Por paradoxal que possa parecer, o que manteve Dilma no governo até agora foi o fato de seu governo não ter obstruído a Lava-Jato. Nem mesmo para salvar os membros do PT. O governo ou os "companheiros", foi a decisão colocada à sua frente. E os governantes preferiram continuar governando. A polícia federal e os membros da Lava-Jato se aproximam de Lula e de seus familiares. Fica a indagação se a mesma decisão permanecerá.
Todavia, o que colaborou decisivamente para a manutenção de Dilma no poder é o mesmo fator que determina sua incapacidade de governar: a Lava Jato. Quando o procurador-geral da república, Rodrigo Janot, ungido por Dilma e engolido a fórceps pelo Senado, confirmou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tinha "contas enlatadas" na Suíça. Janot transformou, na prática, sem pensar, a Câmara de Deputados na sede nacional do impeachment. A Câmara pertence a Cunha e a seus desígnios. A sequência do processo mostrou que Cunha já tinha, há muito tempo, as cartas na manga para embaralhar o jogo de sua cassação. Ele continua a deter uma folgada maioria de parlamentares à sua disposição, para impedir qualquer tentativa, no âmbito interno, de defenestrá-lo do poder. Cunha é o capitão do time do impeachment, queiram ou não aceitá-lo.
É bem verdade que o governo de Dilma não merece ser defendido. Mesmo porque não existe como governo. Mas, há algo que passa despercebido para muitos: com a continuidade, sem limites, da Lava-Jato, não existirá estabilidade no Congresso. E a Casa de Leis do país sempre responderá, à sua instabilidade, com a criação de uma grande instabilidade no Executivo. Ninguém sabe, nem mesmo seus operadores em Curitiba ou em São Paulo, até onde alcançará a foice do Judiciário. Somente daqui a muitos anos, quando se delinear o imenso quadro geral de implicados que teremos alguma estabilidade. E não importa se Temer assumirá ou não. Como não importa se Aécio poderá concorrer, proximamente às eleições, com a possibilidade do TSE cassar Dilma e Temer. A instabilidade governamental permanecerá.
A grande causa que está sendo disputada não é um governo. Nem mesmo o mandato de Dilma (uma diminuta causa). Trata-se de decidir se os fins justificam os meios, que é sempre verbalizado pelos políticos como "ser pragmático". Trata-se de como um vereador consegue vencer as eleições e dispor de seu mandato, no menor município do país. Ou os prefeitos de quase todas as cidades, deputados estaduais, federais, senadores e governadores. Não parece, mas 90% dos políticos do país estão com seus mandatos sob os desígnios da guilhotina, em risco. Vivemos em uma esquina da história nacional que não se repetirá nos próximos 100 anos.
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