Mesmo não tendo uso regulamentado, retardantes de fogo poderiam conter com mais rapidez as chamas que consomem o Pantanal tanto em Mato Grosso quanto e Mato Grosso do Sul e terem evitado que a destruição chegasse ao ponto que está. É o que defende o engenheiro florestal e professor da UFMS (Universidade Federal de MS) em Chapadão do Sul, Alexandre Beutling, especialista em avaliação e desenvolvimento de retardantes químicos.
Para ele, que estuda esse tipo de produto desde 2006, os riscos ao meio ambiente são mínimos e o que realmente pesa no debate é a falta de regulamentação do produto, que não pode ser considerado nem um fertilizante e nem um agrotóxico, mesmo levando em sua formulação componentes semelhantes de ambos, mas em concentração distinta.
“Há vários retardantes, cada um deles de diferentes tipos de eficiência e de uso em diferentes equipamentos”, disse, explicando que grande parte desses produtos são feitos de nitrogênio e fósforo.
Segundo o professor, o estrago já registrado no bioma não precisaria ter chegado ao extremo que está caso retardantes tivessem sido usados. “Todo e qualquer tipo de incêndio começa com uma fagulha e se você dá condição de combate no começo, não vai ter todo esse impacto que estamos vendo agora”, avalia.
Mesmo assim, ele afirma que a normatização do uso é necessária, porque atualmente, não há lei ou resolução que permita e nem mesmo que proíba a utilização desses produtos no combate ao fogo. “Precisa (de regulamentação), porque tudo precisa, desde uma cerveja precisa estar enquadrada em normas”, sustenta.
Ele lembra, inclusive, que debates sobre a regularização já foram feitos entre 2009 e 2010, sendo retomados em 2018, mas nunca concluídos. Com isso, o Ibama (Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) emitiu, há dois anos, uma nota técnica sobre o uso desses agentes, autorizando-os em situações críticas.
No entanto, como já foi divulgado, fez ressalvas, recomendando que após ser aplicado, deve-se suspender “o consumo de água, pesca, caça e consumo de frutas e vegetais na região exposta ao produto pelo prazo de 40 dias”. Beutling afirma que os próprios produtos fazem essa ressalva, e que para o meio ambiente, os retardantes “têm menos impacto que detergente de louça”, compara.
“Os laudos dos próprios produtos traduzem o nível de impacto ambiental e em princípio, têm uma documentação bem bacana, que não precisa de tanto alarde. Todas essas substâncias são diluídas em água, em concentrações que variam de 15% a 17% para serem lançadas na frente de fogo. Como é diluída em água, acaba sendo lançada em baixas concentrações e espalhadas em área relativamente grande”, pondera.
Além disso, ele diz que o próprio fogo reduz o impacto do produto. “Os retardantes acabam entrando em contato com o fogo e se degradam termicamente, perdendo seu efeito mais rápido”, explica, enfatizando que “o produto se biodegrada em 30 dias e se chover, isso ocorre ainda mais rápido e em menor tempo.”
Não é a 1ª vez - Beutling lembra que um dos primeiros usos de grande impacto dos retardantes foi em 2008, quando fogo consumia a Chapada Diamantina, na Bahia. Na ocasião, foram usados 182 mil litros da mistura de água mais retardantes. O especialista lembra ainda que foi um esforço conjunto de várias frentes de combate para debelar o fogo.
Desde 1960, pelo menos, fala-se de retardantes de fogo no Brasil e pequenos usos, inclusive para testes, são comuns em todo País, conforme o professor.
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