O prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues, sancionou leis encerrando polêmica e atendendo abaixo-assinado de cerca de 200 moradores que solicitava homenagem a dois personagens conhecidos como pioneiros do desenvolvimento da Rodovia do Turismo, por onde passam mais de 200 mil turistas por ano. Projeto de lei do vereador Irso Casanova foi transformado nas Leis 1.726/2024 e 1.727/2024, e dá nome a duas pontes nas extremidades da conhecida rodovia.
A ponte sobre o Córrego Bonito, onde começa a Rodovia do Turismo, e antes conhecida como Ponte do Saci ou do Mateus, passa a ser chamada de “Ponte Professor Waldemar Martins”. Já a ponte sobre o Rio Formoso (conhecida como Ponte do Hormínio), em outro extremo da mesma rodovia, numa extensão de 9,7 km até o seu final, passa a se chamar “Ponte Rosita Ovando Rodrigues”.
A homenagem aos dois precursores do turismo resgata uma fase importante do processo de consolidação de Bonito como capital do ecoturismo brasileiro, há duas décadas e meia.
Primeira área de turismo de lazer, o lugar onde morou dona
Rosita Ovando Rodrigues fica ao lado da ponte que leva seu nome. Ela nasceu em 1927 em Bonito, quando o município ainda se chamava “Rincão Bonito”. Morou a maior parte da vida no Recanto Poliana e foi a primeira área de camping na região, onde recebia moradores do médio e baixo Rio Formoso, além de turistas. Ali era uma parada obrigatória de viajantes que percorriam as vias de acesso, precárias à época. Foi Dona Rosita que, sabendo das dificuldades de acesso às escolas pelos filhos dos moradores resolveu ceder uma área posteriormente conhecida como Ilha do Padre, para a construção de uma igreja e uma escola aos filhos e moradores daquela região ainda distante do centro da cidade. A Ilha do Padre depois se transformou no Eco Park Porto da Ilha, hoje um dos atrativos mais visitados de Bonito.
Energia – Primeira obra de infraestrutura
Em frente ao Eco Park Porto da Ilha foi construído o primeiro hotel-fazenda, inaugurando o turismo rural e o turismo de natureza na região. O “Rio Formoso Hotel Fazenda", empreendimento que há 25 anos teve importância fundamental para o desenvolvimento do turismo contemplativo na região da Rodovia do Turismo. O professor Waldemar Martins, ambientalista, junto com o filho João Bosco de Castro Martins, foi o precursor do turismo rural, nos anos 1990, e defensor intransigente da preservação e conservação dos principais mananciais de Bonito, em especial o Rio Formoso.
A rede de energia foi, à época, o vetor de todo o processo de desenvolvimento do turismo na região. Embora tenha sido um investimento pessoal, destaca-se o desprendimento do professor e ambientalista Waldemar Martins em fazer a doação da benfeitoria à concessionária estadual de energia, a Enersul, hoje integrada ao sistema elétrico da Energisa. A rede permitiu a instalação e expansão de outros atrativos turísticos, constituindo-se na primeira obra de infraestrutura da Rodovia do Turismo. Por iniciativa do professor Waldemar Martins, o primeiro abaixo-assinado entre os chacareiros da região, entregue à época ao então governador José Orcírio Miranda dos Santos (1999-2006), foi o projeto de asfaltamento da rodovia denominada “Ilha do Padre”, posteriormente tendo seu asfalto iniciado durante a gestão do ex-governador Reinaldo Azambuja (2025-2023) e que será entregue este ano pelo seu sucessor governador Eduardo Riedel (2023-2026).
A Rodovia do Turismo
O esforço dos precursores Rosita Ovando Rodrigues e o professor Waldemar Martins acabou coroado com a maior obra de infraestrutura na região do Rio Formoso – a pavimentação da estrada, tornando acessível os atrativos, dando visibilidade às belezas naturais, contribuindo decisivamente para a expansão e consolidação do turismo, a principal atividade econômica de Bonito.
A pavimentação foi pensada para melhorar o acesso aos pontos turísticos e dar segurança ao fluxo de visitantes. São quase 10 quilômetros de asfalto, entre o Córrego Bonito e o Rio Formoso, com ciclovia, sinalização moderna e as duas pontes revitalizadas e que agora foram objeto de justas homenagens aos precursores.
Foram investidos mais de R$ 47 milhões na obra de pavimentação, das pontes e benfeitorias complementares. “É uma obra que assegura acessibilidade, facilita e dá conforto aos visitantes que a cada ano chegam em número cada vez maior”, destaca o governador Eduardo Riedel.
Sobre a ponte, que leva o nome de dona Rosita, ainda em fase de projeto em contrução, o secretário de Infraestrutura e Logística do Estado, Hélio Pelufo, destacou o cuidado da engenharia em moldar estrutura mista de concreto e aço com apoio somente nas extremidades, para que não haja apoio no leito dos rios, que devem ser preservados. “Os mananciais são os maiores patrimônios de Bonito”, diz Pelufo.
Abraçar a natureza é cuidar do amanhã
A denominação de duas pontes que marcam a história de Bonito, além de se constituir em justo reconhecimento a dois personagens que contribuíram com o desenvolvimento do turismo em Bonito, demonstra como iniciativas simples são capazes de construir e moldar a consciência de gerações futuras. Isso porque mostra que a natureza é o bem maior e basta abraçá-la para usufruir do seu imensurável benefício. O professor Waldemar Martins e dona Rosita Rodrigues fizeram isso e o presente que se vive hoje nada mais é que o resultado do abraço à natureza.
É por isso que a vida dos dois homenageados com seus nomes dando nome à antiga ponte do Saci, no início da Rodovia do Turismo, e a ponte no alto “Formosão”, chega como comovente exemplo da relação humana com o seu meio.
Sérgio Ferreira Gonzalez, o Sérgio da Gruta, personagem antológico de Bonito, conheceu o professor Waldemar Martins e dona Rosita Rodrigues e vê a homenagem como um gesto histórico na perpetuação de suas memórias com a denominação das pontes.
Ele lembra que a velha ponte sobre o Rio Formoso foi construída na década de 1970 por Afonso Ferreira. “Conheci o professor Waldemar plantando árvores na area já bastante arborizada que adquriu do Jaime Panizza, outro ambielista como ele.”, diz Sérgio da Gruta. “Sua chegada por aqui fez a diferença, construiu o primeiro hotel fazenda e mesmo em uma região bastante arborizada, com uma mata nativa densa, o professor Waldemar sempre estava preocupado em plantar. Plantou uma variedade grande de árvores nativas, não se cansava de fazer isso. Lembro-me muito bem quando chegou por aqui, ele e seu filho Bosco. Essa paixão pelo plantio de árvore contaminou a todos, até o Zé Trovão e a Ana Raia (personagens de novela da Globo interpretados por Almir Sater e Ingra Liberato) plantaram mudas de ipê roxo e ipê amarelo. Seo Waldemar era um amante da natureza, viveu abraçado a ela”.
O vereador Irson Casanova foi o autor da proposta de dar nome de Waldemar e Rosita às duas pontes nos extremos da Estrada do Turismo, obra que consolida o ciclo de afirmação da cidade como um dos principais destinos ecoturísticos do Brasil. Ele lembra que Rosita Ovando Rodrigues era uma pessoa extremamente solidária, capaz de abrigar e dar atenção a todos, “uma pessoa acolhedora e despojada”, que enfrentou todo tipo de dificuldade da estrada cascalhada e cheia de buracos provocados pelas chuvas. “Era a mãe dos bonitenses”, lembra Casanova, cuja mãe dona Morena foi amiga de dona Rosita e destacando que seus filhos ainda habitam a região.
Ramona Vieira de Souza, filha de Raída, ultima companheira do bandoleiro Silvino Jacques, reverenciada na Casa de Memória mantida pela filha, também traz à lembrança os momentos em que conviveu com os dois. “Dona Rosita era uma pessoa meiga, amiga de todo mundo”, diz. “O professor Waldemar tinha uma visão de futuro, ajudou muita gente a estudar”.
Os filhos de Rosita, Paulina, Constância e Eleutério Rodrigues, dizem estar comovidos pelo resgate da memória da mãe, que nasceu e criou os filhos na região das famosas cachoeiras da antiga Ilha do Padre. Eles lembram também que perto da ponte do Saci, que passou a ser chamada ponte professor “Waldemar Martins”, sobre o córrego Bonito e no início da Rodovia do Turismo, era um cemitério, onde está sepultado o corpo de Luiz da Costa Leite Falcão, fundador da cidade. Cidadão bonitense e
filho que sempre esteve ao lado do pai trabalhando na preservação do Rio Formoso, o jornalista Bosco Martins fala da admiração pelo pai como um plantador de árvores, que junto com dona Rosita, mostrou como atitudes simples são capazes de humanizar o mundo.
"Penso que meu pai e dona Rosita se inspiraram em acontecimentos verdadeiros da população bonitense, para construírem uma história que contribuiu para a transformação das pessoas com atitudes e generosidade sem tamanho. Eles buscavam do nada a solução para todo tipo de problema ou acolher o pedido de ajuda das pessoas e da comunidade, valorizando os moradores e os recursos naturais de Bonito. Muito justa a homenagem”, finalizou emocionado.
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