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No mesmo quartel onde serviu, Marlise é a 1ª comandante de MS

Agora, a bombeiro militar é responsável pela formação de tantos homens e mulheres que entram para a corporação

Marlise se tornou a 1ª mulher comandante da Academia de Bombeiros Militares de MS (Foto: Arquivo Pessoal) Marlise se tornou a 1ª mulher comandante da Academia de Bombeiros Militares de MS (Foto: Arquivo Pessoal)

Na semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, a major bombeiro militar Marlise Helena de Barros, 43 anos, foi confiada a um cargo de comando que jamais esperaria receber de "presente". Agora – e pela primeira vez na corporação –, é sua figura feminina a responsável pela formação de homens e também mulheres que assim desejarem salvar vidas pela profissão.

Detalhe: na ABMMS (Academia de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul), ela vai chefiar e instruir no mesmo quartel onde também serviu há quase 20 anos.

"A sociedade gosta de ver esse empoderamento feminino, não é? E eu também. Vou poder ajudar na formação de praticamente 210 bombeiros militares, tanto soldados (executantes) quanto oficiais (gestores). É uma satisfação muito grande poder voltar ao primeiro local onde trabalhei. O clima é de total nostalgia e, ao mesmo tempo, de reconhecimento pelo meu trabalho", afirma a major.

Ao se tornar a primeira comandante da academia, o desafio que Marlise irá enfrentar pela frente não é o de ser mulher numa instituição predominantemente masculina – isso já está acostumada –, mas sim manter a excelência do ensino para todos aqueles que estão por vir. "Principalmente, abrir caminhos para que mais e mais mulheres guerreiras possam virar bombeiros militares como eu um dia me tornei", garantiu.

Quando Marlise entrou para a corporação ao lado de uma outra colega, no ano de 2003, as duas se encontraram em um efetivo de aproximadamente 1.200 homens e apenas 4 mulheres. No concurso anterior, em 1999, outras duas já marcavam presença feminina na academia.

"Isso ficou assim por um bom tempo. A questão feminina era uma novidade dentro da corporação. Até então, os quartéis não estavam apropriados como os de hoje. De lá pra cá muita coisa mudou. Mudou tanto que existem alojamentos apropriados para ambos os gêneros, além das atribuições em cargos e responsabilidades compartilhadas. Cada uma de nós foi crescendo dentro do nosso próprio trabalho e talento", diz.

"Imagina só: tínhamos entre 20-25 anos e por lá existiam homens com pelo menos 30 só de serviço, com idade para ser nossos pais! Levou anos e anos para provarmos nossa capacidade técnica e conseguirmos alcançar nossa posição de hoje. Ao longo dessa história, é claro que tivemos dificuldades. Precisou adaptação de alguns homens serem comandados por mulheres. Mas posso dizer que minha corporação está mais evoluída nesse sentido", confirma.

Atualmente, o efetivo é de 140 mulheres no total de 1.500 militares.

Antes de se tornar bombeiro militar, Marlise se formou em Engenharia Civil, exercendo por 3 anos a profissão. Com isso, ela mesma diz que já estava "acostumada" a ter que conviver em ambientes predominantemente masculinos – por vezes até machistas. "Tive experiências indo a várias obras, no desafio de delegar atribuições e chefiar homens. Não foi fácil, mas basta persistência e um pouquinho de paciência que a coisa anda".

Características estas, inclusive, que a tornaram uma "professora" nata. Aos 12 anos, ensinou o irmão a ler e escrever. Já adulta, deu aulas em escolas do ensino público. Agora, instrui bombeiros à ordem militar.

"E se eu disser que o meu sonho era ser policial? Mas quando veio o concurso para bombeiro, fiz e passei. Parece até algo divino. Descobri, porém, que foi algo maravilhoso na minha vida. É uma profissão muito gratificante. E eu realmente me encaixo na carreira", assegura.

"Acredito que ser bombeiro militar é muito próximo de ser mulher na sociedade. Nós temos essa função natural de amparo, de cuidado, de olhar para o próximo, de ser a salvadora a todos que estão a nossa volta. E a profissão de bombeiro tem isso a rodo: onde quer que nós chegamos, temos a obrigação de salvar, amparar, acolher a quem precise", argumenta.

Nesse meio tempo de corporação, Marlise foi à Brasília estudar no esquema de internato para se tornar oficial. Quando regressou a Campo Grande, no ano de 2006, desempenhou diversas atividades, inclusive a de "professora". "Cuidava do planejamento dos cursos e também fazia instrutoria. Ser responsável pelas atividades de ensino foi algo que sempre gostei e fiquei honrada quando, no ano passado, fui convidada para ser subdiretora da academia".

Sobre a coincidência do seu evento de assunção ao cargo na Academia de Bombeiros Militar de MS ter sido na última segunda-feira (8), quando também se celebrou o Dia Internacional da Mulher, major Marlise opina: "quando a gente cria uma data especial com essa é porque a sociedade ainda não entende completamente a situação. Temos que relembrar o dia anualmente até quando não for mais preciso, quando a mulher – em toda a sua complexidade e potencial –, enfim, seja naturalizada na vida cotidiana", finaliza.

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