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"O que aconteceu com Naiara e Wellington?", pergunta Neuza há longos 12 anos

Ao Campo Grande News, mãe apela para que suspeito do crime, o "Maníaco do Segredo", volte a ser investigado

Há 12 anos, Neuza Ribeiro Lucas dorme e acorda sem saber o que foi feito da filha. (Foto: Kísie Ainoã) Há 12 anos, Neuza Ribeiro Lucas dorme e acorda sem saber o que foi feito da filha. (Foto: Kísie Ainoã)

Mais de 4,5 mil dias, ou a idade de um pré-adolescente. O tempo de uma jovem  vida, uma eternidade para quem vive na dúvida, na angústia. “O que aconteceu com Naiara?” A dona de casa Neuza Ribeiro Lucas, de 53 anos,  vive desde 8 de fevereiro de 2009 com essa indagação. Dorme e acorda com ela. Não há sossego para quem vê seus filhos irem, sem nem saber como.

Naiara Ribeiro Lucas, uma das três filhas de Neuza, sumiu naquela madrugada, aos 17 anos, quando foi encontrar às escondidas o namorado, Wellington Afonso dos Santos Aguero , de 14 anos. Os dois nunca mais foram vistos.

A única notícia efetiva das investigações policiais foi a localização dos aparelhos celulares dos jovens, enterrados no quintal da casa de José Leonel da Silva, 40 anos, o “Maníaco do Segredo”, hoje preso justamente por ataques a casais, na região onde a família morava, no Bairro Nova Lima.

Com penas a cumprir até 2032 por roubo e estupro, João Leonel nunca respondeu nem por estar com os telefones de Naiara e Wellington. Também não figurou como réu pelo sumiço do casal, apesar da evidência encontrada, como mostrou o Campo Grande News em reportagens recentes.

A palavra da mãe - “Eu tinha esperança de que eles estivessem vivos. São mais de 11 anos, com a tecnologia que a gente tem, é impossível”, resigna-se a moradora do bairro Bonança, região sul de Campo Grande, região oposta de onde a família morava quando Naiara desapareceu, no norte da cidade.

“Eu quero pelo menos pegar os restos mortais da minha filha e ter paz, enterrar se ela estiver lá”, afirma Neuza à reportagem, depois de ver as publicações sobre o “Maníaco do Segredo” e pedir para falar do assunto tão doloroso. “Se eu me calar, é pior”.

“Minha filha não era bandida, marginal, tinha todos os princípios de uma família. O erro dela foi se encontrar por onde ele passava, esse João Leonel”, desabafa.

“Enquanto eu estiver força de vida eu vou lutar pela minha filha. Já estamos baqueados, eu e meu marido, já não temos forças”, comenta ao lembrar quanto tempo de espera por uma resposta, pelo direito de despedir-se com dignidade de Naiara, de guardar a memória da filha com o zelo merecido.

“Queria que as autoridades fossem lá para pelo menos tirar a dúvida e acalmar o coração da gente. Não pode duas pessoas desaparecerem assim”, afirma Neuza sobre o quintal da casa de João Leonel nunca escavado com profundidade, na Rua Cândido Garcia Lima. O imóvel fica bem perto da  Rua Nefe Pael, de onde Naiara sumiu, no ponto de ônibus na frente do imóvel onde a família vivia.

Descaso - “Olhando para trás, vejo que a família foi humilhada pelas autoridades, não deram atenção, não buscaram por mais evidências e deixaram passar alguma coisa”, tem certeza. “Se acharam os celulares enterrados na casa do João Leonel, alguma coisa a mais tinha lá. Os dois celulares, não é nem um, são dois!, indigna-se. O aparelho de uma amiga de Naiara, deixado com ela no dia, também estava enterrado no mesmo local.

“Tem alguma coisa ali”, acredita a dona de casa.

O apelo da mãe - “Eu acho que minha filha não está viva. Até um tempo atrás eu pensava que sim, mas temos que voltar à realidade. Dois jovens, passa um doido, rende eles, deve ter levado pra casa dele. Não tem como mais ter esperança”, se entristece a dona de casa.

"Queria que as autoridades tivessem mais atenção. Eu sei que já arquivou, mas queria que dessem um jeito”, apela.

“Desejo justiça, para que tudo isso passe”, sintetiza.

Neuza sobreviveu a um pesadelo duplo, quando a filha não apareceu mais. Tinha acabado de perder a mãe para o câncer.

“Hoje me sinto mais forte para reagir, mas antes não”, revela na conversa. “Se ele fez isso com os meninos, quero que eles vão atrás, que a verdade apareça”, pede mais uma vez.

A memória da mãe – Coração de mãe não se engana, diz a máxima popular. Neuza, depois de ver as reportagens do Campo Grande News, decidiu suplicar - não há outra palavra para definir - por uma investigação de verdade.

Para ela, como já foi dito, é preciso descobrir o que aconteceu e garantir um lugar de respeito para a filha no pós-morte.

Na lembrança da dona de casa, esse lugar já existe e está bem marcado.  “Uma menina sorridente, alegre, não tinha preguiça, era muito estudiosa, pretendia estudar mais, tínhamos planos para comprar uma moto para ela ajudar o pai, ela sempre ajudava...”

Vai reabrir – O caso foi investigado pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente). Foi arquivado em 2015, por falta de provas, mas apode ser reaberto até 2029, pois é quando prescreve o crime de homicídio, que as investigam indicam ter acontecido.

Ao Campo Grande News, a atual delegada titular da Depca, Marília de Brito, informou a intenção de pedir à justiça à reabertura das apurações.  Para isso, disse, sem detalhamento, está sendo criado um caminho que permita ter elementos significativos para a retomada da investigação.

Da mesma forma que a família de Naiara, a de Wellington foi procurada, mas pediu para ser preservada e não falar neste momento.

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