O juiz Sergio Moro afirmou neste domingo (20) na cerimônia de formatura da Universidade de Norte Dame, nos Estados Unidos, “que ninguém está acima da lei” e que esta é uma lição não só para o Brasil, “mas até para democracias maduras”.
“Nunca se esqueçam da pedra angular das nações democráticas, que é o estado de direito. Isso significa que todos têm igual proteção da lei. Isso significa que é preciso proteger os mais vulneráveis. Mas também significa que ninguém está acima da lei”, disse. “Essa é uma lição não só para o Brasil, mas até para democracias maduras”, emendou.
Moro foi o principal orador da cerimônia. Antes dele, a função foi exercida pelos então presidentes dos EUA George W. Bush (2001) e Barack Obama (2009) e pelo então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan (2000), entre outros. Em 2017, o convidado foi o vice-presidente americano, Mike Pence.
Ao apresentar o juiz brasileiro, o presidente da Universidade, reverendo John I. Jenkins, lembrou que, no mês passado, o escritor peruano e prêmio Nobel da Paz Mario Vargas Llosa afirmou que escolheria Moro “sem vacilar um segundo” se precisasse eleger um brasileiro como exemplo para o mundo.
No discurso, pelo qual foi aplaudido de pé ao final, Sergio Moro falou sobre o trabalho na Operação Lava Jato, que disse “não tem sido fácil”.
Ele citou o número de condenados por lavagem de dinheiro e corrupção na Operação Lava Jato – 157, no total –, e lembrou, sem citar nomes, que entre eles há empresários das maiores construtoras brasileiras, além de políticos de alto escalão como um ex-governador (Sergio Cabral, do Rio de Janeiro), um ex-ministro da Fazenda (Antonio Palocci), um ex-presidente da Câmara (Eduardo Cunha) e “até mesmo um ex-presidente (Lula)”.
“Não tem sido um trabalho fácil. Velhos hábitos de corrupção sistência e impunidade são difíceis de derrotar”, disse, emendando há “ameaças, riscos e tentativas de difamação”, mas que apesar disso as investigações e julgamentos continuam.
Moro ainda classificou a corrupção no país como “vergonhosa”, mas destacou como positivo o endurecimento da lei sobre esses crimes.
“Eu não sei o que vai acontecer com o futuro do Brasil. Nós podemos sofrer revéses. Mas eu acredito que nós demos a nós mesmos ao menos uma chance de ter um país melhor”, afirmou.
Moro disse que o Brasil falhou em “impedir o abuso do poder público para ganhos privados” e que então a corrupção cresceu e se tornou “disseminada, endêmica ou mesmo sistêmica”.
O juiz diz ter sido influenciado por outros juízes, como o italiano Givoanni Falcone que condenou 344 membros da máfia da Scicília, organização criminosa que parecia “invencível”, nas palavras do juiz.
Disse também ter se inspirado na lei de combate à corrupção americana, elaborada por um ex-aluno da Universidade de Notre Dame, uma coincidência que chamou de “mundo pequeno”.
Moro citou semelhanças entre as histórias do Brasil e dos Estados Unidos, como o sofrimento com a escravidão no século 19 e o fato de ambos os países terem recebidos milhões de imigrantes de todo o mundo. E elencou diferenças, como a força economômica e a maturidade da democracia.
Ele destacou que a última ditadura no Brasil terminou em 1985 e que, “desde então, é possível dizer que, como vocês aqui, temos os mesmos sonhos de liberdade e equalidade”.
Em outubro de 2017, Sergio Moro havia recebido o Notre Dame Awards, uma honraria concedida pela universidade a pessoas que são “pilares de consciência e integridade, cujas ações beneficiaram seus compatriotas”, segundo a instituição.
O prêmio existe desde 1992 e já foi entregue a pessoas como Madre Teresa de Calcutá, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter e o irlândes John Hume, agraciado com o Nobel da Paz em 1998.
Na ocasião, o presidente da Universidade de Notre Dame disse que o juiz está “engajado em nada menos que na preservação da integridade da nação com sua aplicação firme e não enviesada da lei”.
Neste domingo, o juiz recebeu da universidade o título de doutor honoris causa, como um “líder no movimento anticorrupção de seu país”.
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