Imaginamos uma comunidade com dezenas de granjas para criação de suínos. Depois, multiplicamos esses locais por milhares de animais despejando diariamente os dejetos no meio ambiente, poluindo o solo, chegando até o lençol freático e contaminando a água que pode abastecer uma cidade ou pequenas propriedades rurais.
Aliado a isso, somamos uma grande quantidade de gás carbônico jogados na atmosfera. Já pensou?
Pois é, essa é uma cena ainda comum em muitas regiões do país, mas que já começa a mudar diante da busca pela produção de energia limpa e o cuidado ambiental.
Exemplo disso acontece em Toledo, no interior do Paraná, onde a Itaipu Binacional colocou em funcionamento no ano passado uma Central de Bioenergia.
Lá, esse tipo de resíduo é transformado em eletricidade capaz de abastecer 1,5 mil casas de médio porte diariamente.
Inaugurado no ano passado através de uma parceria entre o PTI (Parque Tecnológico Itaipu) e a CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis), o projeto realiza o tratamento de dejetos de 41 mil porcos, criados por 15 produtores da região e ainda comercializa a energia produzida para distribuição no sistema nacional.
A convite da Itaipu Binacional, o Dourados News esteve na planta de produção renovável e pôde acompanhar o processo para a transformação dos dejetos em energia.
A preocupação em relação ao destino desses resíduos teve início há alguns anos.
Com o intuito de cuidar do reservatório que abastece a água responsável pela produção da hidrelétrica de Itaipu, uma pesquisa foi desenvolvida para diminuir os impactos ambientais na região, considerada a maior produtora de suínos do país com aproximadamente 1,5 milhão de animais.
“A produção de proteína animal, se não tratada, impacta o meio ambiente. E Itaipu, como tem o reservatório, a água pode ser afetada caso o solo não seja tratado”, diz o presidente da CIBiogás, Rafael Gonzales.
Como funciona?
O ciclo começa através de resíduos coletados diariamente dos produtores rurais através de caminhões com bombas instaladas [parecidos com os utilizados nas cidades e conhecidos como limpa fossas].
Todo esse produto é depositado em três biodigestores, onde ficam acumulados por até 45 dias. “Neste período, as bactérias que já estão no afluente, consomem a matéria orgânica, reduzindo a carga orgânica e poluidora que poderiam prejudicar solo e água. Na transformação, se produz gás e, deste total, 60% é metano e 40% é CO2, que também pode ser utilizado na indústria”, explica Gonzales.
E é o metano que possui propriedades capazes de rodar o motor gerador que produz a energia elétrica. Ou seja, diferente da água na usina hidrelétrica, o rotor começa a se mover com o gás vindo desses biodigestores.
A medida, além de tornar sustentável, traz tranquilidade aos produtores em suas propriedades.
“A nossa preocupação é focada muito nos pequenos produtores que trabalham com a economia no limite. Ao coletar esses dejetos, resolve uma grande dor de cabeça para essas pessoas porque elas não precisam se preocupar se a lagoa [onde são acumulados os resíduos] transbordou, ou sofrendo com a fiscalização [por parte dos órgãos público]. Então resolve uma série de problemas ambientais e cria uma fonte de renda aos produtores”, afirma Massakito, coordenador de projetos P & D da assessoria de energias renováveis da Itaipu Binacional.
Para o presidente da CIBiogás, o retorno social dessas ações aos criadores de suínos é imediato, já que grande parte dos dejetos recolhidos são transformados em biofertilizantes.
“Retorno social é imediato. A partir do momento que a gente começa a coletar o dejeto na granja, há uma diminuição da dificuldade de operação [na granja]. Tem ainda o retorno ao produtor do ponto de vista do fertilizante. Como temos o biodigestor e ele passa pelo processo de biodigestão, a gente chama isso de ‘digestato’ que é rico em nitrogênio e fósforo potássio e pode ser aplicado no solo com melhor condição nutricional para as plantas”, pontuou Rafael Gonzales.
Novas fontes
Ainda na planta da CIBiogás, a ideia a partir do próximo ano é investir em outras ações dentro do complexo.
A principal delas, a fabricação do biometano para abastecer veículos que circulam pelas granjas coletando os dejetos suínos. Atualmente todos os caminhões utilizam óleo diesel.
“A partir do ano que vem, realizaremos investimentos no complexo para fazer o biometano, refinar o gás, chegar ao nível do gás natural [que é permitido] e conseguir fazer o abastecimento de veículos pesados (...) Nossos próprios veículos utilizados para transporte de resíduos serão transformados para o biometano, reduzindo assim o impacto ambiental na planta e na região”, relatou Rafael Gonzales.
Avanço nos resíduos sólidos
Em meio ao uso da proteína animal para a produção de energia, a Itaipu Binacional através de seus centros tecnológicos vem catalogando diversos meios capazes de transformar os mais diferentes tipos de resíduos.
De acordo com o presidente da CIBiogás, mais de 300 tipos já foram avaliados para produção do biogás.
*O repórter Adriano Moretto viajou a Foz do Iguaçu (PR) e Toledo (PR) a convite da Itaipu Binacional
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