Para parte dos moradores de Ladário, o prefeito Iranil de Lima Soares “pesou na mão” ao baixar decreto convocando a população para 21 de oração e 1 dia de jejum. A normativa entrou em vigor nesta segunda-feira (18), data que, portanto, ladarenses deveriam começar a formar o “cerco espiritual” pedindo proteção divina para combater a pandemia do novo coronavírus na cidade.
O chefe do Executivo municipal defende que o decreto tem apoio popular e afirma que “as críticas vieram de adversários políticos”. Ele ainda marcou transmissão ao vivo para quarta-feira (20), às 5h30, quando ele, que é pastor batista, conduzirá orações ao lado de um padre.
O Campo Grande News conversou com moradores por telefone. Os entrevistados, escolhidos aleatoriamente por meio dos números fornecidos na internet, são quase unânimes em dizer que não condenam a reza como forma de alento e pedido de proteção, mas não acham que a convocação deveria partir do prefeito.
“Não custa orar. Tomando os cuidados e acreditando em Deus, a gente ter força para passar por essa pandemia”, afirma a auxiliar de contabilidade, Célia Regina, de 47 anos. Ela diz que, contudo, fará as próprias orações. “Ele é evangélico, sou católica”, explica.
Atendente de farmácia, Sandro Amorim, 39 anos, acha que o decreto um “exagero”. “Cada faz sua oração, do seu jeito”. Ele também frequenta a Igreja Católica.
A assistente administrativa Rose Freitas, 30 anos, compartilha da mesma opinião. “Não devia ser por decreto, ele tinha de focar em medidas de combate mesmo, porque oração, cada um faz a sua”.
Católicos - Dom João Bergamasco, bispo da diocese de Corumbá, afirma que católicos já seguem uma série de rituais religiosos, desde o início da pandemia. “Ninguém está proibido de fazer jejum e oração. Mas, já vínhamos fazendo e vamos continuam fazendo após a pandemia. Não só aqui, mas no mundo inteiro. O papa já fez convites para jejum e oração”.
O bispo afirma que, contudo, o papel do prefeito é administrativo e não de dar orientação religiosa. “O prefeito, quando faz um decreto como este, mostra a fragilidade administrativa dele. Isso não compete a um prefeito, mas às igrejas. Cada um tem papel na estrutura social, mesmo que seja gestor que é pastor”.
Evangélicos - O chefe do Executivo municipal tem apoio dos colegas evangélicos. Pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular do Bairro Boa Esperança, Marise Souza Rodrigues, de 57 anos, defende: “oração nunca é demais”. “Não vi nada demais, ali é voluntário. Nossa cidade, o Estado e o País estão precisando de muita oração. São muitas pessoas morrendo. A gente acredita na Medicina, mas a nossa fé em Cristo é de que ele pode nos guardar e livrar da pandemia”.
Ela afirma que os fiéis da comunidade evangélica deve seguir a orientação municipal. “Já compartilhei com a minha comunidade e vamos acompanhar”.
O prefeito – A reportagem não conseguiu entrevista com o prefeito, que falou via assessoria de imprensa. Iranil Soares argumenta que “o decreto não é impositivo e não traz nenhuma ofensa a qualquer religião”. “Intenção foi pedir às pessoas que acreditam em Deus para orar pela cidade durante 21 dias”.
O chefe do Executivo informou ainda que consultou a base aliada antes de baixa o decreto e não acredita que outras medidas de combate ao coronavírus sejam deixadas de lado por moradores. “Não há conflito com a Ciência, já que outras medidas de prevenção foram feitas na cidade, como uso obrigatória de máscaras, toque de recolher, comércio com regras de prevenção, assim como academias e feiras livres”.
A assessoria de imprensa da prefeitura informou ainda que a Guarda Municipal e Vigilância Sanitária estão de olho no cumprimento de medidas de higiene.
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