Aos 55 anos, Francisca Vieira da Silva, foi a primeira a morrer do novo coronavírus na cidade de Naviraí, a 363 Km de Campo Grande. Com diversas comorbidades, ela foi internada para tratar um problema no coração e acabou infectada com a doença. Segundo a família, Francisca se infectou na Santa Casa do município.
A família revela ainda muita “confusão” no diagnóstico, com resultados negativos para covid-19 e o que deu positivo, saindo apenas um dia depois do sepultamento, depois de filhos, netos e outros familiares se despedirem com beijos e abraços de Francisca.
Pelo menos 40 pessoas participaram do velório, que durou duas horas. Familiares do Paraná também vieram.
Em isolamento, Camila Daiene Silva de Oliveira, 26 anos, a filha caçula de Francisca, conta que o velório seguiu trâmites “normais” e sem os cuidados habituais quanto a distanciamento e fechamento do caixão porque não havia resultado positivo para covid-19.
“O velório foi aberto, porque o resultado só saiu um dia depois. Agora, é certeza que estamos com medo, veio gente de fora, todos fomos expostos, abraçamos, beijamos, é nossa mãe, afinal, mãe é mãe”, sustentou, lembrando que a mãe dela passou por dois testes rápidos, que não detectaram a doença, que só foi confirmada um dia depois com o resultado do teste molecular.
Portadora de doença cardiovascular crônica, pneumopatia crônica e diabetes, Francisca foi internada na Santa Casa de Naviraí com problemas no coração em 14 de junho, foi liberada e voltou a ser internada em 19 de junho e encaminhada para o Hospital de Vida, em Dourados, falecendo na última terça-feira, 23 de junho.
Camila conta que o coração de sua mãe era fraco, batia devagar, “chegando a apenas 50 batimentos algumas vezes” e tinha o dobro do tamanho normal. Por causa disso, toda família já esperava que em algum momento, o quadro de saúde se agravasse. No entanto, a covid-19 pegou todos de surpresa e não seria exagero acreditar que precipitou o falecimento.
Sobre o fato da mãe ter se infectado na Santa Casa da cidade, Camila avalia que “ela não seria a primeira”, já que segundo ela, várias pessoas já se contaminaram no local e são pelo menos 22 profissionais de enfermagem já atingidos pela doença.
“Minha mãe era tudo pra mim. Sou a caçula, sempre morei com ela e cuidei dela”, revela a filha, que tem dois filhos e além deles e do marido, passará a morar também com irmão mais velho que é especial, Claudinei Vieira Santiago, de 43 anos, que era cuidado pela mãe. Francisca deixa sete filhos e filhas e ainda nove netos.
Sobre a situação, o gerente de saúde de Naviraí, Welligton Santussi, afirmou que pelo protocolo municipal em casos de mortes que não sejam por covid, decreto prevê velório de no máximo duas horas, com caixão aberto e máximo de 10 pessoas na capela.
Como não se sabia no dia do falecimento que Francisca tinha o novo coronavírus, as medidas de caixão lacrado e enterro imediato não foram adotadas. Ele explicou que o teste molecular foi feito por "desencargo", já que Francisca não teve sintomas específicos da doença.
"O teste rápido, identifica a infecção a partir do oitavo dia de contágio e o molecular, no terceiro. Então sabemos que ela estava entre o terceiro e o sétimo dia de contágio, por isso os exames deram negativo", explicou.
Diante disso, o secretário afirmou que todos os familiares e amigos que tiveram contato com o corpo de Francisca estão em isolamento. Os quatro parentes do Paraná foram enviados para suas casas em veículo do município, para evitar o transporte público rodoviário.
Com relação à possível infecção dela na Santa Casa do município, Santussi afirma que "é possível, mas não temos como afirmar", já que a cidade está em transmissão comunitária e familiares de Francisca, segundo ele, já haviam ficado em isolamento anteriormente por terem apresentado sintoma de covid.
Matéria editada às 9h32 para acréscimo de informações.
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