Uma internação para se tratar da covid-19 pode custar o pé de um paciente de 39 anos com paralisia infantil, que corre o risco de ter o membro amputado diante de um grande ferimento que se formou no local e que só piora, um dia após o outro. O caso aconteceu no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande.
O paciente é Fabio Aparecido de Assis, que sofreu paralisia infantil com dois anos e desde então não se locomove sozinho e nem fala. Quem denuncia a situação é a irmã dele, Fabiana de Assis Marcucci, de 34 anos. "Ele só consegue resmungar, mais nada", explica sobre a condição de dependência do irmão, cinco anos mais velho.
Fabiana conta que na semana retrasada o irmão apresentou febre e aparente falta de ar, sendo levado direto para o Hospital Regional, onde foi diagnosticado com covid-19. Lá, ele ficou uma semana internado em leito clínico, sendo liberado dia 17.
"Dia 17 à tarde meu tio foi buscá-lo e a enfermeira falou que ele tinha sofrido uma queimadura durante um exame, sendo esquecido em uma máquina lá. Mas ela falou que era algo de menor gravidade, simples, e liberou ele apenas com uma faixa no pé. Meu tio veio embora e só fomos descobrir depois", revela Fabiana.
A irmã de Fabio também conta que seu o ferimento só foi descoberto no dia seguinte, quando seu tio foi dar banho no rapaz. "Vimos que era grave e levamos ele de volta para o Hospital Regional, dia 18. Ele voltou a ser internado e não saiu mais", frisa.
Amputação - De acordo com Fabiana, a família foi informada por um médico hoje que o problema no pé de seu irmão foi causado por uma doença pré-existente e que encontrou espaço para eclodir a partir da fragilidade do corpo de fácil durante a covid-19.
Ainda segundo a irmã, foi dado a opção de tentar um enxerto no pé, usando partes dos glúteos de Fabio. Contudo, ela avalia que, como seu irmão passa quase todo o tempo sentado por causa da paralisia infantil, ele não ia conseguir se recuperar corretamente da cicatrização da cirurgia. A outra opção dada foi a da amputação do membro.
"Como não conseguimos ficar lá o tempo todo com ele, estamos fazendo até uma rifa para conseguir dinheiro e pagar alguém para ficar com ele no período da noite. De dia meu tio consegui acompanhá-lo", comenta Fabiana, ao falar sobre os cuidados especiais que seu irmão necessita. A família mora no bairro Caiobá, próximo ao hospital.
O outro lado - A reportagem do Campo Grande News entrou em contato com o Hospital Regional através da assessoria de imprensa, questionando sobre o suposto esquecimento do paciente em uma máquina - a família afirmou não saber que máquina seria essa, nem o nome dos profissionais envolvidos - durante o exame.
Em resposta, o hospital se resumiu a afirmar que não repassa informações pontuais à imprensa sobre pacientes por questões de sigilo médico/paciente - mesmo que o contato expondo a situação tenha partido da família do paciente.
"Reiteramos que todos os casos assistenciais se pautam em ditames éticos", encerra a nota, que antes ainda faz orientação para que a família da Fabio procure a ouvidoria do Hospital Regional para formalizar a queixa e buscar respostas sobre o caso.
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