Nove foram eleitas em 1º turno, são elas: Barbara Prado (PSD), em Pau Brasil (BA); Eliana Gonzaga de Jesus (Republicanos), em Cachoeira (BA); Denise Oliveira (PV), em São Gotardo (MG); Francisca Alves Ribeiro (PT), em Carinhanha (BA); Judite Maria Botafogo da Silva (PSDB), em Lagoa do Carro (PE); Moema Isabel Passos Gramacho (PT), em Lauro de Freitas (BA); Niela Maria da Silva Moraes (DEM), de Santa Rita do Tocantins (TO); Hosanira Galvão (PL), Goianinha (RN); e Talita Lopes dos Santos (Republicanos), em Boa Ventura (PB).

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