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Oração nunca é demais, mas baixar decreto é exagero, dizem católicos em Ladário

Por meio de decreto que entrou hoje em vigor, prefeito convocou moradores para 21 dias de orações

Avenida 14 de Março em dia de pouco movimento em Ladário (Foto: Diário Corumbaense) Avenida 14 de Março em dia de pouco movimento em Ladário (Foto: Diário Corumbaense)

Para parte dos moradores de Ladário, o prefeito Iranil de Lima Soares “pesou na mão” ao baixar decreto convocando a população para 21 de oração e 1 dia de jejum. A normativa entrou em vigor nesta segunda-feira (18), data que, portanto, ladarenses deveriam começar a formar o “cerco espiritual” pedindo proteção divina para combater a pandemia do novo coronavírus na cidade.

O chefe do Executivo municipal defende que o decreto tem apoio popular e afirma que “as críticas vieram de adversários políticos”. Ele ainda marcou transmissão ao vivo para quarta-feira (20), às 5h30, quando ele, que é pastor batista, conduzirá orações ao lado de um padre.

O Campo Grande News conversou com moradores por telefone. Os entrevistados, escolhidos aleatoriamente por meio dos números fornecidos na internet, são quase unânimes em dizer que não condenam a reza como forma de alento e pedido de proteção, mas não acham que a convocação deveria partir do prefeito.

“Não custa orar. Tomando os cuidados e acreditando em Deus, a gente ter força para passar por essa pandemia”, afirma a auxiliar de contabilidade, Célia Regina, de 47 anos. Ela diz que, contudo, fará as próprias orações. “Ele é evangélico, sou católica”, explica.

Atendente de farmácia, Sandro Amorim, 39 anos, acha que o decreto um “exagero”. “Cada faz sua oração, do seu jeito”. Ele também frequenta a Igreja Católica.

A assistente administrativa Rose Freitas, 30 anos, compartilha da mesma opinião. “Não devia ser por decreto, ele tinha de focar em medidas de combate mesmo, porque oração, cada um faz a sua”.

Católicos - Dom João Bergamasco, bispo da diocese de Corumbá, afirma que católicos já seguem uma série de rituais religiosos, desde o início da pandemia. “Ninguém está proibido de fazer jejum e oração. Mas, já vínhamos fazendo e vamos continuam fazendo após a pandemia. Não só aqui, mas no mundo inteiro. O papa já fez convites para jejum e oração”.

O bispo afirma que, contudo, o papel do prefeito é administrativo e não de dar orientação religiosa. “O prefeito, quando faz um decreto como este, mostra a fragilidade administrativa dele. Isso não compete a um prefeito, mas às igrejas. Cada um tem papel na estrutura social, mesmo que seja gestor que é pastor”.

Evangélicos - O chefe do Executivo municipal tem apoio dos colegas evangélicos. Pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular do Bairro Boa Esperança, Marise Souza Rodrigues, de 57 anos, defende: “oração nunca é demais”. “Não vi nada demais, ali é voluntário. Nossa cidade, o Estado e o País estão precisando de muita oração. São muitas pessoas morrendo. A gente acredita na Medicina, mas a nossa fé em Cristo é de que ele pode nos guardar e livrar da pandemia”.

Ela afirma que os fiéis da comunidade evangélica deve seguir a orientação municipal. “Já compartilhei com a minha comunidade e vamos acompanhar”.

O prefeito – A reportagem não conseguiu entrevista com o prefeito, que falou via assessoria de imprensa. Iranil Soares argumenta que “o decreto não é impositivo e não traz nenhuma ofensa a qualquer religião”. “Intenção foi pedir às pessoas que acreditam em Deus para orar pela cidade durante 21 dias”.

O chefe do Executivo informou ainda que consultou a base aliada antes de baixa o decreto e não acredita que outras medidas de combate ao coronavírus sejam deixadas de lado por moradores. “Não há conflito com a Ciência, já que outras medidas de prevenção foram feitas na cidade, como uso obrigatória de máscaras, toque de recolher, comércio com regras de prevenção, assim como academias e feiras livres”.

A assessoria de imprensa da prefeitura informou ainda que a Guarda Municipal e Vigilância Sanitária estão de olho no cumprimento de medidas de higiene.

 

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