O pesquisador brasileiro Raul Bardini Bressan teve artigo publicado no renomado periódico científico on-line Development. Bolsista de doutorado pleno no exterior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação, Bressan descreve, no artigo, a implementação de tecnologia específica para edição genômica de células-tronco neurais e o uso desse método para estudos de tumores cerebrais.
No projeto de doutorado, na Universidade de Edimburgo, Escócia, Bressan investiga o papel de determinadas mutações genéticas em tumores cerebrais. "Meu foco específico é um tipo de tumor altamente agressivo e letal, que afeta crianças e jovens por volta de 5 a 15 anos de idade, chamado glioblastoma pediátrico", explica. "Até o momento, não existem terapias eficazes para tratar esse tipo de tumor, e a maior dificuldade para o estudo da doença é a falta de modelos experimentais."
A publicação, de acordo com Bressan, tem como principal objetivo estabelecer uma tecnologia conhecida como Crispr/Cas9 para engenharia genômica de células-tronco neurais. "Tais células, durante o desenvolvimento, dão origem ao nosso sistema nervoso central, mas em alguns casos são responsáveis também pela formação de tumores cerebrais", afirma. "As técnicas que desenvolvemos nos permitem agora inserir mutações no DNA dessas células e recriar no laboratório esse tipo de tumor."
O pesquisador salienta que dessa forma é possível entender melhor o papel de cada uma das mutações gênicas. "Bem como desenvolver e testar drogas que possam ser mais eficazes para o tratamento da doença, que é o objetivo do meu último ano de pesquisa de doutorado", diz.
O artigo descreve métodos úteis e eficientes para o estudo de células-tronco neurais e que podem ser implementados por diversos laboratórios, mesmo aqueles com recursos limitados e sem acesso a equipamentos de alta tecnologia. "Tais métodos podem ser aplicados não apenas para o estudo de tumores cerebrais, mas de diversas outras doenças que afetam o desenvolvimento do sistema nervoso central, tal como a microcefalia causada pelo zika vírus", diz Bressan. "Nesse caso, as técnicas que desenvolvemos podem ser usadas, por exemplo, para entender melhor as causas da microcefalia, bem como para desenvolver formas de atenuar ou reverter os efeitos da infecção viral."
Bressan admite que o curso de doutorado no exterior tem proporcionado aprendizagem e crescimento como cientista. O Centro de Medicina Regenerativa da Universidade de Edimburgo é uma referência mundial e conta com vários cientistas renomados na área de pesquisa com células-tronco. "Tenho a oportunidade aprender e colaborar com profissionais altamente capacitados, o que certamente se reflete na qualidade do artigo e no projeto que venho desenvolvendo", destaca. "Espero em breve poder retribuir os investimentos do programa Ciência sem Fronteiras e usar esse conhecimento e a rede de contato adquiridos para contribuir com o desenvolvimento científico do Brasil."
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